Os falsos mestres de Colossos, como os de hoje, não
negavam a importância de Jesus Cristo. Antes, eles o desentronizavam, dando-lhe
proeminência (mais um), mas não preeminência (único, pleno, superior).
De acordo com sua filosofia, Jesus Cristo era apenas
uma das muitas "emanações" provenientes de Deus, por meio das quais
os seres humanos poderiam alcançar o Ser divino.
É justamente essa ideia que Paulo refuta nesta
seção. É provável que nenhum parágrafo do Novo Testamento contenha tanta
doutrina concentrada sobre Jesus Cristo quanto este.
Podemos ir direto ao cerne da questão, se lembrarmos que Paulo escreveu esta carta a fim de provar a preeminência de Cristo, usando, para isso, quatro argumentos irrefutáveis.
1.
CRISTO É O SALVADOR (1:13,14)
O maior problema do ser humano é o pecado, problema
que não pode ser resolvido por nenhum filósofo ou líder religioso. Os pecadores
precisam de um Salvador. Esses dois versículos apresentam uma imagem vívida dos
quatro atos de
salvação realizados por Cristo.
1. Ele nos libertou
(v.13a). Significa "livrou
do perigo". Não poderíamos nos livrar da culpa e do castigo pelo
pecado por conta própria, mas Jesus era capaz. Não corremos mais o perigo de
passar a eternidade separados de Deus: fomos libertos da autoridade de
Satanás e dos poderes das trevas. Os gnósticos acreditavam que uma
organização de espíritos perversos controlava o mundo (1:16; 2:10,15): anjos,
arcanjos, principados, potestades, soberanias, domínios e tronos.
2. Ele nos transportou
(v. 13b). O verbo
"transportar" era usado para descrever a deportação de uma população
de um país para outro.
Jesus Cristo nos libertou da escravidão e nos
colocou no próprio reino de luz e nos deu a vitória sobre o reino de trevas de
Satanás. Os governantes terrenos transportavam os povos que derrotavam, mas
Jesus Cristo transportou os vencedores.
A experiência de Israel no Antigo Testamento é uma
ilustração dessa experiência espiritual, pois Deus os livrou da escravidão do
Egito e os levou para a Terra Prometida de sua herança. O Senhor nos tira das
trevas para poder nos levar para a luz.
3. Ele nos redimiu (v.
14a). Esse termo significa
"libertar um prisioneiro mediante o pagamento de um resgate".
Paulo não sugere que Jesus pagou um resgate a Satanás, a fim de nos livrar do
reino das trevas. Por meio de sua morte e ressurreição, Jesus cumpriu os
requisitos sagrados da Lei de Deus.
4. Ele nos perdoou (v.
14b). A redenção e a remissão
andam juntas (Ef 1:7). O termo traduzido por remissão (perdão) tem o
sentido de "mandar embora" ou de "cancelar uma dívida".
Cristo não apenas nos libertou e nos transferiu para um novo reino como também
cancelou todas as dívidas para que não voltemos a ser escravos.
O perdão que Deus oferece aos pecadores é um ato de
sua graça. Saber que fomos perdoados permite que tenhamos comunhão com Deus,
que desfrutemos sua graça e que procuremos fazer sua vontade. O perdão não é um pretexto para pecar; antes,
é um estímulo à obediência. Pelo fato de termos sido perdoados, podemos perdoar
a outros (C1 3: 13).
2. CRISTO É O CRIADOR
(1:15-17)
Os falsos mestres ensinavam que a matéria, inclusive
o corpo humano, era má. Ensinavam que Jesus Cristo não teve um corpo de
verdade, uma vez que isso o teria colocado em contato com essa matéria
perniciosa. Os resultados desses falsos ensinamentos foram trágicos: em um
extremo, o asceticismo radical e, no outro, o pecado desenfreado.
Afinal, se o corpo é pecaminoso, só nos resta tentar escravizá-lo ou desfrutá-lo
ao máximo.
Nesta seção, Paulo explica quatro aspectos da
relação de Jesus Cristo com a criação.
1. Ele existia antes
da criação (v. 15). O termo primogênito não se refere ao tempo,
mas sim ao lugar ou situação. Jesus Cristo não foi o primeiro ser criado, o fato
de ser primogênito significa, apenas, que é o "primeiro em
importância, do primeiro escalão". O primogênito de toda a criação
significa "anterior a toda a criação". Ele não é um ser criado; é
o Deus eterno.
A palavra imagem significa "uma
representação e revelação exata". Jesus poderia dizer: "Quem me vê a
mim vê o Pai" (Jo 14:9). Em sua essência, Deus é invisível, mas em Jesus
Cristo ele se revelou a nós (Jo 1:18).
2. Ele criou todas as coisas (v.16a). Uma vez que Cristo criou todas as coisas, ele próprio não foi criado.
Jesus Cristo é o primogênito de tudo porque foi ele quem criou todas as
coisas. Não é de se admirar que os ventos e as ondas lhe obedecessem e que as
enfermidades e a morte desaparecessem diante dele.
3. Todas as coisas existem para ele (v.
16b). Todas as coisas existem nele, para ele e por
meio dele. Jesus Cristo é o Âmbito da existência de todas as coisas, o
Agente por meio do qual todas vieram a existir e Aquele para o qual foram
criadas.
Os filósofos gregos ensinaram que todas as coisas
precisavam de uma causa primária, uma causa instrumental e uma causa final.
Tratando-se da criação, Jesus Cristo é a causa primária (foi ele quem a
planejou), a causa instrumental (foi ele quem a realizou) e a causa final (ele
a fez para o próprio prazer).
4. Ele mantém a união
de todas as coisas (v. 17). O verbo subsistir também pode ser traduzido, nesse contexto, por
"existir em união". Uma vez que "Ele é antes de todas as
coisas", pode mantê-las em união. Somente Deus existe antes de toda a
criação e somente Deus pode dar coesão à criação. Considerar Jesus inferior a
Deus é o mesmo que desentronizá-lo.
3. CRISTO É O CABEÇA DA IGREJA (1:18)
Das diversas imagens da Igreja no N.T., o corpo é
uma das mais importantes (Rm 12:4ss; 1Co 12:14; Ef 4:816). Quando uma pessoa
crê em Jesus Cristo, é selada pelo Espírito Santo e se tornar parte desse corpo
(1Co 12:12, 13).
Todo cristão é membro desse corpo espiritual, e
Jesus Cristo é o cabeça. O termo "cabeça" referia-se à
"fonte" ou "origem" bem como a um "líder,
governante". Jesus Cristo é a Origem e o Líder de seu corpo, a Igreja.
Não há como negar a preeminência de Jesus Cristo na Igreja.
Originou-se nele e opera nele. Como cabeça da Igreja, Jesus Cristo lhe dá vida por
meio de seu Espírito.
Também concede dons às pessoas e as coloca em sua
Igreja para servir ao Senhor onde se fizerem necessárias. Por meio de sua Palavra, Jesus Cristo nutre e
purifica sua Igreja (Ef 5:25-30).
4.
ELE É O AMADO DO PAI (1:19, 20)
Paulo já afirmou que Jesus Cristo é o "Filho do
seu amor [de Deus]" (CI 1:13). Os que creem em Jesus Cristo como Salvador
são aceitos "no Amado" (Ef 1:6). Por esse motivo, Deus pode nos chamar
de amados (CI 3:12).
Paulo declara que, em Cristo, "reside toda a
plenitude"! O termo grego é pleroma. Significa "a soma
total dos poderes e atributos divinos". Paulo usa essa em oito ocasiões no
texto original.
A palavra "residir" é importante também, significa
muito mais que "morar", quer dizer: "estar no lar em caráter
permanente".
O Pai não concederia seu pleroma (plenitude) em
caráter permanente a algum ser criado. O fato de que "aprouve a Deus"
ter sua plenitude em Cristo comprova que Jesus Cristo é Deus.
Uma vez que Jesus Cristo é Deus, ele é capaz de
fazer o que nenhum mero ser humano jamais poderia fazer: reconciliar os
pecadores com um Deus santo.
A mente natural do pecador não salvo encontra-se em
guerra com Deus (Rm 8:7). O pecador pode ser sincero, religioso e até mesmo
moral, mas ainda assim está em guerra com Deus.
A fim de ocorrer a reconciliação entre o ser humano
e Deus, a iniciativa e a ação devem partir do Ser divino. Deus foi reconciliado
com o homem em Cristo (2 Co 5:19). A paz entre Deus e o homem foi feita
por meio da morte de Cristo. (Cl 1:20).
CONCLUSÃO:
Em primeiro lugar, Jesus Cristo cuidou de todas as coisas. Todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Existia antes de todas
as coisas e, hoje, mantém a união de todas as coisas.
Reconciliou todas as coisas mediante a cruz. Não é
de se admirar que Paulo tenha declarado que “em todas as coisas [Cristo
tem] a primazia" (C11 :18).
Em segundo lugar, tudo de que precisamos encontra-se em Jesus Cristo. Nele, temos toda a plenitude de Deus e somos
"aperfeiçoados" (Cl 2:10). Não há necessidade de acrescentar coisa
alguma à pessoa ou à obra de Cristo.
Acrescentar qualquer coisa a ele é o mesmo que
subtrair de sua glória. Dar-lhe proeminência em lugar de preeminência é o mesmo
que desentronizá-lo.
Em terceiro lugar, Deus tem prazer em ver seu Filho, Jesus Cristo,
honrado e recebendo preeminência. Algumas pessoas dizem que são cristãs, mas ignoram ou negam Jesus
Cristo. Dizem adorar somente ao Pai, pois o resto é dispensável.
Jesus Cristo tem a primazia em sua vida?
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