Começamos este capítulo afirmando que ele é um dos mais difíceis para
nossa compreensão moderna. Ele é repleto de imagens, figuras, histórias mais
comuns aos judeus, voltadas para a nação de Israel.
Na primeira parte – v.1-13, Jesus exorta quanto a não sermos enganados
pelos sinais que foram descritos, nem deveríamos desanimar diante das
perseguições do Estado e da própria família.
Na segunda parte – v.14-23, Jesus descreve a agonia da tribulação, quando
chegasse a assolação desoladora, e alerta para os perigos das heresias
implantas pelos falsos mestres.
Nesta terceira parte – v.24-37, Jesus reitera a certeza da segunda vinda, e deixa duas parábolas de exortação quanto à vigilância.
1. A CERTEZA DA 2ª VINDA
Jesus começa falando inconfundivelmente de seu retorno nos versos 24 a 27.
Mas – e isto é importante – envolve a ideia em três imagens que são parte
integrante do aparato relacionado com o Dia do Senhor.
1. O Dia do Senhor seria precedido por uma época de guerras.
2. O Dia do Senhor seria precedido pelo escurecimento do Sol e da Lua.
3. Normalmente era parte do imaginário que os judeus seriam reunidos
novamente na Palestina, dos quatro cantos da Terra.
Mas é extremamente interessante notar que as coisas que Jesus profetizava
estavam acontecendo em realidade:
·
Profetizou guerras e os partos estavam em realidade pressionando sobre as
fronteiras do império romano.
·
Profetizou terremotos e uns quarenta anos depois o mundo romano ficava
estupefato ante o terremoto que devastou a Laodicéia, e fascinado pela erupção
do Vesúvio que sepultou em lava a Pompéia, que durante séculos permaneceu
ignorada.
·
Profetizou fomes, e a houve em realidade em Roma nos dias do Cláudio. De
fato, foi uma época tal de terror que quando Tácito começou suas histórias
disse que tudo o que estava acontecendo parecia indicar que os deuses, longe de
procurar a salvação do império romano, estavam procurando vingar-se dele.
Isto é algo que devemos notar. Quando lemos as gráficas palavras de Jesus
a respeito da Segunda Vinda devemos lembrar que não nos está dando um mapa da
eternidade nem um calendário do futuro, mas sim está usando simplesmente a
linguagem e as imagens que muitos judeus conheciam e tinham usado durante
séculos antes dele.
Nesta passagem o que devemos reter é o fato de que Jesus predisse que
voltaria. O imaginário não faz o fato em si.
2. ALERTAS
QUANTO À VIGILÂNCIA – v.28-37
Na sequência (vv.28 a 37) ele fala algo especial sobre duas coisas que
deve-se notar:
1. Às vezes se sustenta que quando Jesus disse que estas coisas teriam
que acontecer nessa geração, equivocou-se. Mas é evidente que teve razão,
porque esta sentença não se refere à sua Segunda Vinda. Não poderia ter sido
assim, quando imediatamente depois diz que ninguém sabe quando acontecerá.
Refere-se às profecias de Jesus sobre a queda de Jerusalém e a destruição do
templo, que se cumpriram com excesso.
2. Jesus diz que não sabe o dia nem a hora em que retornará. Havia coisas
que Ele mesmo deixava sem perguntar, nas mãos de Deus. Não pode haver maior
advertência e recriminação para aqueles que calculam datas e esquemas quanto a
quando Jesus voltará. Certamente é pouco menos que blasfêmia que inquiramos no
que nosso Senhor se conformava ignorando.
De modo que Jesus tira uma conclusão prática. Nós somos como homens que
sabem que seu amo tem que vir, mas não sabem quando. Vivemos à sombra da
eternidade.
Mas isto não é razão para uma espera aterrorizada e histérica. Significa,
sim, que devemos terminar e completar dia a dia nossa obra. Significa que
devemos viver de tal maneira que não importe quando venha. Dá-nos a grande
tarefa a fazer de cada dia de nossa vida um dia digno de que Ele veja, e estar
preparados para enfrentá-los em qualquer momento face a face. Toda a vida se
converte em uma preparação para nosso encontro com o Rei.
Começamos dizendo que este capítulo era difícil, mas que no final tinha
verdades permanentes a nos ensinar. Quais são algumas dessas verdades?
1. Diz-nos que só o homem de Deus pode penetrar os segredos da história.
Jesus viu a sorte de Jerusalém. Outros eram cegos a ela, mas Ele a via. Para
ser um verdadeiro estadista, um homem deve ser um homem de Deus. Para dirigir
seu país um homem deve ele próprio ser dirigido por Deus. Somente o homem que
conhece a Deus pode compreender algo do plano de Deus.
2. Diz-nos duas coisas a respeito da doutrina da Segunda Vinda.
a) Diz-nos que essa doutrina contém um fato que não podemos esquecer ou
menosprezar por nosso próprio risco.
b) Diz-nos que recordemos que as imagens em que está envolta é o
imaginário da própria época de Jesus, e que é inútil especular com relação a
ela, quando Jesus mesmo se conformava com não saber. A única coisa de que
podemos estar certos é que a história parte para alguma parte. Chegará a uma
consumação.
3. Diz-nos que a mais insensata de todas as coisas é esquecer a Deus e
nos inundar na Terra. O homem sábio é o que nunca esquece que deve estar
preparado quando receber o chamado. Se vive lembrando isto, para ele o fim não
será o terror, e sim eterno alegria.
Jesus não desejava que seus discípulos se envolvessem com as profecias do
futuro de modo a descuidar de suas responsabilidades do presente; assim,
encerra seu sermão no monte das Oliveiras com duas parábolas (Mt 25 acrescenta
outras três parábolas: a das dez virgens, a dos talentos e a das ovelhas e
cabritos).
É interessante observar que a primeira parábola (Mc 13:28-31) enfatiza a
consciência de que a vinda de Cristo está próxima, enquanto a segunda (Mc
32-37) enfatiza que não se sabe quando ele voltará. Trata-se de
uma contradição? Não, pois as parábolas são dirigidas a grupos diferentes: a
primeira, aos santos que passarão pela tribulação e a segunda, aos cristãos de
todas as eras.
Como cristãos nos dias de hoje, não estamos à procura de
"sinais" da vinda de Cristo, mas sim esperando pelo próprio Cristo! Mas
os que viverem durante a tribulação poderão ver esses sinais ocorrerem e
saberão que a vinda de Cristo está próxima. Essa certeza os ajudará a suportar
o sofrimento (Mc 13:13) e a ser boas testemunhas.
Mas a que "geração" Jesus se refere em Marcos 13:30? Alguns
identificam como sendo a geração que vivia
aquela época na Judéia, outros
interpretam como se tratar de uma referência à geração que estiver vivendo no
período da Tribulação.
A parábola da figueira adverte os santos que passarão pela tribulação a
vigiar e observar os "sinais dos tempos". A parábola sobre o dono da
casa, porém, adverte todos nós hoje (Mc 13:37) a permanecer alertas, pois
não sabemos quando Jesus voltará para nos levar para o céu (1 Co 15:51, 52).
Como o dono da casa na história, antes de nosso Senhor ir para o céu, ele
deu a cada um de nós uma incumbência. Espera que sejamos fiéis enquanto estiver
fora e que estejamos trabalhando quando voltar.
"Vigiar" significa permanecer alerta, em sua melhor postura,
desperto. Por que devemos permanecer alertas? Porque ninguém sabe quando Jesus
Cristo voltará. Quando estava aqui na Terra em forma humana, Jesus não sabia o dia
nem a hora de sua volta. Nem mesmo os anjos sabem.
O mundo incrédulo zomba de nós, pois continuamos apegados a essa
"esperança abençoada", mas ele voltará conforme prometeu (2 Pe 3). Cabe
a cada um permanecer fiel e ocupado, sem especular nem discutir detalhes ocultos
da profecia.
Os cristãos que leram o Evangelho de Marcos sofreram, posteriormente, a
perseguição terrível de Roma (1 Pe 4:12ss), e essa mensagem em particular deve
ter lhes dado consolo e forças.
Os cristãos de hoje não passarão pelos sofrimentos terríveis descritos
neste capítulo, mas, ainda assim, temos nossa parcela de perseguições e de
tribulações a enfrentar neste mundo antes que o Senhor volte (Jo 16:33; At
14:22).
Aplicações
1. Mantenha seus olhos no céu, de lá virá o salvador, não dê muita importância para as coisas deste mundo.
2. A vinda de Jesus é certa. Vigie! Esteja alerta e pronto para encontrar-se com Ele.
3. Não se prenda aos sinais para a vinda de Jesus, apegue-se à promessa, os sinais podem confundir, a promessa é segura e certa.
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