Autor: Paulo, na prisão de Roma, por volta do ano 61, 62 d.C. Nesta prisão de cerca de dois anos, ele escreve as chamadas “cartas da prisão”: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom.
Destinatário: Filemom, um
cristão que morava em Colossos, ao que tudo indica casado com Áfia e pai de
Arquipo que mantinha uma igreja em sua casa. Ele era um homem próspero
financeiramente, e por isso, tinha escravos que trabalhavam para ele.
Assunto: Paulo exorta
que Filemom perdoasse seu escravo Onésimo que o havia roubado e fugido, vindo
que se converter pelo ministério de Paulo.
Portador: É provável
que Tíquico e Onésimo tenham levado esta carta a Colossos junto com a Epístola
aos Colossenses (Cl 4:7-9). Nota-se um contraste entre esta carta e que Davi
enviou pelo mão de Urias a Joabe em 2 Samuel 11.14-17.
Característica: é uma carta pessoal (v.1,9,19), onde Paulo não evoca sua autoridade apostólica, mas revela o seu coração para convencer Filemom a perdoar o escravo fugitivo.
I. Saudação (vv. 1-3)
II. A estima de Paulo por Filemom (vv. 4-7)
III. Paulo faz apelo em favor de Onésimo (vv. 8-1
7)
IV. Paulo garante o pagamento (vv. 18-25)
1.
Uma Carta inigualável
Esta pequena Carta a Filemom é única - carta
particular - de Paulo que possuímos. Ele deve ter escrito muitas outras particulares,
o mais provável é que foram destruídas. Por ser a única carta particular
escrita por Paulo que possuamos, dá a ela um interesse e um significado sem
igual.
2.
Onésimo, o escravo fugitivo
Onésimo era um escravo fugitivo, e o mais provável
é que fora ladrão: “E, se algum dano te fez ou se te deve alguma coisa,
lança tudo em minha conta. ... Eu pagarei” (v. 18 e 19). De algum modo este
Onésimo fugitivo tinha chegado a Roma, para perder-se nas lotadas ruas da
grande cidade; e de algum modo entrou em contato com Paulo e se converteu ao
cristianismo; era o filho que Paulo tinha gerado em suas prisões (v.10).
Outra vertente sugere que era impossível que Paulo
continuasse amparando a um escravo fugitivo. Talvez foi a chegada do Epafras
que desencadeou a crise, pois ele reconheceu a Onésimo como o escravo que tinha
visto em Colossos, e dali se soube toda sua indigna história; ou a consciência
de Onésimo o levou a confessar seu pecado.
3.
Paulo faz com que Onésimo retorne
Durante a época que tinha estado com ele, Onésimo
se tinha convertido em indispensável para Paulo e Paulo teria gostado de tê-lo
junto a si. “Eu queria conservá-lo comigo” (v.13).
Mas sabe que não poderá fazer nada sem o
consentimento de Filemom, o amo de Onésimo (v.14). De modo que Paulo faz com
que Onésimo retorne. Ninguém sabia melhor que Paulo o grande risco que corria.
Lembremos a posição dos escravos. Um escravo não era uma pessoa; era uma
ferramenta vivente. Qualquer amo tinha direito de vida e morte sobre seus
escravos. Tinha um poder absoluto sobre eles.
No Império Romano havia 60 milhões de escravos, eram
terrivelmente oprimidos, mas a rebeldia era punida com morte. Se um escravo
escapava, no melhor dos casos era marcado com ferro quente na frente com F —
que simbolizava à palavra fugitivus, fugitivo — e no pior dos
casos era crucificado. Paulo sabia que a escravidão estava tão enraizada que
até o fato de mandar de volta Onésimo para Filemom era um risco considerável.
4.
O pedido de Paulo
Em certo momento Onésimo foi um servo inútil, mas é
útil agora (v.11). Agora, diz, não só é Onésimo (útil, proveitoso) por nome mas
também por natureza. Talvez Filemom o perdeu por um tempo, para o ter agora
para sempre (v.15). Filemom deve recebê-lo novamente, ainda que não como
escravo, mas sim como um irmão cristão (v.16). Agora é o filho na fé de Paulo,
e Filemom deve recebê-lo como se recebesse ao próprio Paulo.
5.
Emancipação
Muitos se perguntaram por que Paulo não diz nada
nesta Carta a respeito da escravidão. Não condena a escravidão; nem sequer pede
a Filemom que liberte Onésimo; deve tê-lo novamente como escravo.
Há os que criticaram a Paulo por não aproveitar a
oportunidade para condenar a escravidão sobre a qual estava edificado o mundo
antigo. Mas existem certas razões para o silêncio de Paulo em face deste
problema.
A escravidão era parte integral do mundo antigo;
toda a sociedade estava edificada sobre ela. Era quase impossível imaginar a
sociedade antiga sem escravos. O que é pior, se o cristianismo houvesse, em
realidade, animado de algum modo os escravos a rebelar-se ou abandonar a seus
amos, só teria havido tragédia e desastre. Qualquer revolta teria sido
grosseiramente reprimida; qualquer escravo que decidisse ser livre teria sido
sem piedade castigado; e o próprio mesmo teria sido classificado como uma
ideologia revolucionária e subversiva.
Uma vez dada a fé cristã, a emancipação chegaria,
mais cedo ou mais tarde, mas o momento não estava amadurecido; e o ter animado
os escravos a esperá-la, e tomá-la, faria imensamente mais mal que bem. Há
coisas que não podem conseguir-se imediatamente, e o mundo deve esperar até que
trabalhe a levedura.
6.
A nova relação
O que fez o cristianismo foi introduzir uma nova
relação na qual todas as diferenças externas eram abolidas pelo fato de que
todos os cristãos estavam em Cristo. Os cristãos são um só corpo, sejam judeus
ou gentios, escravos ou homens livres (1 Coríntios 12:13). Em Cristo não há
judeus nem gregos, escravos nem homens livres, homens nem mulheres (Gálatas
3:28). Em Cristo não há nem gregos nem judeus, nem circuncidados nem
incircuncisos, nem bárbaros nem citas, nem escravos nem homens livres
(Colossenses 3:11).
Onésimo tinha fugido como escravo, e era como tal
que retornava, mas agora não só era um escravo, mas também um irmão amado no
Senhor. Quando entra na vida uma relação como esta, os níveis sociais e as
castas deixam de ser importantes. Os mesmos nomes, amo e escravo, carecem de
distinção. Se o amo tratar o escravo como Cristo teria feito, e se o escravo
serve ao amo como Cristo teria feito, não importa se se chama a um amo e
a outro escravo; sua relação não depende de nenhuma classificação
humana, porque ambos estão em Cristo.
O cristianismo na época primitiva não atacou a
escravidão; nunca urgiu à emancipação dos escravos. Se o tivesse feito, teria
sido pior que inútil; teria sido desastroso. Mas o cristianismo introduziu uma
nova relação na qual as classes sociais deixaram de ser importantes. Deve-se
notar que esta nova relação nunca deu ao escravo o direito de ser negligente ou
folgazão; não lhe deu o direito de aproveitar-se da nova relação; fez dele um
melhor escravo, um servo mais eficiente, porque agora devia fazer as coisas de
tal maneira que pudesse oferecê-las a Cristo.
Há duas passagens nas quais Paulo estabelece os
deveres de escravos e amos — Efésios 6:5-9 e Colossenses 3:22-4:1. Estes foram escritos quando
Paulo estava no cárcere romano, e o mais provável é que Onésimo estivesse com
ele; e não é difícil pensar que se devem muito às longas conversações que Paulo
manteve com o escravo fugitivo que se tinha convertido ao cristianismo.
7.
O que Cristo fez por mim
Por que sobreviveu esta pequena Carta, metade
pessoal, metade oficial? Não trata a respeito de nenhuma grande doutrina; não
ataca nenhuma grande heresia; só é uma das indiscutidas Cartas de Paulo,
escrita a uma pessoa em particular.
Onésimo (provável bispo de Éfeso) queria que todos
soubessem o que a graça do Senhor tinha feito por ele. Através dela o grande
bispo confessa ao mundo que uma vez foi um escravo fugitivo e um ladrão, e que
devia sua vida a Paulo e a Jesus Cristo.
Aplicações:
1. Algumas situações em nossas vidas serão melhores
resolvidas em amor, com o coração e de forma amigável do que evocando
autoridade e impondo nossa vontade sobre as outras partes.
2. A verdadeira conversão leva a reparação de danos
e ofensas cometidas. O perdão recebido não é sinônimo de “colocar panos
quentes” e seguir em frente. É necessário reparação.
3. O evangelho não é plataforma para revolução
social. O evangelho não muda as estruturas de fora para dentro, ele muda o
coração e as atitudes daqueles que vão liderar uma transformação social.
4. O cristianismo introduzir novas relações nas quais
as diferenças são abolidas pelo fato de que todos estão em Cristo e juntos
forma um só corpo, família e sociedade mais justa e amável.
5. Todos nós somos “onésimos” em conflito e fugindo
de nosso Senhor, inúteis em razão de nossos pecados, mas que fomos salvos e
agora devemos servir ao nosso Senhor porque nos tornamos úteis.

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