Nos três últimos capítulos, Paulo admoesta a andar em unidade (Ef 4:1-16), pureza (Ef 4:17-5:17), harmonia (Ef 5:18-6:9) e vitória (Ef 6:10-24). Como podemos "andar em pureza"? 1. Andar de modo diferente dos outros gentios - 4:17-32; 2. Andar em amor - 5:1-6; 3. Andar como filhos da luz - 5:7-14; 4. Andar com cuidado - 5:15- 17.
Na primeira parte desse
capítulo, Paulo descreveu o relacionamento do crente com a igreja; agora, move-se
para a relação com o mundo. Sem dúvida, estamos "em Cristo" e somos parte
do corpo, todavia também estamos no mundo em que há tentação e impureza.
Não podemos deixar o mundo, porque temos a responsabilidade de testemunhar para ele, mas temos de andar em pureza e não nos deixar corromper pelo mundo.
Paulo está dizendo: "Eis o que Cristo
fez por vocês. Diante disso, eis o que vocês devem fazer para
Cristo". Devemos ser praticantes da Palavra, não apenas ouvintes
(Tg 1:22).
O fato de termos sido chamados em Cristo (Ef 1:18) deve
servir de motivação para andarmos em unidade (Ef 4:1-16). E o fato de termos sido
ressuscitados dentre os mortos (Ef 2:1-10) deve nos motivar a andar em pureza
(Ef 4:17-5:17) ou, como Paulo diz em Romanos: "andemos nós em novidade de
vida" (Rm 6:4).
Estamos vivos em Cristo, não mortos no pecado; portanto:
"[nos despojemos] do velho homem [...] e [nos revistamos] do novo homem"
(Ef 4:22,24). Vamos tirar nossas vestes de mortos e colocar as vestes da graça!
1. COMO VIVEM AS PESSOAS SEM JESUS-v.17-19
Paulo inicia com uma negativa: não ande como
o pagão não-salvo. Ele explica por que eles andam de forma ímpia:
·
Creem em mentiras e não receberam a verdade, por
isso têm a mente obscurecida;
·
Estão mortos espiritualmente;
·
Entregaram-se a todo tipo de pecado.
Compare essa descrição com 2:1-3 e com 2 Coríntios 4.
Pode-se resumir o andar errôneo deles ao fato de que não conhecem a verdade
e nunca receberam a vida. Apenas o Cristo de João 14:6 pode preencher e satisfazer
as necessidades espirituais
deles.
2. O QUE MUDA APÓS A SALVAÇÃO - v.20-24
A vida cristã tem de ser radicalmente distinta da velha
vida. Paulo espera que os efésios mudem e faz três admoestações: "despojeis"
(v.22-23); "revistais" (v.24) e "deixando a mentira"
(v.25ss). Romanos 6 afirma que, à medida que reconhecemos como verdade que o velho
homem foi crucificado e sepultado, nos "despojamos" da velha natureza.
Deus fez a sua parte. Cabe a nós crermos no que ele
disse e "vestirmos a nova roupa". Aplica-se a todo cristão a instrução
que Jesus deu em relação a Lázaro: "Desatai-o- tire as vestes
funerárias - e deixai-o ir"! No entanto, não é tão
simples morrer para a velha vida, também é preciso haver ressurreição e manifestação
da nova vida. Despojamo-nos da "veste funerária" da velha vida e revestimo-nos
das "vestes de graça" da nova vida. Somos parte da nova criação de Deus
(v.24 e 2:10) e, por isso, andamos em novidade de vida (Rm 6:4).
3. A MUDANÇA SE REFLETE NAS ATITUDES - v.25-32
Paulo enumera os pecados que temos de "deixar".
Observe como Paulo amarra cada mandamento a uma verdade espiritual: somos membros
uns dos outros (v.25); estamos selados até o dia da redenção (v.30); Deus
nos perdoou (v.32).
Na Bíblia, doutrina e obrigação são bênçãos conjuntas,
tanto a riqueza do cristão quanto seu andar em Cristo.
a) Mentira - v.25
Como podemos aceitar a mentira se pertencemos à verdade?
Satanás é o pai da mentira (Jo 8:44), os espíritos dele contam mentiras (1
Jo 2:21,27); um dia, o mundo inteiro crerá na "mentira" (2 Ts 2:9-11).
Paulo exorta para edificar o corpo de Cristo (Ef 4:16)
e a fazê-lo em verdade. "Seguindo a verdade em amor" (Ef
4:15). Como "membros uns dos outros", exercemos influência mútua, e não
é possível edificar uns aos outros sem a verdade. O primeiro pecado a ser julgado
na Igreja primitiva foi a mentira (At 5:1-11).
b) Ira - v.26,27
A ira é uma exacerbação emocional causada por algo que
nos desagrada. A ira, em si, não é pecado, pois Deus pode irar-se (Dt 9:8, 20; SI
2:12). A ira é um tipo de indignação que não é pecaminosa (Mc 3:5).
Por vezes, a ira de uma pessoa arde em segredo - o que
pode ser chamado de rancor; mas essa mesma ira pode irromper subitamente
e destruir - o que pode ser chamado de furor. É difícil praticar a
ira santa ou a indignação justa, pois nossas emoções são distorcidas pelo pecado.
Mantemos nosso andar santo se nos indignamos
com o pecado e com os princípios pecaminosos, mas pecamos se nos indignamos com
a pessoa. É muito fácil o cristão chamar seu destempero de "indignação justa"!
"A ira do homem não produz a justiça de Deus" (Tg 1:20).
Dar lugar ao diabo (v.27) envolve mentir e sentir raiva,
pois Satanás é um mentiroso e um assassino. Será que percebemos que a mentira,
a hipocrisia e a raiva dão uma posição segura a Satanás em nossa vida? Caim mentiu,
e a raiva levou-o a matar (Gn 4).
c) Roubo - v.28
O versículo 28 liga-se a 1 Tes. 4:11 e 2 Tes. 3:6-12.
"Não furtarás" é um dos Dez Mandamentos, e, ao dar essa ordem,
Deus instituiu o direito à propriedade privada. Roubar ou furtar era um pecado típico
dos escravos no tempo de Paulo, mas não se limitava apenas aos escravos e era cometido
pelos cidadãos em geral.
Satanás transformou Judas em ladrão (Jo 12:6); fez de
Eva uma ladra, pois ela tomou para si um fruto que lhe era proibido. O primeiro
Adão roubou e foi expulso do paraíso; mas Cristo, o último Adão, disse a
um ladrão: "Hoje estarás comigo no paraíso" (Lc 23:43).
O ladrão rouba para agradar a si mesmo, mas a partir
do momento em que é salvo deve trabalhar a fim de poder ajudar os outros. A graça
é responsável por essa mudança maravilhosa no coração da pessoa.
"Se alguém não quer trabalhar, também não coma" (2 Ts 3:10). Um cristão preguiçoso rouba de
si mesmo, dos outros e de Deus.
d) Palavras torpes - v.29
Há uma relação muito próxima entre o coração e a boca.
"Porque a boca fala do que está cheio o coração" (Mt 12:34). Quando
uma pessoa aceita a Cristo, esperamos ver mudanças em sua maneira de falar.
A boca do pecador é "cheia de maldição e de
amargura" (Rm 3:14); mas quando ele crê em Cristo, com sua boca "[confessa]
Jesus como Senhor" (Rm 10:9, 10). A boca do pecador condenado é calada
diante do trono de Deus (Rm 3:19); mas da boca do cristão saem louvores a Deus (Rm
15:6).
De nossos lábios devem sair apenas palavras que edifiquem
(CI 4:6; SI 141:3). A depravação dos lábios apenas exterioriza a que existe no coração.
e) Amargura - v.30-32
A amargura refere-se a uma hostilidade arraigada que
corrompe o ser interior. Alguém faz algo que nos contraria, e nutrimos uma
disposição negativa para com essa pessoa. A amargura conduz à cólera, que é a manifestação
exterior e explosiva de sentimentos interiores. A raiva e a ira com frequência
levam ao tumulto ("gritaria") e à maledicência ("blasfêmia").
O primeiro caso envolve um conflito corporal, e o segundo, um conflito verbal.
Três motivos pelos quais devemos evitar a amargura.
·
Primeiro. Ela entristece o Espírito Santo.
Ele habita dentro do cristão, e, quando o coração está cheio de amargura e de ira,
o Espírito se entristece.
·
Segundo. Nosso pecado entristece a Deus o Filho, que
morreu por nós.
·
Terceiro. Entristece a Deus o Pai, que nos perdoou quando
aceitamos a Cristo.
Aplicação:
Assim, devemos andar de modo puro, porque somos membros
uns dos outros.
Satanás quer espaço para agir em nossa vida; devemos
compartilhar com os outros; devemos edificar uns aos outros; e não devemos entristecer
a Deus.
Afinal, fomos ressuscitados dentre os mortos... então
por que ainda usar vestes de mortos?
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