26 de fev. de 2023

Perseguição: Agonia e Perigo

Marcos 13.14-23
A Realidade da Perseguição: Agonia e Perigo

Na mensagem anterior vimos três pontos centrais:

1. Jesus vai voltar para arrebatar sua igreja! Porém não sabemos o dia nem a hora, por isso devemos estar preparados como se hoje fosse o último dia de nossas vidas.

2. Quando ouvir falar de guerras, terremotos e fome, não se aflija, não são sinais que Jesus está voltando, mas mensagens para não esquecer que ele de fato voltará.

3. A única perseguição bíblica aos cristãos é por causa de sua fé em Jesus. Qualquer outra causa que motive perseguição, prisão e morte, são causas humanas.

No texto desta mensagem, Jesus antecipa algo do tremendo terror do cerco e a queda final de Jerusalém. Sua advertência foi que quando vissem os primeiros sinais disso, os habitantes deveriam fugir a tempo, sem guardar nem a recolher suas roupas ou buscar salvar seus bens.

Em realidade, o povo fez precisamente o contrário. Amontoaram-se em Jerusalém e a morte os alcançou em formas muito terríveis até para pensar nelas.

 

1. AGONIA: ABOMINAÇÃO NO ALTAR DO TEMPLO – v.14-20

A frase abominação assoladora/desoladora tem origem no livro de Daniel (Daniel 9:27; 11 :31; 12:11). A expressão hebraica significa literalmente a profanação que espanta. O templo judeu foi profanado em 167 a.c. pelo rei sírio Antíoco:

·        Tratou de eliminar a religião judaica e introduzir o pensamento grego e os costumes gregos;

·        Ele profanou o templo derramando sangue de porco sobre o altar principal, e estabelecendo um prostíbulo público nos átrios sagrados;

·        Diante do próprio Lugar Santo erigiu uma grande estatua do Zeus Olímpico e ordenou que os judeus a adorassem.

Também nas outras cidades de Judá erigiram-se altares. As frases a abominação da desolação e a profanação que espanta, originalmente descreviam o ídolo pagão e tudo o que o acompanhava, com que Antíoco tinha profanado o templo. A profecia de Jesus é que o mesmo vai acontecer outra vez.

E aconteceu quase literalmente no ano 40 D.C. Calígula era então imperador romano. Ele insistia em que era um deus. Ouviu que no templo de Jerusalém não havia imagens e projetou colocar sua própria estátua no Lugar Santo. Mas felizmente morreu em 41 d. C. antes de poder levar a cabo seu plano de profanação.

O que Jesus quer dizer quando fala da abominação desoladora? Nos dias de Jesus os homens esperavam não só o Messias, mas também esperavam a emergência de uma potência que seria a encarnação do mal, uma potência que reuniria a seu redor tudo o que estava contra Deus.

Paulo chamou a essa potência o homem do pecado (2Ts 2:3). O João do Apocalipse viu essa potência em Roma (Ap 17). O que Jesus estava dizendo era: "Algum dia, muito em breve, verão o mesmo poder encarnado do mal levantar-se em um intento deliberado de destruir ao povo e ao lugar Santo de Deus." Toma a antiga frase e a emprega para descrever as coisas terríveis que estavam por acontecer.

Finalmente, no ano 70 D.C. Jerusalém caiu ante o sítio do exército de Tito, que depois seria imperador de Roma. Os horrores desse sítio constituem uma das páginas mais negras da história. O povo da campina se amontoou em Jerusalém. Tito não teve outra alternativa que render a cidade por fome.

A questão se complicou pelo fato de que até em momentos tão terríveis havia seitas e facções dentro da própria cidade, Jerusalém estava em perigos de fora e de dentro.

Josefo relata a história desse terrível cerco no quinto livro das guerras dos judeus. Diz-nos que foram tomados 97.000 cativos e que 1.100.000 pessoas pereceram por lenta inanição ou pela espada.

Traça um quadro terrível de homens mastigando o couro de correias e sapatos, e conta a história estremecedora de uma mulher que matou e assou a seu filho, e ofereceu parte dessa terrível comida a alguns que lhe pediram de comer.

A profecia que Jesus fez dos dias terríveis que aguardavam Jerusalém se cumpriu completamente. Aqueles que procuraram segurança na cidade morreram por centenas de milhares, e só se salvaram os que seguiram seu conselho e fugiram às montanhas.

 

2. PERIGO: HEREGES ADULTERAM A VERDADE – v.21-23

Jesus estava bem consciente de que, antes de vir o fim, se levantariam hereges e tergiversadores da verdade. Não passou muito tempo antes, que a Igreja tivesse seus hereges. Cinco são as causas principais da heresia.

1. O desejo de construir uma doutrina a gosto do próprio povo. O salmista disse: "Disse o néscio em seu coração, 'Não há Deus'." Era um néscio moral. Sua declaração de que não há Deus se devia a que não queria que o houvesse. Se havia Deus, pior para ele. Portanto, eliminava a Deus de sua doutrina e de seu universo.

É a heresia do antinomianismo. Começa com o princípio de que a Lei foi abolida. Segue dizendo que não há mais que a graça. Então conclui o antinomiano: "continuemos pecando porque quanto mais pequemos, mais oportunidades daremos à maravilhosa graça de Deus para operar. O pecado é coisa boa, porque ele dá ocasião da graça operar".

A graça de Deus foi adulterada para agradar o homem que quer pecar. O homem adulterou a verdade para adequá-la a suas concupiscências. A heresia molda a verdade cristã aos caprichos do pecador.

2. A heresia surge de dar muita ênfase a uma parte da verdade. Se pensarmos só na santidade de Deus, nunca poderemos alcançar intimidade alguma com Ele. Se pensarmos só na justiça de Deus, nunca estaremos livres do medo. Se pensarmos só no amor de Deus, a religião pode converter-se em algo puramente sentimental.

No cristianismo sempre há um paradoxo. Deus é amor, mas é justiça. O homem é livre, mas está sob o domínio de Deus. O homem é uma criatura do tempo, mas também da eternidade.

3. A heresia surge de tentar produzir uma religião que se adapte às pessoas, uma religião popular e atrativa. A religião tem que ser diluída. O aguilhão, a condenação, a humilhação, a exigência moral têm que ser excluídos. Mas nossa tarefa não é mudar o cristianismo para adaptá-lo às pessoas, e sim mudar as pessoas para adaptá-la ao cristianismo.

4. A heresia surge da separação da comunidade cristã. Quando pensa sozinha corre um grave perigo de desencaminhar-se. Existe algo que se chama a tradição da Igreja. Há uma concepção da Igreja como guardiã da verdade. Se alguém descobrir que seu pensamento o separa da comunhão com os homens, é provável que em seu pensamento haja algo equivocado.

5. A heresia surge do intento de ser completamente inteligível. Este é um dos grandes paradoxos. Estamos obrigados a tentar entender nossa fé. Mas também é certo que devido a que somos criaturas finitas e Deus é infinito, nunca podemos entender totalmente.

Como disse G. K. Chesterton: "Só o insensato tenta encerrar o céu em sua cabeça, e não é estranho que lhe estale a cabeça. O sábio se conforma pondo a cabeça dentro do céu".

Até em nossos momentos mais intelectuais devemos recordar que há lugar para um mistério final diante do qual só podemos nos prostrar, nos assombrar e adorar. "Creio", disse Tertuliano, "porque é impossível".

 

Aplicações:

1. Devemos olhar para este texto e compreendê-lo – à luz dos detalhes geográficos e climáticos - como destinado à geração dos discípulos de Jesus, não como algo para a igreja em um tempo futuro indefinido.

2. Devemos saber discernir o tempo de ficar, resistir, lutar e perseverar diante das perseguições, e quando é tempo de fugir para estar em segurança e salvar a vida.

3. Podemos contar com o amor, misericórdia, graça e fidelidade de Deus, que tem autoridade para nos livrar e abreviar o tempo da agonia e do perigo.

4. Devemos estar firmes na fé, tendo sempre o cuidado para não ser engando pelos falsos cristãos e falsos líderes que tentam se promover nas horas de agonia.

5. Pior que perecer fisicamente nas mãos do adversário é ser enganado por falsos líderes e vir a negar a fé e o nome de Jesus.

 

 

 

 

 

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