15 de jun. de 2023

Cooperar para Comunhão

Filipenses 1.3-11 
A Cooperação no Evangelho Produz a Verdadeira Comunhão

A igreja em Filipos foi plantada por Paulo na segunda viagem Missionária. Lídia, a comerciante asiática de classe alta; a jovem grega escrava de classe baixa e o carcereiro romano de classe média foram os primeiros convertidos.

Cinco anos depois Paulo passou pela igreja quando fazia sua terceira viagem missionária. Dez anos depois, quando estava preso em Roma ele escreve a carta para agradecer a ajuda enviada através de Epafrodito, e para justificar a demora do mesmo em regressar.

Sem dúvida, a situação de Paulo era qualquer coisa, menos alegre! Ele foi preso ilegalmente, levado para Roma e aguardava julgamento. Havia divisão entre os cristãos de Roma (1:14-17), e alguns tentavam piorar as coisas para o apóstolo.

Como ele podia sentir tal alegria em meio a uma situação inquietante? Ele tinha "mente sincera" — preocupava-se com Cristo e o evangelho, não consigo. No primeiro capítulo, ele menciona cinco vezes o evangelho (v.5,7,12,16,27) e Cristo, dezessete vezes!

Paulo via sua situação como algo que Deus enviou (v.13) com a finalidade de exaltar a Cristo (v.20). Paulo reclamaria da vida inquietante, se fosse inconstante. Estar "em Cristo" e fazer parte da comunhão cristã são uma fonte de alegria em momentos de dificuldade. Aqui, temos Paulo preso em Roma, mas mesmo assim ele se regozija pela comunhão do evangelho

Em Filipenses 1:3-11, Paulo usa três ideias que descrevem a verdadeira comunhão cristã. A presença na memória (v.3-6), a presença no coração (v.7, 8) e a presença nas orações (v.9-11).

 

1. A PRESENÇA NA MEMÓRIA (Fp 1:3-6)

É impressionante ver Paulo pensando nos outros, não em si mesmo. Enquanto o apóstolo aguarda seu julgamento em Roma, os cristãos de Filipos lhe vêm à memória, e ele se alegra com as recordações que tem deles.

Algumas coisas que aconteceram a Paulo em Filipos (At 16) que poderiam ter deixado lembranças tristes. Foi preso e açoitado ilegalmente, colocado no tronco e humilhado diante do povo. Mas até mesmo essas memórias alegram o coração de Paulo, pois foi por meio desse sofrimento que o carcereiro conheceu a Cristo!

É possível que Filipenses 1:5 seja uma referência a sua cooperação financeira com Paulo (Fl 4:14-19). A igreja de Filipos foi a única congregação que contribuiu para sustentar o ministério de Paulo.

A expressão "boa obra", em Filipenses 1:6, pode ser uma referência a esse compartilhamento de seus recursos; essa obra foi iniciada pelo Senhor, e Paulo estava certo de que o Senhor a continuaria e completaria.

Mas não se foge do significado do texto ao aplicar esses versículos à salvação e à vida cristã. Ninguém é salvo pelas boas obras (Ef 2:8, 9). Em Filipenses 2:12, 13, vemos que Deus continua a trabalhar em nós por meio de seu Espírito. Em outras palavras, a salvação compreende uma obra tripla:

·        a obra que Deus realiza por nós – a salvação;

·        a obra que Deus realiza em nós – a santificação;

·        a obra que Deus realiza por meio de nós - o serviço.

Essa obra terá continuidade até vermos Cristo e, então, será consumada (1 Jo 3:2).

Paulo se alegra em saber que Deus continua a operar na vida de seus irmãos e irmãs em Cristo em Filipos. Afinal, essa é a verdadeira base para comunhão cristã jubilosa: Deus operando em nossa vida diariamente.

 

2. A PRESENÇA NO CORAÇÃO (Fp 1:7, 8)

O amor profundo de Paulo por seus amigos é algo que não pode ser disfarçado nem escondido. O amor cristão é o maior elemento de união e a prova da salvação (1 Jo 3:14). É o "lubrificante espiritual" que garante o bom funcionamento do motor de nossa vida.

É interessante observar como Paulo usa a expressão "todos vós" com frequência nesta epístola, referindo-se diretamente a todos os seus leitores em pelo menos nove ocasiões. Ele não deseja deixar ninguém de fora!

De que maneira Paulo demonstrava seu amor por eles? Em primeiro lugar, estava sofrendo por eles. Suas cadeias eram prova de seu amor. Ele era "prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios" (Ef 3:1). O julgamento de Paulo daria ao cristianismo a oportunidade de receber uma audiência justa diante das autoridades romanas.

Uma vez que Filipos era uma colônia de Roma, o veredicto também afetaria os cristãos filipenses, o amor de Paulo não era da boca para fora; era algo que ele praticava. O apóstolo considerava suas circunstâncias difíceis uma oportunidade para defender e confirmar o evangelho, o que seria benéfico para os irmãos em Cristo em toda a parte.

Mas como os cristãos podem aprender a colocar em prática esse tipo amor?  O amor cristão não é algo que geramos dentro de nós, mas sim algo que Deus faz em nós e por meio de nós. Paulo ansiava por seus amigos "na terna misericórdia de Cristo Jesus" (Fp 1:8). Não se trata do amor de Paulo transmitido a eles por meio de Cristo, mas sim do amor de Cristo transmitido por meio de Paulo (Rm 5:5). Quando permitimos que Deus realize sua "boa obra" em nós, passamos a amar uns aos outros cada vez mais.

Como saber se estamos verdadeiramente ligados a outros cristãos em amor?

·        Em primeiro lugar, quando nos preocupamos com eles. Os cristãos em Filipos preocupavam-se com Paulo e enviaram Epafrodito para lhe ministrar. Paulo também se preocupava extremamente com seus amigos em Filipos, especialmente quando Epafrodito caiu enfermo e não pôde voltar de imediato (Fp 2:25-28).

·        Outra evidência do amor cristão é uma disposição de perdoar uns aos outros. "Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados" (1 Pe 4:8).

Os cristãos que praticam o amor sempre experimentam alegria, pois as duas coisas são resultado da presença do mesmo Espírito Santo. "Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria..." (GI 5:22).

 

3. A PRESENÇA NAS ORAÇÕES (Fp 1:9-11)

Paulo também se alegra em se lembrar deles diante do trono da graça em oração. Como o sacerdote (Êx 28:15-29), Paulo trazia o povo junto ao coração em amor. A maior comunhão cristã e alegria que podemos experimentar encontre-se diante do trono da graça, ao orarmos uns com os outros e uns pelos outros.

Vê-se aqui uma oração pedindo maturidade, e Paulo começa com o amor. Afinal, se o amor cristão se desenvolver corretamente, o resto será consequência. O apóstolo pede que os filipenses experimentem amor abundante e discernente. O amor cristão não é cego! Paulo deseja que seus amigos cresçam em discernimento, ou seja, na capacidade de "fazer distinção entre coisas diferentes".

A capacidade de distinguir é um sinal de maturidade. O amor discernente é um dos sinais inequívocos de maturidade.

Paulo também ora pedindo que tenham um caráter cristão maduro e que sejam "sinceros e inculpáveis". O termo grego traduzido por "sinceros" pode ter vários significados.

·        Alguns o traduzem por "testado à luz do sol". O cristão sincero não tem medo de ser exposto à luz.

·        O vocábulo correspondente a sincero também significa "girar em uma peneira", o que sugere a ideia de separar a palha do trigo.

·        Na língua portuguesa, o adjetivo "sincero" vem do latim sinceru, que significa "sem mistura, não adulterado, puro".

Em ambos os casos, a verdade é a mesma: Paulo ora para que seus amigos tenham um caráter que possa ser testado e aprovado.

Paulo ora por eles para que tenham amor e caráter cristão maduros, "inculpáveis para o Dia de Cristo"(Fp 1:10) Isso significa que a vida não deve ser motivo de tropeço para outros e que estamos preparados para o tribunal de Cristo em sua volta (ver 2 Co 5:10; 1Jo 2:28).

Paulo também ora para que tenham um serviço cristão maduro. Deseja que sejam plenos e abundantes em frutos (Fp 1:11). Não está interessado apenas nas "atividades da igreja", mas sim no tipo de fruto espiritual produzido quando se está em comunhão com Cristo (Jo 15:4). Muitos cristãos tentam "gerar resultados" por meio dos próprios esforços em vez de permanecer em Cristo e permitir que ele produza os frutos.

Qual é o "fruto" que Deus deseja ver em nossa vida? Sem dúvida, o "fruto do Espírito" (GI 5:22,23), o caráter cristão que glorifica a Deus. Paulo compara o trabalho de ganhar almas perdidas para Cristo com a produção de fruto (Rm 1:13) e cita a "santidade" como um fruto espiritual (Rm 6:22). Exorta-nos, ainda, a "[frutificar] em toda boa obra" (Cl1:1 O). Hebreus fala do louvor como o "fruto [dos] lábios" (Hb 13:15).

A árvore frutífera não faz barulho enquanto produz sua safra; apenas permite que a vida interior trabalhe de maneira natural, redundando em frutos. (Jo 15:5).

A diferença entre o fruto espiritual e a "atividade religiosa" humana é que o fruto glorifica a Jesus Cristo. Sempre que alguém faz algo pelas próprias forças, há a tendência de vangloriar-se. O verdadeiro fruto espiritual é tão lindo e maravilhoso que ninguém é capaz de assumir o crédito; a glória deve ser dada somente a Deus.

Eis, portanto, a verdadeira comunhão cristã: o compartilhamento é um elemento em comum bem mais profundo que a simples amizade. A presença na memória, no coração e nas orações - esse é tipo de comunhão que produz alegria e que é resultante de uma mente determinada.

 

Aplicações:

1.      Paulo pensava nos santos (nos outros), não   em si mesmo. Cada lembrança (mesmo o sofrimento da prisão – At 16) era uma bênção para ele.

2.    Ele, quando orava, regozijava-se pela salvação e pelo crescimento deles.  Ele sabia que Cristo terminaria o que ele começou na vida deles.

3.     Um grupo misto de pessoas – Lídia, o carcereiro, a jovem escrava - estavam unidas pelo amor por Cristo e de uns pelos outros.

4.     Paulo sempre tinha tempo para orar para as pessoas terem uma vida plena em amor e discernimento e fossem fiéis, era uma oração por maturidade cristã. Um cristão inútil é uma tragédia!

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