Paulo fala sobre a "disposição espiritual" e sobre salvação pela graça. Em Filipenses 3:18,19, fala dos que se dizem cristão e "só se preocupam com as coisas terrenas", mas em Filipenses 3:20, descreve o cristão autêntico que "pensa nas coisas do alto". O povo de Deus é uma colônia do céu na Terra. "Nossa pátria está nos céus" (Fp 3:20), e olhamos para a Terra do ponto de vista do céu. Essa é disposição espiritual.
É fácil envolver-se com
as "coisas" - tangíveis e visíveis, mas também as imateriais. Paulo
escreve sobre "o que, para mim, era lucro" (Fp 3:7); e também fala
das "coisas que para trás ficam" e das "que diante de mim
estão" (Fp 3:13).
A palavra-chave em Filipenses 3:1-11 é "considerar" (Fp 3:7,8,13): "avaliar, analisar". No entanto, poucas pessoas se dão ao trabalho de examinar com seriedade os valores que controlam suas decisões e rumos. Hoje em dia, muitos são escravos das "coisas" e, como resultado, não apresentam a verdadeira alegria cristã.
Como a maioria dos
religiosos de hoje, Paulo tinha moralidade suficiente para não se colocar em
situações difíceis, mas insuficiente para levá-lo ao céu! Ele teve de perder
sua "religião" para encontrar a salvação (ver At 9:1-31). Quando
Saulo avalia sua riqueza, descobriu que, em Jesus Cristo, tudo pelo que havia
vivido não passava de refugo.
Nesta seção, o apóstolo
explica que existem apenas dois tipos de justiça: pelas obras e pela fé, e
somente a justiça pela fé é aceitável a Deus.
1. A JUSTIÇA PELAS OBRAS
(Fp 3:1-6)
I. A exortação (vv.1-3). A expressão "quanto ao mais", no
versículo 1, não indica que Paulo está preste a encerrar a carta, serve para
dar início a uma nova sessão. Paulo volta a alertá-los: "Acautelai-vos
dos cães! Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão!"
A quem ele está se referindo nessa advertência tripla?
Desde o princípio, o
evangelho foi dado "primeiramente a vós outros [os judeus)" (ver At
3:26; Rm 1:16). Em Atos 8:5-25, a mensagem é levada a Samaria. A discórdia
começa quando Pedro leva o evangelho aos gentios que se converteram à fé cristã
sem aderirem antes ao judaísmo.
Não tardou para que os
cristãos judeus mais rígidos se opusessem aos gentios, obrigando-os a se
sujeitarem às regras do judaísmo a fim de serem salvos (At 15:1). A assembleia
em Jerusalém decide que os gentios não precisavam tornar-se prosélitos a fim de
se converterem ao cristianismo.
Os dissidentes, porém,
não se deram por satisfeitos. Esse grupo de falsos mestres que tentavam misturar
a Lei e a graça são os "judaizantes". A Epístola aos Gálatas foi
escrita, principalmente, para combater esses falsos ensinamentos. É a esse
grupo de judaizantes que Paulo faz referência em Filipenses 3:1,2, usando três
termos para descrevê-los.
a) "Cães. O judeu ortodoxo costumava chamar o gentio de
"cão", mas Paulo chama os judeus ortodoxos de "cães"! Como
cães, esses judaizantes mordiam os calcanhares de Paulo e o seguiam de um lugar
para outro ladrando suas falsas doutrinas. Eram agitadores e infectavam as
vítimas com ideias perigosas.
b) "Maus
obreiros." Esses homens ensinavam
que a salvação do pecador dava-se pela fé mais as boas obras, especialmente as
obras da Lei. Mas Paulo declara que suas "boas obras" na verdade, são
obras perversas, pois são realizadas pela carne (velha natureza), não pelo
Espírito, glorificando ao obreiro, não a Jesus Cristo (Efésios 2:8-10; Tito
3:3-7). As boas obras de um cristão constituem consequência de sua fé, não os
alicerces de sua salvação.
c) "Falsa
circuncisão." Literalmente
"mutilação". Os judaizantes acreditavam que a circuncisão era
essencial para a salvação (At 15:1; GI 6:12-18); mas Paulo afirma que a
circuncisão em si não passa de mutilação! A verdadeira experiência cristã é uma
circuncisão espiritual em Cristo (Cl 2:11), não requer uma operação física.
Em um contraste com os
falsos cristãos, Paulo descreve os cristãos autênticos, a "verdadeira
circuncisão" (para um texto paralelo, ver Rm 2:25-29).
·
Ele
adora a Deus no Espírito. Não
depende das próprias boas obras, que são apenas obras da carne (ver lo
4:19-24).
·
Ele se
gloria em Jesus Cristo. Quem
depende da religião costuma gloriar-se do que fazem. O verdadeiro cristão gloria-se
em Cristo.
·
Ele não
confia na carne. A religião afirma que
"Deus ajuda a quem se ajuda". A Bíblia não tem coisa alguma positiva
a dizer a respeito da "carne", e, no entanto, quase todas as pessoas
hoje se fiam inteiramente naquilo que elas próprias são capazes de fazer para
agradar a Deus.
Há somente uma "boa
obra" que pode levar o pecador para o céu: a obra que Cristo consumou na
cruz (Jo 7:1-4; 19:30; Hb 10:11-14).
II. O exemplo (vv. 4-6). Paulo sabia por experiência própria como era
inútil tentar obter a salvação por meio das boas obras (At 22:3; Gl :13, 14).
Ele abriu mão de tudo isso para se tornar um membro odiado da "seita
cristã" e pregador do evangelho!
a) A relação de Paulo
com a nação. Ele nasceu em uma
família hebraica pura e, quando foi circuncidado, passou a fazer parte de uma
aliança. A tribo de Benjamim, era a mais importante, dela veio primeiro rei de
Israel e permaneceu fiel a Davi.
b) A relação de Paulo
com a Lei. "Quanto à lei,
fariseu, [...) quanto à justiça que há na lei, irrepreensível" (Fp 3:5,6).
Para os judeus do tempo de Paulo, o fariseu era o que havia alcançado o ápice
da experiência religiosa. Ao ser medido pela justiça da Lei, Paulo era
irrepreensível. Guardava a Lei e as tradições perfeitamente.
c) A relação de Paulo
com os inimigos de Israel. Mas não basta crer na verdade; também é preciso opor-se às mentiras.
Paulo defendia sua fé ortodoxa perseguindo os seguidores "[daquele]
embusteiro", Jesus (Mt 27:62-66). Ele participou do apedrejamento de
Estêvão (At 7:54-60) e, depois disso, liderou os ataques contra a Igreja em
geral (At 8:1-3).
A essa altura, podemos
perguntar: "Como era possível um homem tão sincero quanto Saulo de Tarso
estar tão errado?" A resposta é simples: ele usou os parâmetros errados!
Como o jovem rico (Mc 10:17-22) e o fariseu na parábola de Jesus (Lc 18:10-
14), Saulo de Tarso olhava para o ser exterior, não para o ser interior.
Ao olhar para si mesmo
ou para os outros, Saulo de Tarso considerava-se justo. Mas, um dia, enxergou a
si mesmo em comparação com Jesus Cristo! Foi então que mudou seus parâmetros e
valores e abandonou a "justiça pelas obras" em troca da justiça em
Jesus Cristo.
2. A JUSTIÇA PELA FÉ (Fp
3:7-11)
Quando Paulo se
encontrou com Jesus Cristo na estrada para Damasco (At 9), creu em Jesus e se
tornou um filho de Deus. Quando Paulo teve seu encontro com Cristo, percebeu
como suas boas obras eram fúteis e como sua suposta justiça era pecaminosa, e
uma transação maravilhosa ocorreu.
I. As perdas de Paulo
(v.7). Para começar, ele
perdeu tudo o que era lucro para ele pessoalmente sem Deus. Paulo tinha uma
excelente reputação como estudioso (At 26:24) e líder religioso. Orgulhava-se
de sua herança judaica e de suas realizações religiosas. Os próprios
"tesouros" davam-lhe glória pessoal, mas não glorificavam a Deus.
Paulo não repudiou sua
ortodoxia, ele estimava tanto seu sangue judeu e a cidadania romana.
Converter-se não o tornou menos judeu. Na verdade, fez dele um judeu completo,
um verdadeiro filho de Abraão (GI 3:6-9). Ele também não rebaixou seus padrões
de moralidade, em vez disso, aceitou o padrão ainda mais elevado de vida (Rm
12:1,2). Quando uma pessoa torna-se cristã, Deus remove o que é pernicioso e
aperfeiçoa tudo o que é bom.
II. Os lucros de Paulo
(vv. 8-11). "Sábio é aquele
que dá o que não pode guardar a fim de ganhar o que não pode perder" (Jim Elliot).
Paulo perdeu sua religião e reputação, mas ganhou muito mais do que perdeu.
a. O conhecimento de
Cristo (v.8). Ter "conhecimento
de Cristo" significa ter um relacionamento pessoal com ele pela fé. É essa
experiência que Jesus menciona em João 17:3. "O cristianismo é
Cristo." A salvação é conhecer a Cristo de maneira pessoal.
b. A justiça de Cristo
(v.9). Como fariseu Paulo
busca uma justiça própria, por obras, algo que ele jamais conseguiria obter. Quando
creu em Cristo, perdeu essa justiça própria e ganhou a justiça de Cristo. O
termo técnico para essa transação é imputação (Rm 4:1-8) e significa
"depositar na conta de alguém". Quando Paulo aceitou a Cristo,
descobriu que Deus havia depositado a justiça de Cristo em sua conta! Descobriu
também que seus pecados haviam sido colocados na conta de Cristo na cruz (2Co
5:21; Rm 9:30 a 10:13).
c. A comunhão de Cristo
(v.10,11). Sua experiência com
Cristo foi tão extraordinária que transformou sua vida e continuou ao longo dos
anos.
- Foi uma experiência pessoal
("para o conhecer"), à medida que o apóstolo caminhou com Cristo,
orou, obedeceu à sua vontade e procurou glorificar seu nome. Em Cristo ele tinha
um Amigo, um Mestre, um Companheiro constante!
- Também foi uma
experiência poderosa ("e o poder da sua ressurreição"), à
medida que o poder da ressurreição de Cristo passou a operar na vida do
apóstolo. "Cristo vive em mim" (GI 2:20).
- Além disso, foi uma
experiência dolorosa ("e a comunhão dos seus sofrimentos").
Paulo sabia que era um privilégio sofrer por Cristo (Fp 1:29,30). Na verdade, o
sofrimento havia estado presente nessa experiência desde o princípio (At 9:16).
- Foi uma experiência prática
para ele ("conformando-me com ele na sua morte"). Paulo viveu para
Cristo porque morreu para si mesmo (Rm 6); tomou sua cruz diariamente e seguiu
seu Mestre. O resultado dessa morte foi uma ressurreição espiritual (Fp 3:11)
que levou Paulo a andar "em novidade de vida" (Rm 6:4).
Sem dúvida, Paulo ganhou
muito mais do que perdeu. Seus lucros foram tão admiráveis que, em termos
comparativos, o apóstolo considerou que todas as outras coisas não passavam
de refugo!
Aplicações:
1.
Quem vive
em se função das "coisas" jamais encontra a felicidade
verdadeira, pois precisa sempre proteger seus tesouros e se preocupar se
seus bens estão desvalorizando.
2.
Devemos hoje combater os
falsos mestres e os falsos ensinos. A doutrina e a teologia importam na
pregação do puro evangelho da salvação por Jesus Cristo.
3.
A religião mística é
falha quando promete oferecer salvação por meio das cerimonias religiosas que
enfatizam a salvação pelas obras pessoais.
4.
Somos justificados
diante de Deus não por nossas obras, mas pela nossa fé em Jesus Cristo como
Senhor e Salvador.
5.
Nós podemos experimentar
o poder da Cruz e o poder da ressurreição na nossa vida diária por meio do
quebrantamento, humilhação, renúncia e vitória sobre o pecado.
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