Nos versos 1 a 13 Tiago apresenta o primeiro dos doze ensinos sobre devoção inteira a Jesus: a discriminação contra os pobres, o que segundo ele é fruto de padrões malignos. Agora, nos versos 14 a 26 ele trata da “fé verdadeira” aquela que se manifesta produzindo boas obras, em contraste com a fé morta, que nada produz. Este tema reflete o ensino de Jesus em Mateus 7.21-27.
Tiago e Paulo não se contradizem, mas tratam da fé sob ângulos e perspectivas distintos. Paulo trata da fé no que tange à salvação dos incrédulos (Ef 2.8,9), ao passo que Tiago trata da fé para as boas obras dos que já são salvos. Tiago não fala de “fé mais obras”, ele fala de “fé e obras”.
Este texto é o ponto alto do apelo por uma
“religião pura” que se justifica na ação, tema que é a grande preocupação de
Tiago. A igreja tinha uma fé que se resumia a uma confissão verbal, ou seja,
uma fé da boca pra fora.
Diante disso ele nos apresenta três
questionamentos:
o Há vantagem na fé sem obras? (v.14,16).
o A fé não ativa pode salvar alguém? (v.14)
o Que proveito há na fé que não estende a mão ao necessitado? (v.16)
Temos diante de nós uma união inseparável entre fé
e obras. Paulo cita “as obras” referindo-se as obras da lei, a observância
legalista dos rituais judaicos; Tiago se refere “às obras” para refletir os
atos de amor e misericórdia praticados pelos cristãos em cumprimento da lei do
amor.
Um ponto comum entre eles é que “obras” são “atos
praticados em obediência a Deus”, a diferença está no contexto em que as obras
são praticadas.
Paulo nega que as obras possam ter algum valor em
nos colocar num relacionamento com Deus; Tiago insiste em que, uma vez
estabelecido o relacionamento, as obras são essenciais.
A diferença entre Paulo e Tiago está na sequência das obras e da conversão. Paulo está negando a
eficácia de obras praticadas antes da conversão, mas Tiago está apelando à
necessidade absoluta de obras praticadas depois dela.
1. ARGUMENTO PRÁTICO: A FÉ QUE É CONDENADA – v.14-17
É a fé que consiste somente em palavras. Este tipo
de fé “sem as obras” (atitudes de obediência), que quando confrontada pela
necessidade nada faz.
Essa fé é considerada por Tiago como:
-> Morta (v.17,26). Quando a fé é apenas expressa em palavras e não é
acompanhada de ações que correspondem a elas. Uma fé que se evidencia apenas da
boca pra fora, para Tiago é morta.
-> Inoperante (v.20). O contraste não é entre fé e obras, mas entre fé “com obras” e
fé “sem obras”. A fé sem obras é igual a um corpo sem espírito, sem vida. É uma
fé vazia que não passa de informações sobre Deus, tal como a dos demônios.
-> Sem poder pra salvar (v.14) ou justificar (v.24). Essa suposta fé que não é vista através das
obras, não vai ser operante a ponto de produzir os frutos do arrependimento
para salvação. A fé que não produz a salvação também não produz obras.
2. ARGUMENTO TEOLÓGICO: A FÉ QUE É EXALTADA - v.18-20
Já a fé que ele possui é bem diferente, é uma fé
real:
-> É acompanhada de obras (v.14-17). Tiago não é contra a fé e a favor das obras. A questão é que
para Tiago a fé não pode ser estéril, que não produza nada. A fé genuína que
agrada a Deus vem acompanhada de frutos, as obras.
-> É consumada pelas obras (v.22). A fé é a “ação” decisiva que conduz à justificação. Mas a
“ação” deixa a marca de sua ocorrência – as obras. A fé não pode ser confundida
com obras, mas também não pode ser separada delas. As obras são a coroação da
fé que é verbalmente professada.
-> Opera juntamente com as
obras (v.22). O que Tiago quer mostrar é que a fé não
trabalha sozinha, ela precisa de uma companhia inseparável, as obras. Pois
assim uma completa e dá credibilidade a outra.
3. ARGUMENTO BÍBLICO: A FÉ QUE É EXEMPLIFICADA - v.21-24
O primeiro exemplo é Abraão. Em Genesis 15.6
Deus faz uma aliança com ele. Com base nesta aliança ele ficou conhecido como
“pai da fé”.
Deus pede a Abraão que ofereça em sacrifício seu
filho Isaque o que é a sua maior “obra” que expressou sua fé, que o fez digno
da aceitação por parte de Deus.
O outro exemplo é Raabe. Uma estrangeira
que conheceu os feitos do Senhor e assim passou a ter fé nEle. Foi baseada
nesta fé que ela acolheu e escondeu os emissários israelitas, praticando assim
uma grande obra de hospitalidade e cuidado demonstrando sua fé.
Abraão o herói da fé e pai de Israel amplamente
aclamado é comparado com a mulher pagã de baixa reputação. Mas tanto o
patriarca quanto a prostituta são declarados justos com base nas obras que
provinham da fé que possuíam.
CONCLUSÃO:
A chave para entender essa relação entre fé e obras
“não é que as obras devem ser acrescentadas
à fé, mas que a fé genuína as inclui,
faz parte de sua natureza”.
Sem este tipo de fé operante, o cristianismo
torna-se uma ortodoxia estéril e perde todo o direito de ser chamado de fé.
A fé genuína está sempre viva e ativa. Para esta fé
é impossível não praticar coisas boas sem cessar. Não pede se as boas obras
devem ser realizadas, ela já realizou e continua a praticá-la.
Portanto, qualquer pessoa que não pratica tais obras é uma descrente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário