Recapitulando o Esboço de Marcos:
1. A Apresentação
do Servo – Cap. 1:1-13
2. O
Ministério do Servo na Galiléia – Cap. 1:14-9:50
I. Período de
popularidade - 1:14 - 6:29
II. Período de
afastamento - 6:30 - 9:32
III. Período de
conclusão - 9:33-50
3. A Jornada
do Servo a Jerusalém – Cap.10
4. O
Ministério do Servo em Jerusalém – cap. 11-16
I.
Ensino em público e controvérsias no Templo - 11:1-12:44
II.
Ensino em particular e ministério - 13:1-14:31
III.
Prisão, julgamento e crucificação - 14:32-15:47
IV.
Ressurreição e ascensão – 16
A Identidade do Messias
Agora é a vez de Jesus fazer as perguntas e, aqui, se concentra a pergunta mais importante de todas: "Quem é o Messias?" ou: "Que pensais vós do Cristo? De quem é filho?" (Mt 22:42).
Trata-se de uma pergunta muito mais importante do que aquelas que seus
inimigos haviam feito (sobre imposto, ressurreição e o maior mandamento), pois
se enganar a respeito de Jesus Cristo é enganar-se em relação à salvação. Tal
engano significa condenar a própria alma (Jo 3:16-21; 8:24; 1 lo 2:18-23).
Jesus cita o Salmo 110:1 e pede que expliquem de que maneira o filho de
Davi também pode ser o Senhor de Davi. Os judeus acreditavam que o Messias
seria filho de Davi (Jo 7:41, 42), mas a única maneira de o filho de Davi
também ser o Senhor de Davi seria Deus vir ao mundo como homem. A resposta,
evidentemente, é a concepção miraculosa de Cristo e seu nascimento de uma
virgem (Is 7:14; Mt 1:18-25; Lc 1:26-38).
Podemos notar algo que ajuda a esclarecer a passagem. O versículo 35 diz:
“Como dizem os escribas que o Cristo é filho de Davi?” Nas primeiras
partes do Novo Testamento, Cristo não é um nome próprio, como chegou a ser na
atualidade. Aqui leva o artigo definido, o Cristo. Cristo é o
termo grego para ungido, e o hebraico para ungido é Messias. Cristo
e Messias são em realidade a mesma palavra em grego e em hebraico, e
ambas significam O Ungido.
A razão para o uso deste título é que na antiguidade a maneira de fazer
alguém rei era ungi-lo com azeite, Cristo e Messias significam
ambas Rei ungido de Deus, o grande Aquele que há de vir de Deus para
salvar o seu povo. Por esta razão Jesus pergunta: "Como podem dizer os
escribas que o Rei ungido de Deus que tem que vir é filho de Davi?"
O argumento que Jesus apresenta para sustentar sua pergunta é este. Cita
o Salmo 110:1: “Disse o SENHOR ao meu senhor: Assenta-te à minha direita.”
Nesta época os judeus davam por sentado que todos os salmos procediam da mão de
Davi. Por conseguinte, crivam que este tinha sido escrito por Davi. Também
sustentavam que este salmo se referia ao Messias, o Ungido de Deus que viria.
Agora, neste versículo Davi se refere a aquele que viria como seu Senhor. Como,
se for seu filho – pergunta Jesus – pode Davi dirigir-se ao filho com o título
de Senhor?
O que Jesus busca ensinar aqui? De todos os títulos do Messias, o mais
comum era o de Filho de Davi. Em todas as épocas os judeus antecipavam o envio
por Deus de um libertador que pertenceria à linha de Davi (Isa. 9:2-7; 11:1-9;
Jer. 23:ss.; 33:14-18; Ezeq. 34:23ss.; 37:24; Sal. 89:20ss.). O próprio Jesus
com frequência era chamado por este título, especialmente pelas multidões (Mar.
10:47ss.; Mat. 9:27; 12:23;.15:22; 21:9, 15).
Em todo o Novo Testamento aparece a convicção de que Jesus era filho de
Davi, descendente físico dele (Rom. 1:3; 2 Tim. 2:8; Mat. 1:1-17; Luc.
3:23-38). As genealogias de Jesus que se dão nas passagens citadas de Mateus e
Lucas estão destinadas a mostrar que Jesus realmente descendia da estirpe de
Davi. O que faz Jesus é isto – não nega que o Messias seja filho de Davi, nem
diz que Ele não é filho de Davi. O que diz é que é filho de Davi: é muito
mais. O que havia de vir não só era filho do Davi: era o Senhor de Davi.
O problema era que o título Filho de David estava inextricavelmente
mesclado com a ideia de um Messias conquistador. Estava envolto em esperanças e
sonhos, finalidades e ambições políticas e nacionalistas. Era usado para o
esperado fundador de um reino terrestre.
O que faz Jesus é dizer que o título Filho de Davi, como era usado
popularmente, é uma descrição totalmente inadequada dele. Ele era Senhor.
Agora, esta palavra Senhor (em grego Kyrios) é a tradução comum do
Yahweh (Jeová) na versão grega das Escrituras hebraicas. Seu emprego sempre
dirigia os pensamentos a Deus. O que Jesus diz é que Ele não veio fundar nenhum
reino terrestre. Veio para trazer Deus aos homens.
Jesus está fazendo aqui o que constantemente buscava fazer. Está buscando
tirar das mentes a ideia de um Messias conquistador que teria que fundar um
império terrestre, e pôr nelas a ideia de um Messias que seria o servo de Deus,
e que traria para os homens o amor de Deus.
2. Advertência ao Orgulho dos Escribas
Se uma pessoa é "importante" só por causa do uniforme que
veste, do título que possui ou do cargo que ocupa, sua "importância"
é artificial. O que torna uma pessoa valiosa é seu caráter, e ninguém pode dar
a outro o caráter; deve-se desenvolvê-lo à medida que se anda com Deus.
a) Os escribas gostavam de andar com roupas longas. No
Oriente uma roupa longa que varria o chão era o sinal de uma pessoa notável.
Com essa roupa ninguém podia andar depressa nem trabalhar, e era o sinal do
homem honorável e dono de seu tempo. Eles gostavam de vestir-se de maneira tal
que chamasse a atenção para suas pessoas e a honra de que desfrutavam.
b) Amavam as saudações nas praças. Os escribas
amavam ser saudados com honra e respeito. O mesmo título de rabino significa
"Meu grande". Quem os saudasse assim agradava a sua vaidade.
c) Procuravam as primeiras cadeiras na sinagoga. Diante
da arca em que se guardavam os volumes sagrados, e de frente para a
congregação, havia um banco onde se sentavam os personagens distinguidos.
Estava à vista da congregação que o admirava.
d) Procuravam os primeiros assentos em festas. O
primeiro lugar estava à direita do anfitrião, o segundo à sua esquerda, e assim
sucessivamente, alternando direita e esquerda, ao redor da mesa. Era fácil
dizer qual era a honra que se conferia a alguém pelo lugar em que estava
sentado.
e) Devoravam as casas das viúvas. Esta é uma
acusação brutal. Os fariseus se valorizavam a si mesmos segundo sua exata
habilidade na Lei, e faziam os homens crerem que eles eram altamente
favorecidos por Deus, enganando assim a certas mulheres em seus planos e complôs.
A triste realidade é que as mulheres sempre foram dominadas pelos enganadores
religiosos, e, ao que parece, estes escribas e fariseus dominavam a pessoas
simples que apenas podiam sustentá-los. Nunca faltariam incautos.
d) As longas orações dos escribas e fariseus eram notórias.
Tem-se dito que suas orações não eram oferecidas a Deus tanto como aos homens.
Ofereciam-nas em lugares e em formas em que ninguém podia deixar de ver quão
piedosos eram.
Esta passagem, uma das mais severos que Jesus jamais pronunciou, adverte
contra três coisas.
1. Adverte contra o desejo de
proeminência. A gente pode aceitar um cargo na Igreja porque pensa que o merece e o
ganhou, mas bem que porque quer prestar um serviço ainda mais desinteressado à
casa e ao povo de Deus. Ainda há quem considera os cargos na Igreja como um
privilégio e não como uma responsabilidade.
2. Adverte contra o desejo de
deferência. Quase todos querem ser tratados com respeito. E, entretanto, o fato
básico do cristianismo é que deveria levar alguém a querer anular o eu em vez
de exaltá-lo.
O homem que assume um cargo pelo respeito que este lhe tem que
proporcionar, começa erradamente, e, a não ser que mude, não pode jamais ser em
nenhum sentido o servo de Cristo e de seus semelhantes.
3. Adverte contra a intenção de
traficar com a religião. Ainda é possível
empregar as relações religiosas para obter lucros e progredir. Mas esta é uma
advertência a todos os que estão na Igreja pelo que podem obter dela, e não
pelo que podem pôr nela.
3. Advertência ao Orgulho dos
Ricos
Havia treze arcas (gazofilácios) em formato de trombetas nas paredes ao
redor do átrio das mulheres, e era lá que as pessoas depositavam as ofertas. Cada
uma tinha um propósito especial, por exemplo comprar grão ou vinho ou azeite
para os sacrifícios. Eram as contribuições para os sacrifícios diários e os
gastos do templo.
Muitas pessoas lançavam ali contribuições importantes. Então apareceu uma
viúva que lançou duas moedas (lepton), que significa literalmente delgada.
Era a mais pequena de todas as moedas. Mas Jesus disse que essa ínfima
contribuição era maior que todas as outras, porque os outros tinham lançado o
que podiam dar facilmente e ainda ficava muito, enquanto a viúva tinha posto
tudo o que tinha.
O importante não era a porção, e sim a proporção: os ricos davam uma
pequena parcela de sua abastança, mas a viúva deu tudo o que tinha. Para os
ricos, suas ofertas não passavam de uma pequena contribuição, mas para aquela
viúva, sua oferta foi uma verdadeira consagração de todo o seu ser.
Aqui temos uma lição sobre o dar:
1. O dar, para ser real, deve
significar um sacrifício. O importante não é
a soma da oferenda, e sim o custo para o doador. Não é o tamanho da oferenda, e
sim o seu valor sacrificial.
A verdadeira generosidade é dar até que dói: Para muitos de nós a verdadeira
questão é se nossa oferta a Deus alguma vez foi um sacrifício. São poucas as
pessoas dispostas a passar sem algum prazer para dar um pouco mais à obra do
Senhor. Bem pode ser um sinal de decadência da Igreja e do fracasso de nosso
cristianismo ter que extrair donativos às pessoas de Igreja, e que frequentemente
não dão a não ser que obtenham algo por seu dinheiro, em forma de
entretenimentos ou bens. Poucos de nós poderemos ler este relato sem nos
envergonhar.
2. O dar, que é verdadeiramente
real, tem certa implacabilidade. A mulher teria
podido guardar uma moeda. Não teria sido muito, mas algo teria sido; mas deu
tudo o que tinha. Aqui há uma grande verdade simbólica. Nossa tragédia é que
com frequência há alguma parte de nossas vidas, alguma parte de nossas
atividades, alguma parte de nós mesmos que não damos a Cristo. De um modo ou
outro, sempre nos reservamos algo. Raramente fazemos o sacrifício definitivo, a
entrega final.
3. É algo estranho e formoso que
a pessoa que o Novo Testamento e Jesus passam à história como um modelo de
generosidade fosse uma pessoa que deu o menos que se podia dar.
Podemos sentir que não temos muitos dons materiais ou pessoais que dar a
Cristo, mas se pusermos ao seu dispor tudo o que temos e somos, Ele pode fazer
com isso e conosco coisas que estão além de nossa imaginação.
O orgulho no viver e no ofertar é pecado e deve ser evitado a todo custo.
Infelizmente, aqueles líderes religiosos dependiam de um sistema religioso que
logo sairia de cena. Felizmente, muitos do povo abriram o coração para os
ensinamentos de Jesus e obedeceram à sua Palavra.
Com qual grupo você se identifica?

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