A igreja em Filipos foi plantada por Paulo na
segunda viagem Missionária. Lídia, a comerciante asiática de classe alta; a
jovem grega escrava de classe baixa e o carcereiro romano de classe média foram
os primeiros convertidos.
Cinco anos depois Paulo passou pela igreja
quando fazia sua terceira viagem missionária. Dez anos depois, quando estava
preso em Roma ele escreve a carta para agradecer a ajuda enviada através de
Epafrodito, e para justificar a demora do mesmo em regressar.
Sem dúvida, a situação de Paulo era qualquer coisa, menos alegre! Ele foi preso ilegalmente, levado para Roma e aguardava julgamento. Havia divisão entre os cristãos de Roma (1:14-17), e alguns tentavam piorar as coisas para o apóstolo.
Como ele podia sentir tal alegria em meio a uma
situação inquietante? Ele tinha "mente sincera" — preocupava-se com
Cristo e o evangelho, não consigo. No primeiro capítulo, ele menciona cinco
vezes o evangelho (v.5,7,12,16,27) e Cristo, dezessete vezes!
Paulo via sua situação como algo que Deus
enviou (v.13) com a finalidade de exaltar a Cristo (v.20). Paulo reclamaria da
vida inquietante, se fosse inconstante. Estar "em Cristo" e fazer
parte da comunhão cristã são uma fonte de alegria em momentos de dificuldade. Aqui,
temos Paulo preso em Roma, mas mesmo assim ele se regozija pela comunhão do
evangelho
Em Filipenses 1:3-11, Paulo usa três ideias que
descrevem a verdadeira comunhão cristã. A presença na memória (v.3-6), a
presença no coração (v.7, 8) e a presença nas orações (v.9-11).
1. A PRESENÇA NA MEMÓRIA (Fp 1:3-6)
É impressionante ver Paulo pensando nos outros,
não em si mesmo. Enquanto o apóstolo aguarda seu julgamento em Roma, os cristãos
de Filipos lhe vêm à memória, e ele se alegra com as recordações que tem deles.
Algumas coisas que aconteceram a Paulo em Filipos
(At 16) que poderiam ter deixado lembranças tristes. Foi preso e açoitado
ilegalmente, colocado no tronco e humilhado diante do povo. Mas até mesmo essas
memórias alegram o coração de Paulo, pois foi por meio desse sofrimento que o
carcereiro conheceu a Cristo!
É possível que Filipenses 1:5 seja uma referência
a sua cooperação financeira com Paulo (Fl 4:14-19). A igreja de Filipos
foi a única congregação que contribuiu para sustentar o ministério de Paulo.
A expressão "boa obra", em
Filipenses 1:6, pode ser uma referência a esse compartilhamento de seus
recursos; essa obra foi iniciada pelo Senhor, e Paulo estava certo de que o
Senhor a continuaria e completaria.
Mas não se foge do significado do texto ao
aplicar esses versículos à salvação e à vida cristã. Ninguém é salvo pelas boas obras (Ef 2:8, 9). Em Filipenses 2:12, 13, vemos que Deus continua
a trabalhar em nós por meio de seu Espírito. Em outras palavras, a salvação
compreende uma obra tripla:
·
a obra que Deus realiza por nós – a
salvação;
·
a obra que Deus realiza em nós – a
santificação;
·
a obra que Deus realiza por meio de nós
- o serviço.
Essa obra terá continuidade até vermos Cristo
e, então, será consumada (1 Jo 3:2).
Paulo se alegra em saber que Deus continua a
operar na vida de seus irmãos e irmãs em Cristo em Filipos. Afinal, essa é a
verdadeira base para comunhão cristã jubilosa: Deus operando em nossa vida diariamente.
2. A PRESENÇA NO CORAÇÃO (Fp 1:7, 8)
O amor profundo de Paulo por seus amigos é algo que não pode ser
disfarçado nem escondido. O amor cristão é o maior elemento de união e a prova
da salvação (1 Jo 3:14). É o "lubrificante espiritual" que garante o
bom funcionamento do motor de nossa vida.
É interessante observar como Paulo usa a expressão "todos vós"
com frequência nesta epístola, referindo-se diretamente a todos os seus
leitores em pelo menos nove ocasiões. Ele não deseja deixar ninguém de fora!
De que maneira Paulo demonstrava seu amor por eles? Em primeiro lugar, estava
sofrendo por eles. Suas cadeias eram prova de seu amor. Ele era
"prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios" (Ef 3:1). O
julgamento de Paulo daria ao cristianismo a oportunidade de receber uma
audiência justa diante das autoridades romanas.
Uma vez que Filipos era uma colônia de Roma, o veredicto também afetaria
os cristãos filipenses, o amor de Paulo não era da boca para fora; era algo que
ele praticava. O apóstolo considerava suas circunstâncias difíceis uma
oportunidade para defender e confirmar o evangelho, o que seria benéfico para
os irmãos em Cristo em toda a parte.
Mas como os cristãos podem aprender a colocar em prática esse tipo amor?
O amor cristão não é algo que geramos
dentro de nós, mas sim algo que Deus faz em nós e por meio de nós. Paulo
ansiava por seus amigos "na terna misericórdia de Cristo Jesus"
(Fp 1:8). Não se trata do amor de Paulo transmitido a eles por meio de Cristo,
mas sim do amor de Cristo transmitido por meio de Paulo (Rm 5:5). Quando
permitimos que Deus realize sua "boa obra" em nós, passamos a amar
uns aos outros cada vez mais.
Como saber se estamos verdadeiramente ligados a outros cristãos em amor?
·
Em primeiro lugar, quando nos preocupamos com eles. Os cristãos
em Filipos preocupavam-se com Paulo e enviaram Epafrodito para lhe ministrar.
Paulo também se preocupava extremamente com seus amigos em Filipos,
especialmente quando Epafrodito caiu enfermo e não pôde voltar de imediato (Fp
2:25-28).
·
Outra evidência do amor cristão é uma disposição de perdoar uns aos
outros. "Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os
outros, porque o amor cobre multidão de pecados" (1 Pe 4:8).
Os cristãos que praticam o amor sempre experimentam alegria, pois as
duas coisas são resultado da presença do mesmo Espírito Santo. "Mas o
fruto do Espírito é: amor, alegria..." (GI 5:22).
3. A PRESENÇA NAS ORAÇÕES (Fp 1:9-11)
Paulo também se alegra em se lembrar deles diante do trono da graça em
oração. Como o sacerdote (Êx 28:15-29), Paulo trazia o povo junto ao coração em
amor. A maior comunhão cristã e alegria que podemos experimentar encontre-se
diante do trono da graça, ao orarmos uns com os outros e uns pelos outros.
Vê-se aqui uma oração pedindo maturidade, e Paulo começa
com o amor. Afinal, se o amor cristão se desenvolver corretamente, o resto
será consequência. O apóstolo pede que os filipenses experimentem amor
abundante e discernente. O amor cristão não é cego! Paulo deseja que seus
amigos cresçam em discernimento, ou seja, na capacidade de "fazer
distinção entre coisas diferentes".
A capacidade de distinguir é um sinal de maturidade. O amor discernente
é um dos sinais inequívocos de maturidade.
Paulo também ora pedindo que tenham um caráter cristão maduro
e que sejam "sinceros e inculpáveis". O termo grego traduzido por
"sinceros" pode ter vários significados.
·
Alguns o traduzem por "testado à luz do sol". O cristão
sincero não tem medo de ser exposto à luz.
·
O vocábulo correspondente a sincero também significa "girar em uma
peneira", o que sugere a ideia de separar a palha do trigo.
·
Na língua portuguesa, o adjetivo "sincero" vem do latim sinceru,
que significa "sem mistura, não adulterado, puro".
Em ambos os casos, a verdade é a mesma: Paulo ora para que seus amigos
tenham um caráter que possa ser testado e aprovado.
Paulo ora por eles para que tenham amor e caráter cristão maduros,
"inculpáveis para o Dia de Cristo"(Fp 1:10) Isso significa que a vida
não deve ser motivo de tropeço para outros e que estamos preparados para o
tribunal de Cristo em sua volta (ver 2 Co 5:10; 1Jo 2:28).
Paulo também ora para que tenham um serviço cristão maduro.
Deseja que sejam plenos e abundantes em frutos (Fp 1:11). Não está interessado
apenas nas "atividades da igreja", mas sim no tipo de fruto
espiritual produzido quando se está em comunhão com Cristo (Jo 15:4). Muitos
cristãos tentam "gerar resultados" por meio dos próprios esforços em
vez de permanecer em Cristo e permitir que ele produza os frutos.
Qual é o "fruto" que Deus deseja ver em nossa vida? Sem
dúvida, o "fruto do Espírito" (GI 5:22,23), o caráter cristão que
glorifica a Deus. Paulo compara o trabalho de ganhar almas perdidas para Cristo
com a produção de fruto (Rm 1:13) e cita a "santidade" como um fruto
espiritual (Rm 6:22). Exorta-nos, ainda, a "[frutificar] em toda boa
obra" (Cl1:1 O). Hebreus fala do louvor como o "fruto [dos]
lábios" (Hb 13:15).
A árvore frutífera não faz barulho enquanto produz sua safra; apenas
permite que a vida interior trabalhe de maneira natural, redundando em frutos. (Jo
15:5).
A diferença entre o fruto espiritual e a "atividade religiosa"
humana é que o fruto glorifica a Jesus Cristo. Sempre que alguém faz algo pelas
próprias forças, há a tendência de vangloriar-se. O verdadeiro fruto espiritual
é tão lindo e maravilhoso que ninguém é capaz de assumir o crédito; a glória
deve ser dada somente a Deus.
Eis, portanto, a verdadeira comunhão cristã: o compartilhamento é um
elemento em comum bem mais profundo que a simples amizade. A presença na
memória, no coração e nas orações - esse é tipo de comunhão que produz alegria
e que é resultante de uma mente determinada.
Aplicações:
1.
Paulo pensava nos santos (nos outros),
não em si mesmo. Cada lembrança (mesmo
o sofrimento da prisão – At 16) era uma bênção para ele.
2.
Ele, quando orava, regozijava-se pela
salvação e pelo crescimento deles. Ele
sabia que Cristo terminaria o que ele começou na vida deles.
3.
Um grupo misto de pessoas – Lídia, o
carcereiro, a jovem escrava - estavam unidas pelo amor por Cristo e de uns pelos
outros.
4.
Paulo sempre tinha tempo para orar para as
pessoas terem uma vida plena em amor e discernimento e fossem fiéis, era uma
oração por maturidade cristã. Um cristão inútil é uma tragédia!
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