Paulo tinha o desejo de pregar o evangelho em Roma, centro de um império grandioso, principal cidade daquela época. Se Paulo a conquistasse para Cristo, milhões de pessoas seriam alcançadas pela mensagem da salvação. Era a oportunidade de ser o pioneiro do evangelho.
Paulo chega em Roma como prisioneiro, não como
evangelista. Ele a resume todos os sofrimentos narrados em Atos 21:17-28:31 com
uma expressão: "as coisas que me aconteceram" (Fp 1:12):
·
Tudo começa com a prisão ilegal no templo em
Jerusalém; tornou-se o centro de tramas políticas e religiosas e permaneceu
preso em Cesaréia por dois anos.
·
Quando apelou para César foi enviado para
Roma. A caminho da capital, seu navio naufragou (At 27).
· Depois de três meses de espera na ilha de Malta, Paulo finalmente embarcou para Roma, a fim de comparecer à audiência perante César.
A alegria de Paulo não era decorrente de
circunstâncias ideais (o cenário apontaria mais para fracasso); ele se alegrava
em ganhar outros para Cristo. E se as circunstâncias favoreciam o progresso do
evangelho, era isso que importava.
O termo progresso significa
"avanço pioneiro". É um termo militar grego que se referia aos
engenheiros do exército que avançavam à frente das tropas para abrir caminho em
novos territórios. Paulo não se encontrava confinado numa prisão, sua situação
havia lhe aberto novos campos de ministério.
Deus ainda deseja que seus filhos levem o
evangelho a novos campos. Deseja que sejamos pioneiros e, por vezes, cria
situações em que não podemos ser outra coisa senão pioneiros. Foi assim que o
evangelho chegou pela primeira vez a Filipos!
Paulo havia tentado entrar em outra região,
mas Deus repetidamente havia fechado as portas (At 16:6-10). Paulo desejava
levar a mensagem para o Oriente, às regiões da Ásia, mas Deus o dirigiu a
pregar no Ocidente, em regiões da Europa.
Por vezes, Deus usa instrumentos estranhos
para nos ajudar a ser pioneiros do evangelho. No caso de Paulo, três
instrumentos o ajudaram a levar o evangelho aos pretorianos, a guarda de elite
de César: suas cadeias (Fp 1:12-14), seus críticos (Fp 1:15-19) e sua crise (Fp
1:20-26).
1. AS CADEIAS DE PAULO (12-14)
O mesmo Deus que usou o bordão de Moisés, os jarros
de Gideão e a funda de Davi usou as cadeias de Paulo. As correntes romanas libertaram
Paulo para pregar o evangelho: "estou sofrendo até algemas, como
malfeitor; contudo, a palavra de Deus não está algemada" (2 Tm 2:9). Em
lugar de se queixar das suas cadeias, Paulo consagrou-as a Deus e pediu que as
usasse para o avanço pioneiro do evangelho. E Deus respondeu a suas orações.
a)
Essas cadeias deram a Paulo a oportunidade de
ter contato com os perdidos. Ele permanecia acorrentado a um soldado romano vinte
e quatro horas por dia! Cada soldado cumpria um turno de seis horas, o que
significava que Paulo poderia testemunhar a pelo menos quatro homens todos os
dias! Em pouco tempo, alguns desses soldados aceitaram a Cristo. Paulo pôde
levar o evangelho à guarda de elite pretoriana, algo que teria sido impossível
se estivesse livre.
b)
Mas as cadeias permitiram que Paulo tivesse
contato com outro grupo de pessoas: os oficiais do tribunal de César. Ele era
prisioneiro do Estado, e seu caso era importante. O governo romano estava
prestes a determinar a situação oficial da "seita cristã". Era apenas
mais uma seita do judaísmo ou algo novo e possivelmente perigoso? Isso obriga os
oficiais de César a estudar as doutrinas da fé cristã!
Às vezes, Deus precisa colocar
"cadeias" em seu povo para que realizem um avanço pioneiro que não
poderia se dar de outra maneira: mães que cuidam dos filhos; patrões que
interagem com empregados; profissionais que passam o dia no escritório, etc.
Eis o segredo: quando existe determinação,
olha-se para as circunstâncias como oportunidades de Deus para o avanço do
evangelho, e há regozijo com aquilo que Deus fará em vez de queixas por aquilo
que Deus não fez.
As cadeias de Paulo também serviram para
encorajar os salvos. Ao verem a fé e a determinação de Paulo, muitos cristãos
de Roma tiveram sua coragem renovada (Fp 1:14) e "[ousaram] falar com mais
desassombro a palavra de Deus". Aqui, o verbo falar não se refere às
"pregações", mas sim às conversas diárias.
Talvez nossas cadeias não sejam tão
dramáticas ou difíceis, mas, sem dúvida, Deus pode usá-Ias da mesma forma.
2. OS CRÍTICOS DE PAULO (15-19)
É difícil imaginar, mas alguns cristãos de
Roma se opuseram a Paulo. As igrejas da capital estavam divididas. Alguns
grupos pregavam a Cristo com sinceridade, visando a salvação dos perdidos.
Outros, porém, pregavam a Cristo por motivos escusos, o que dificultava ainda
mais a situação de Paulo.
Estes últimos usavam o evangelho como um meio
de alcançar propósitos egoístas. É possível que tais indivíduos fizessem parte
da ala "legalista" da igreja, contrária ao ministério de Paulo aos
gentios e a sua ênfase sobre a graça de Deus em vez de na obediência à Lei judaica.
A inveja e a contenda andam juntas, da mesma forma que o amor e a unidade são
inseparáveis.
Paulo usa em Filipenses 1:15 um termo
interessante: porfia, palavra que dá a ideia de "polêmica,
rivalidade, competição para receber o apoio de outros". O objetivo de Paulo
era glorificar a Cristo e levar as pessoas a seguir ao Senhor; o objetivo de
seus críticos era promover a si mesmos e granjear seguidores para si. Em vez de
perguntarem: "você já aceitou a Cristo?", perguntavam: “de que lado
você está, do nosso ou do de Paulo?" Infelizmente “politicagem religiosa”
ainda existe hoje.
Quem tem a mente determinada vê os críticos
como mais uma oportunidade de contribuir para o progresso do evangelho. Como
soldado fiel, Paulo sabia que estava "incumbido da defesa do evangelho"
(Fp 1:16). Era capaz de regozijar-se, não com os críticos egoístas, mas com o
fato de que pregavam a Cristo! Não havia inveja alguma no coração de Paulo. Ele
não se importava se alguns eram a favor dele e outros contra. Para ele, o mais
importante era a pregação do evangelho de Jesus Cristo!
Em geral, é difícil aceitar críticas,
especialmente quando passamos por situações difíceis, como era o caso de Paulo.
De que maneira o apóstolo conseguiu regozijar-se mesmo em meio a tanta
reprovação? Ele era determinado! Filipenses 1:19 indica que Paulo esperava que
sua causa fosse vitoriosa (“me redundará em libertação") por causa das
orações de seus amigos e da provisão do Espírito Santo de Deus.
3. A CRISE DE PAULO (1:20-26)
Por causa das cadeias de Paulo, Cristo
tornou-se conhecido (Fp 1:13), e por causa dos críticos de Paulo, Cristo
foi pregado (Fp 1:18). Mas por causa da crise de Paulo, Cristo foi engrandecido!
(Fp 1:20).
Havia a possibilidade de Paulo ser
considerado traidor de Roma e de ser executado. Mas o corpo de Paulo não lhe
pertencia, e seu único desejo (resultante de sua determinação) era engrandecer
a Cristo em seu corpo.
Nossas experiências diminuem a distância
entre Jesus Cristo e as pessoas, elas podem ver Jesus mais de perto, e assim
são capazes de enxergar a verdadeira grandeza de Jesus Cristo. Paulo não temia
a vida nem a morte, ele desejava engrandecer a Cristo em seu corpo.
Paulo confessa que se encontra diante de uma
escolha difícil. Para o bem dos cristãos em Filipos, era necessário que ele
permanecesse vivo, mas seria muito melhor partir e estar com Cristo. Ele dispôs-se
a adiar sua ida para o céu a fim de ajudar os cristãos a crescerem e a tirar do
inferno os perdidos sem Cristo.
É evidente que Paulo não tinha medo da morte,
pois significava apenas "partir":
·
Termo era usado pelos soldados e se referia a
"desarmar a tenda e prosseguir viagem".
·
Os marinheiros também usavam essa palavra com
o sentido de "soltar as amarras da embarcação e pôr-se a navegar".
·
Também era um termo burocrático e descrevia a
libertação de um prisioneiro.
·
Um termo usado pelos agricultores para se
referir ao ato de remover o jugo dos bois. Partir e estar com Cristo
significava colocar de lado todos os fardos, pois seu trabalho na Terra estaria
consumado.
Em todos os sentidos, não há coisa alguma que
prive uma pessoa determinada de sua alegria. "Porquanto, para mim, o viver
é Cristo, e o morrer é lucro" (Fp 1:21).
"Para mim, o viver é dinheiro, e o morrer
é deixar tudo para trás."
“Para mim, o viver é fama, e o morrer é ser
esquecido."
"Para mim, o viver é poder, e o morrer é
perder tudo."
Afim de ter alegria apesar das circunstâncias
e de contribuir para o progresso do evangelho, devemos fazer nossas as
convicções de Paulo: "Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro!".
Aplicações:
1.
Não há barreira poderosa suficiente para
impedir o avanço do Evangelho de Cristo para alcançar os pecadores perdidos
(2Co 11.24-28).
2.
Não podemos esperar “as coisas melhorarem”
para cumprir nossa missão de pregar o evangelho, devemos fazê-lo “a tempo e
fora de tempo” (2Tm 4.2-4).
3.
Não importa sua motivação, pregue o puro
evangelho, o Espírito Santo não vai considerar o ego, mas usará o poder o
Evangelho para salvar o pecador.
4.
Não devemos pensar em nosso próprio bem
estar, mas nos frutos para o Reino de Deus através da nossa vida ou da nossa
morte (At 4.29-31).
5.
Se vivemos para Cristo, tudo o que
enfrentamos é lucro eterno. Mas se vivemos para nós, tudo o que conquistamos é
prejuízo na glória.

Nenhum comentário:
Postar um comentário