O Ministério do Servo em Jerusalém – cap. 11-16
I.
Ensino em público e controvérsias no Templo - 11:1-12:44
"Ame a Deus e faça o que
quiser." (Agostinho)
Jesus está pela terceira vez em Jerusalém, no templo. No domingo ele
entra na cidade aclamado como o Messias, mas apenas passa pelo templo. Na
segunda ele retorna para purificar o templo. Agora, na terça, ele trava vários
embates com os líderes judeus. Este é o quarto embate, os anteriores foram
sobre: autoridade, impostos e ressurreição.
O próximo desafio – o quarto deste dia no templo - foi proposto por um escriba que também era um fariseu (ver Mt 22:34, 35). Os escribas haviam determinado que os judeus deveriam obedecer a 613 preceitos da Lei, sendo 365 negativos e 248 positivos. Um dos exercícios prediletos dos escribas era discutir qual desses mandamentos era o maior de todos.
Desta forma eles “atam fardos pesados e põem sobre os ombros dos homens”
(Mt 23.4), isso produzia cansaço e cargas espirituais (Mt 11.28ss). A
religiosidade pode virar loucura, sem vantagens nem para Deus nem para as
pessoas. Isso nos leva à reflexão sobre o que essencial para encontrar o
caminho que leva a Deus.
Este escriba,
professor da lei honesto, ansioso por aprender, acudiu a Jesus com uma pergunta
que frequentemente era objeto de debate nas escolas rabínicas. No judaísmo
havia duas tendências:
a)
A tendência a expandir a Lei ilimitadamente em centenas e milhares de
regras e regulamentos.
b)
Mas também existia uma tendência a tratar de concentrar a Lei em uma
sentença, uma declaração geral que fora um compêndio de toda a sua mensagem.
1. O AMOR É A BASE DA LEI DE
MOISÉS – v.29-31
Jesus cita Deuteronômio 6:4,5, a famosa declaração que era repetida pelos
judeus piedosos no começo e no final de cada dia. Essa declaração é chamada de Shema
por causa de sua primeira palavra: Ouve, em hebraico.
Os mandamentos da lei pressupõem uma base: a vida de Deus e com Deus e
para Deus. Também devemos amar aquele que nos ama, pois ele nos amou primeiro,
assim, quem é amado pode amar.
Quatro instruções descrevem este amor que corresponde, em todas as
extensões imagináveis. Ele espelha a largura e comprimento e altura e
profundidade do amor de Deus (Ef 3.18):
a)
O coração, o centro do ser humano, está totalmente ocupado
por ele;
b)
A alma, todo o seu anseio de vida, se expressa a favor
dele;
c)
O entendimento, ou seja, a força da sua razão;
d)
Mas também qualquer outra força, seja física ou financeira.
Em seguida, Jesus cita Levítico 19:18, que enfatiza o amor pelo próximo.
Jesus coloca o amor como a coisa mais importante da vida, pois "quem
ama o próximo tem cumprido a lei" (Rm 13:8-10).
A ordem não muda: “Amado, você deve amar”. Mas este amor se volta agora
necessariamente para um outro. Será que o amor se divide? Não. O amor de Deus
não se divide, porém só se completa no amor ao próximo. Ele descobre em Deus, o
mais próximo, o próximo, e isto é um processo que o próprio Deus imprime,
dirige e acompanha.
Jesus não cria nada novo. Ele tão somente lembra ao escriba mestre da Lei
aquilo que já fora estabelecido anteriormente, e que devido aos devaneios
teológicos, eles haviam esquecidos da essência que Deus esperava deles.
2. O AMOR FLUI DO INTERIOR PARA O
EXTERIOR – v.33
Se amamos a Deus, experimentamos o amor dele dentro de nós e expressamos
esse amor a outros. Não vivemos em função de regras, mas sim de relacionamentos:
um relacionamento de amor com Deus que torna possível nos relacionarmos em amor
com os outros.
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” No original se refere ao próximo
judeu. Não teria incluído os gentios, a quem se permitia odiar. Mas Jesus a
citou sem condição, e sem limite. Tomou uma velha Lei e a encheu de um novo
significado. O novo que Jesus fez foi pôr estes dois mandamentos juntos. Nenhum
rabino tinha feito isto antes.
Até vir Jesus ninguém tinha tomado os dois mandamentos pondo-os um junto
do outro, fazendo dos dois um só. A religião, para Jesus, consistia em amar a
Deus e amar ao próximo. Ele teria dito que a única forma em que alguém pode
provar que ama a Deus é mostrando que ama aos homens.
3. O AMOR CONFRONTA AS INTENÇÕES
DO CORAÇÃO- v.32,34
Ao começar essa conversa, o escriba estava apenas sendo usado como
instrumento dos fariseus que, por sua vez, tentavam encontrar algo para
recriminar Jesus (Mt 22:35).
Mas depois de ouvir a resposta de Jesus, o escriba se levanta e, com toda
ousadia, elogia Jesus por sua resposta. A Palavra havia falado a seu coração,
levando-o a dar os primeiros passos para um conhecimento espiritual mais
profundo da fé que ele pensava compreender.
Até as Escrituras do Antigo Testamento ensinavam que a religião de Israel
não se limitava à oferta de sacrifícios e à observância de leis (1 Sm 15:22; Sl
51:16,17; 141:1,2; Jr 7:22, 23; Os 6:6; Mq 6:6-8).
O escriba acrescentou que tal amor era melhor que todos os sacrifícios.
Nisto mantinha a linha do pensamento supremo de seu povo.
Muitíssimo antes Samuel havia dito: “Tem, porventura, o SENHOR tanto
prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis
que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a
gordura de carneiros” (1 Samuel 15:22). Oséias tinha ouvido Deus dizer:
"Misericórdia quero e não sacrifício". (Oséias 6:6).
Mas sempre é fácil permitir que o ritual ocupe o lugar do amor. Sempre é
fácil que o culto chegue a ser algo do templo, em lugar de ser algo de toda a
vida. O sacerdote e o levita poderiam passar junto ao viajante ferido porque
tinham pressa de chegar ao templo para cumprir seu ritual. Este escriba se
elevou acima de seus contemporâneos e por isso simpatizou com Jesus.
4. O AMOR É A PORTA PARA O REINO
– v.34
O que quer dizer a
declaração: "Não estás longe do reino de Deus"?
-> Significa
encarar a verdade com honestidade, sem qualquer interesse em defender algum
partido e sem preconceitos pessoais.
-> Significa testar a fé de acordo com o que a Palavra de Deus diz,
não com as exigências de algum grupo religioso.
Esta
expressão aponta para a verdade de todo o evangelho: o reinado de Deus chegou,
na pessoa do Filho do Homem pronto para sofrer, ele se aproximou e agora está
em Jerusalém.
Os que
“estavam longe” na opinião dos judeus eram os pagãos, mas este judeu religioso
não é pagão, mas também ainda não é cidadão do reinado de Deus. Por mais fiel e
entendido que ele seja, isto não é suficiente, ele precisava ser salvo pelo Jesus
que passaria pela morte na cruz.
Os que estão
perto ficam do lado de fora junto com os que estão longe, até reconhecerem o
reinado de Deus, até que Jesus lhes seja manifesto como Messias rejeitado.
Aplicações.
- Amar a
Deus não é um mandamento novo, pelo contrário, é o primeiro e principal
mandamento deixado pelo próprio Senhor para o seu povo.
- O amor a
Deus só é verdadeiro se este fluir em favor das pessoas que estão a nossa
volta, pois se não demonstramos amor às pessoas, não amamos a Deus.
- Demonstrar
amor a Deus e ao próximo é um indicativo que o coração está pronto para estar
diante de Deus e ser julgado no dia do juízo.
- O amor que
Deus espera de nós é sem reservas, que envolva todo o nosso ser: coração, alma,
entendimento e forças.

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