As pessoas podem nos
privar da alegria. Paulo enfrentava problemas com os romanos (Fp 1:15-18) e
também com os filipenses - uma possível divisão na igreja. A união estava sendo
ameaçada tanto por elementos exteriores (falsos profetas; Fp 3:1-3) quanto
interiores (membros que não se entendiam; Fp 4:1-3).
Há diferença entre
unidade e uniformidade. A verdadeira unidade espiritual é de origem interior,
vem do coração. A uniformidade é resultante de pressão exterior. Por isso,
Paulo apela para as motivações espirituais mais elevadas possíveis (Fp 2:1-4).
O estar "em Cristo", deve servir de estímulo, a fim de se esforçar para ter unidade e amor, não divisão e rivalidade. As desavenças revelam que há um problema espiritual na comunhão. Os desentendimentos não serão resolvidos com regras nem com ameaças, mas sim com coração sendo posto em ordem com Deus e uns com os outros.
A causa fundamental dos
problemas eram o egoísmo, o qual, por sua vez, nasce do orgulho. Não pode haver
alegria na vida do cristão que se coloca acima de outros conforme v.3.
Ser submisso não
significa que o cristão está à disposição de todos para satisfazer seus
desejos, ou que seja um "capacho" para todos! Há quem tente comprar
amigos e manter a unidade da igreja "cedendo" aos caprichos e desejos
de todos.
Paulo apresenta quatro
exemplos de submissão: Jesus Cristo (Fp 2:1-11), o próprio Paulo (Fp 2:12-18),
Timóteo (Fp 2:19- 24) e Epafrodito (Fp 2:25-30). É evidente que o exemplo
supremo é Jesus, e Paulo começa por ele. Jesus Cristo ilustra as quatro
características do indivíduo com uma atitude submissa.
1. ELE PENSA NOS OUTROS,
NÃO EM SI MESMO (Fp 2:5,6)
O versículo 5 pode ser
traduzido: "sua atitude deve ser a mesma que a de Jesus Cristo".
Afinal, nossa visão de mundo tem consequências. Se for egoísta, nossos atos
serão destrutivos e trarão desunião (Tg 4:1-10).
Ser "igual a Deus"
não tem relação com o formato ou o tamanho de Deus, pois ele é Espírito (Jo
4:24), antes, está usando termos humanos para descrever atividades e atributos
divinos (as características de Deus). Ser "igual" refere-se à
"expressão exterior da natureza interior", Jesus Cristo é Deus.
Jesus Cristo não
precisava de coisa alguma! Tinha toda a glória e o louvor do céu e, reinava
sobre o universo. Mas Filipenses 2:6 declara um fato extraordinário: ele não
considerava sua igualdade com Deus "usurpação" nem "algo a que
se apegar egoisticamente".
Jesus não pensava em si
mesmo, pensava nos outros. Sua visão de mundo (ou atitude) era de preocupação
abnegada pelos outros. Esse é "o mesmo sentimento que houve também em
Cristo", uma atitude que diz: "não posso guardar meus privilégios
para mim mesmo, devo usá-los para beneficiar a outros e, a fim de fazê-lo,
colocarei esses privilégios de lado e pagarei o preço necessário".
Para descobrir o
verdadeiro caráter de uma pessoa, não lhe dê responsabilidades, e sim
privilégios. O cristão usará seus privilégios para ajudar a outros; o não
cristão usará os privilégios para promover a si mesmo. Jesus usou seus
privilégios celestiais para o bem de outros: para nosso bem.
É interessante quando contrastamos
a atitude de Cristo, a de Lúcifer (ls 14:12-15) e a de Adão (Gn 3:1-7). Lúcifer
era o maior dos seres angelicais, próximo ao trono de Deus (Ez 28:11-19), mas
desejou assentar-se no trono! Lúcifer disse: "Seja feita a minha
vontade!", enquanto Jesus disse: "Seja feita a tua vontade".
Lúcifer não se contentou em ser uma criatura; quis ser o Criador! Jesus era o
Criador e, no entanto, se tornou homem voluntariamente.
Adão tinha tudo de que
precisava; era "rei" sobre a criação de Deus (Gn 1:26). O homem
tentou, deliberadamente, se apropriar de algo fora de seu alcance e, como
resultado, lançou a humanidade inteira no abismo do pecado e da morte. Adão e
Eva pensaram apenas em si mesmos; Jesus pensou nos outros.
É de se esperar que
pessoas incrédulas sejam egoístas e cobiçosas, mas não esperamos isso de
cristãos que experimentaram o amor de Cristo e a comunhão do Espírito (Fp
2:1,2). Em mais de vinte ocasiões, ao longo do Novo Testamento, Deus nos
instrui sobre como viver "uns com os outros". Devemos nos preferir
uns aos outros (Rm 12:10), edificar uns aos outros (1 Ts 5:11) e carregar os
fardos uns dos outros (GI 6:2). Não devemos julgar uns aos outros (Rm 14:13),
mas sim admoestar uns aos outros (Rm 15:14).
2. ELE SERVE, NÃO BUSCA
SER SERVIDO (Fp 2:7)
Pensar nos
"outros" apenas em sentido abstrato não é suficiente; devemos
considerar a essência do verdadeiro serviço. Jesus pensou nos outros e se
tornou um servo: 1. Esvaziou-se, colocando de lado o uso independente de seus
atributos divinos; 2. tornou-se humano permanentemente, em um corpo físico sem
pecado; 3. Usou esse corpo para ser servo; 4. Levou esse corpo à cruz e morreu
voluntariamente.
Que graça maravilhosa!
Do céu à Terra, da glória à vergonha, de Senhor a servo, de vida à morte, "até
à morte e morte de cruz"! É interessante observar que, em Filipenses 2:7,
Paulo volta a usar a palavra "forma": "a expressão exterior da
natureza interior". Jesus não fingiu que era um servo nem fez o papel de
servo como se fosse um ator. Ele se tornou, verdadeiramente, um servo!
Ao ler os quatro
Evangelhos, podemos observar como é Jesus quem serve aos outros, não o
contrário. Ele se coloca à disposição de pessoas de todo tipo: pecadores,
meretrizes, coletores de impostos, enfermos e aflitos (Mt 20:28; Jo 13).
Assumiu a posição do mais humilde dos servos e colocou a submissão em prática. Não
pensava em si mesmo, apenas em servir aos outros. O serviço é o segundo sinal
de submissão.
Muitas pessoas estão
dispostas a servir aos outros desde que isso não lhes custe coisa alguma. Mas
se precisarem pagar algum preço, perdem o interesse no mesmo instante. Jesus
tornou-se "obediente até à morte e morte de cruz" (Fp 2:8). Não
morreu como um mártir, mas sim como Salvador. Entregou a vida voluntariamente
pelos pecados do mundo.
"O ministério que
não custa coisa alguma não realiza coisa alguma". A fim de haver bênção,
também é preciso haver sacrifício. A cruz de meu Senhor custou caro. Por que
minha cruz deveria ser diferente?"
Quem tem uma atitude de
submissão não evita sacrifícios; vive para a glória de Deus e para o bem dos
outros; se há um preço para honrar a Cristo e ajudar o semelhante, está
disposto a pagá-lo. Essa foi a atitude de Paulo (Fp 2:17), Timóteo (Fp 2:20) e
também Epafrodito (Fp 2:30). A fim de ser uma expressão verdadeira do
ministério cristão, o serviço precisa ser acompanhado de sacrifício.
O teste da submissão não
se refere apenas ao que estamos dispostos a suportar em termos de sofrimento,
mas também ao que estamos dispostos a oferecer em termos de sacrifício.
Um dos paradoxos da vida
cristã é que, quanto mais damos, mais recebemos; quanto mais sacrificamos, mais
Deus abençoa. A submissão produz alegria, pois ela nos torna mais semelhantes a
Cristo. Isso significa que participamos de sua alegria ao participar também de
seu sofrimento.
É evidente que, quando a
verdadeira motivação é o amor (Fp 2:1), o sacrifício nunca é medido nem
mencionado. A pessoa que sempre fala dos sacrifícios que faz não tem uma
atitude de submissão. Ser cristão lhe custa alguma coisa?
4. ELE GLORIFICA A DEUS
(Fp 2:9-11)
Este é, evidentemente, o
objetivo maior de tudo o que fazemos: glorificar a Deus. Paulo adverte sobre a
"vanglória" (2:3). O tipo de rivalidade que coloca um cristão contra
outro e um ministério contra outro não é espiritual nem gratificante, apenas
fútil e vão.
A exaltação de Cristo
começou com sua ressurreição. Quando os homens sepultaram o corpo de Jesus, Deus
começou a operar. Os homens fizeram as piores coisas possíveis ao Salvador, mas
Deus o exaltou e honrou. Ele ressuscitou dentre os mortos e voltou em vitória
para o céu, elevando-se ao trono do Pai.
Sua exaltação incluiu
autoridade soberana sobre todas as criaturas no céu, na terra e debaixo da
terra. Todas se prostrarão diante dele (ver Is 45:23). Um dia, todos se
prostrarão diante dele e confessarão que ele é Senhor. Prostrar-se diante do
Senhor hoje significa salvação (Rm 10:9, 10); prostrar-se diante dele no dia do
julgamento significa condenação.
O propósito da
humilhação e exaltação de Cristo é a glória de Deus (Fp 2:11). Quando Jesus
enfrentou a cruz, pensou, acima de tudo, na glória de Deus (Jo 17:1). Além
disso, ele nos deu essa glória (Jo 17:22), e um dia participaremos dela com
Cristo no céu (Jo 17:24; ver Rm 8:28-30).
Uma vez que a pessoa com
atitude submissa vive para os outros, deve esperar sacrifício e serviço, mas,
no final, tudo redundará em glória. José no Egito; Davi foi exaltado por Deus
como rei de Israel.
A alegria da submissão
não é resultante apenas de ajudar a outros e de participar da comunhão dos
sofrimentos de Cristo (Fp 3:10), mas principalmente de saber que estamos
glorificando a Deus. Deixamos nossa luz brilhar por meio de nossas boas obras
e, desse modo, glorificando ao Pai no céu (Mt 5:16). Talvez não vejamos a
glória no presente, mas a veremos quando Jesus voltar e recompensar seus servos
fiéis.
Aplicações:
1.
A desunião é o perigo de
toda Igreja sadia. Onde há uma ambição egoísta, desejo de prestígio pessoal,
cada um se concentra em seus próprios interesses, ali não pode existir outra
coisa senão desunião.
2.
Ninguém pode caminhar
desunido com seu semelhante e ao mesmo tempo estar unido a Cristo. Se a pessoa
tiver a Cristo como companheiro de caminhada, inevitavelmente é companheiro de
todo caminhante.
3.
Aquele que conhece o
amor cristão e permanece nEle, e embora de uma maneira muito imperfeita, não
pode viver em desunião com outros.
4.
Se a pessoa viver em
desunião com seus semelhantes dá prova de não possuir o dom do Espírito.
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