O Ministério do Servo em Jerusalém – cap. 11-16
I.
Ensino em público e controvérsias no Templo - 11:1-12:44
A "entrada triunfal" de Jesus em Jerusalém foi muito diferente, em comparação com reis romanos, mas, ainda assim, foi um triunfo. Ele era o Rei ungido de Deus e o Salvador, mas sua conquista seria espiritual, não militar.
Um
general romano precisava matar pelo menos cinco mil soldados inimigos para ser
digno de um "triunfo"; mas em poucas semanas, o evangelho
"conquistaria" cerca de cinco mil judeus e transformaria sua vida (At
4.4).
O "triunfo" de Cristo seria a vitória do amor sobre o ódio, da verdade sobre o erro, da vida sobre a morte.
Depois
de vislumbrar a área do templo para onde voltaria no dia seguinte, Jesus saiu da
cidade e passou a noite em Betânia, onde era mais seguro e tranquilo. Sem
dúvida, gastou parte do tempo orando com seus discípulos, procurando
prepará-los para a semana difícil que os esperava.
Ao
amaldiçoar a árvore e purificar o templo, Jesus realizou dois atos simbólicos
para ilustrar a condição espiritual lastimável em que a nação de Israel se
encontrava. Apesar de seus muitos privilégios e oportunidades, por fora Israel
não dava frutos (a árvore), e por dentro se encontrava corrompida (o templo).
Jesus
não costumava julgar dessa maneira (Jo 3:17), mas chega um momento em que essa
é a única coisa que Deus pode fazer (Jo 12:35-41).
1. JESUS E A FIGUEIRA – v.12-14, 20-26
A presença
de folhas poderia ser uma indicação da existência de frutos, mesmo que estes
ainda fossem um "resto" da estação anterior. É bastante significativo
que, nesse caso, Jesus não tinha qualquer conhecimento especial para orientá-lo
e precisou aproximar-se da árvore para examiná-la.
Uma vez
que tinha poder para matar a árvore, por que não usou esse poder para restaurá-la
e torná-la produtiva? Com exceção do afogamento dos porcos (Mc 5:13), essa é a
única ocasião em que Jesus usou seu poder miraculoso para destruir algo da natureza.
Jesus tomou essa atitude porque desejava nos ensinar duas lições importantes.
a)
Em primeiro lugar, encontramos aqui uma lição sobre o
fracasso: Israel havia falhado em dar frutos para Deus – v.12-14
No
Antigo Testamento, a figueira é relacionada à nação de Israel (Jr 8:13; Os
9:10; Na 3:12). Assim como a figueira que Jesus amaldiçoou, Israel não tinha
nada, "senão folhas". É interessante observar que a árvore secou
"desde a raiz" (Mc 11 :20).
Três
anos antes, João Batista havia colocado um machado à raiz de uma árvore (Mt
3:10), mas os líderes religiosos não deram ouvidos a sua mensagem. Quando um
indivíduo ou um grupo de pessoas "seca" espiritualmente, na maior
parte das vezes, começa pelas raízes.
É possível
que os discípulos tenham associado esse milagre à parábola que Jesus havia
contado alguns meses antes (Lc 13:19), e tenham visto no milagre um retrato
claro do julgamento de Deus sobre Israel.
Também é
possível que tenham se lembrado de Miquéias 7:1-6, em que o profeta declara que
Deus está procurando "as frutas do verão" em seu povo. Cristo
continua procurando frutos em seu povo, e, para nós, é pecado permanecer sem
frutos (Jo 15:16). Devemos cultivar nossas raízes espirituais com todo o
cuidado e não nos contentar apenas com "folhas".
b)
Jesus também usou esse milagre para nos ensinar sobre
a fé – v.20-26
Na
manhã seguinte, viram que a árvore e ela estava morta, Jesus disse: "Tende
fé em Deus"; em outras palavras, "Confiem em Deus a todo tempo; vivam
com uma atitude de dependência dele". Na imageria judaica, a montanha
representa algo forte e inalterável, um problema no meio do caminho (Zc 4:7).
Só é possível mover montanhas pela fé em Deus.
Por
certo, essa não é a única lição que Jesus ensinou com respeito à oração, e é preciso
ter cuidado para não entendê-la de forma isolada do restante das Escrituras.
·
A oração deve ser feita dentro da vontade de Deus (1 Jo 5:14, 15), e
aquele que ora deve permanecer no amor de Deus (Jo 15:7-14).
·
A oração não é uma medida de emergência, um recurso do qual nos valemos
quando temos um problema.
·
Antes, a verdadeira oração faz parte da comunhão constante com Deus e da
adoração a Deus.
Também
não devemos interpretar Marcos 11 :24 como se dissesse: "Se orarem o suficiente
e crerem de verdade, Deus será obrigado a responder à sua oração,
qualquer que seja o pedido". Esse tipo de fé não é fé em Deus; na
realidade, não passa de fé na própria fé ou nos sentimentos.
A
verdadeira fé em Deus tem como base a Palavra de Deus (Jo 15:7; Rm 10:17), e
sua Palavra revela sua vontade. Alguém disse bem que o propósito da oração não
é conseguir que a nossa vontade seja feita no céu, mas sim que a vontade de
Deus seja feita na Terra.
A
verdadeira oração envolve o perdão e a fé. A fim de que Deus responda a nossas orações,
devemos estar em paz tanto com nosso Pai no céu quanto com nossos irmãos na
Terra (ver Mt 5:21-26; 6:14,15; 18:1535). Começamos a oração que Jesus ensinou dirigindo-nos
ao Pai nosso: "Pai nosso que estás no céu" e não: "Meu
Pai que estás no céu".
Apesar
de cada cristão poder orar em particular, nenhum cristão jamais ora sozinho,
pois todo o povo de Deus é parte de uma família espalhada por todo o mundo e
que se une para buscar a bênção de Deus (Ef 3:14, 15). A oração promove a união.
Quando
perdoamos uns aos outros, não nos tornamos merecedores das bênçãos de Deus.
Nosso espírito de perdão é uma evidência de que nosso coração está em ordem diante
de Deus e de que desejamos fazer sua vontade. Com isso, o Pai pode nos ouvir e
responder a nossas orações (SI 66:18). A fé opera através do amor (GI 5:6). Se
tenho fé em Deus, também terei amor por meu irmão.
2. JESUS E O TEMPLO – v.15-19
Jesus já
havia purificado o templo em sua primeira visita a Jerusalém na Páscoa (Jo 2:13-22),
mas os resultados haviam sido apenas temporários. Não tardou para que os
líderes religiosos permitissem que os cambistas e comerciantes voltassem.
a)
Jesus condena a corrupção dos sacerdotes
Os
sacerdotes receberiam uma porcentagem dos lucros dessas atividades e, afinal,
eram serviços convenientes para os judeus que iam a Jerusalém para adorar.
Suponhamos que um judeu de algum lugar distante levasse consigo seu sacrifício só
para descobrir que não poderia ser aceito por causa de alguma imperfeição.
Esse
"mercado religioso" ficava no átrio dos gentios, justamente o lugar
onde os judeus deveriam estar realizando um trabalho missionário sério. Se um
gentio visitasse o templo e visse o que os judeus estavam fazendo em nome do
verdadeiro Deus vivo, jamais teriam o desejo de crer naquilo que era
ensinado ali.
Os
judeus não permitiam ídolos de pedra e de madeira no templo, mas ainda assim, o
que estava acontecendo naquele local era idolatria. O átrio dos gentios, que
deveria ser um lugar de adoração, havia se tornado um lugar de oportunismo e de
comércio.
b)
Jesus condena a exploração dos cambistas e vendedores
Na
Páscoa, os israelitas deviam pagar o imposto anual do templo, que só podia ser
feito com moedas específicas, sem nenhuma imagem ou símbolo do imperador
gravados, moedas hebraicas de um siclo ou dracmas duplas de Tiro. Os cambistas
tinham uma grande margem de lucro e pagavam uma taxa aos sacerdotes
O
câmbio estava sempre mudando, de modo que os homens que trocavam as moedas estrangeiras
por dinheiro local na verdade faziam um favor aos visitantes, mesmo
considerando os lucros generosos. Todas essas operações comerciais e
financeiras poderiam ser facilmente racionalizadas.
Marcos
menciona especificamente os comerciantes que vendiam pombos. O pombo era um dos
poucos sacrifícios que o pobre tinha condições de oferecer (Lv 14:22). Foi o
sacrifício que José e Maria levaram quando apresentaram Jesus no templo (Lc 2:24).
Até mesmo os pobres estavam sendo explorados na sua adoração.
c)
Jesus condena o povo e passa a ensinar
Muitos
moradores atravessavam o pátio externo para ir de um lado ao outro da cidade,
mas nesse movimento, este recinto que era sagrado, estava sendo profanado, pois
as pessoas paravam para conversar e negociar, provocando aglomerações.
Com
esta ação, Jesus criou um espaço para o ensino e passou a instruir os ouvintes
acerca da real função do templo: uma casa de oração para todos os povos. O
templo, em específico o pátio dos gentios, era um lugar de evangelização dos
estrangeiros, e isso precisava ser resgatado.
Aplicações.
1. O coração e a atenção de Jesus
estavam “no Templo”, ali era o lugar de adoração. A primeira atitude concreta
de Jesus é “purificar o lugar de adoração”. Quando Jesus entra de fato no
coração, este é purificado e passa a adorar.
2. Jesus, cumpre a profecia de 2 Samuel
7.12-14, agora o Filho de Davi é aclamado publicamente no Templo, o qual
cumpriu sua função, mas deixa de ser necessário, pois o próprio Jesus se torna
o santuário de adoração.
3. A presença dos doze com Jesus no
Templo marca o início de um novo ciclo. Até aqui eles tinham sido ajudantes,
emissários ou receptores de ensino. Agora estariam juntos e iriam testemunhar
os sofrimentos para serem transmissores daquilo que receberam.

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