Esta é a terceira vez que Jesus está em Jerusalém (11.27). Ele está no
templo, onde é desafiado pelos líderes religiosos, primeiro sobre a questão da
autoridade para fazer aquelas coisas. Após Jesus contar - contra eles - a
parábola dos agricultores maus, eles vão tentar, por três vezes (12.13, 18, 28)
encontrar algo para acusar e prender Jesus.
As duas primeiras controvérsias são sobre a questão do tributo que era pago ao imperados, a segunda sobre a questão da ressurreição, a terceira sobre o principal mandamento da lei. Depois é Jesus quem vai questioná-los sobre Sua identidade e adverti-los sobre o orgulho.
1. A Hipocrisia Revelada no Imposto (12:13-17)
Os fariseus
opunham-se a Roma, e os herodianos (uma
facção política) cooperavam com Roma. A única coisa que tinham em comum era o inimigo,
Jesus Cristo (veja Lc 23:12).
No versículo 13, a palavra grega para "apanhassem" transmite a imagem
de uma armadilha em um jogo de caça. A delegação de fariseus e de herodianos
pensou que podia pegar Jesus em uma cilada com uma pergunta que tivesse
conotação política e religiosa.
Os judeus ortodoxos não gostavam de pagar impostos a Roma, pois sabiam
que eram o povo escolhido de Deus. Pagar impostos significava reconhecer o
poder de Roma sobre a nação - algo que não podiam admitir por serem muito
orgulhosos (Jo 8:33) -, como também ajudar a idolatria pagã. Se Jesus aprovasse
o pagamento de impostos a Roma, teria problemas com seu próprio povo, mas, se
se opusesse a isso, teria problema com Roma.
Nosso Senhor, que conhecia a hipocrisia deles, respondeu de uma maneira
que não apenas evitava o perigo do dilema, como também devolveu aos
questionadores a responsabilidade pela afirmação. Como eles usavam a moeda de
César, admitiam a autoridade de César sobre eles; assim, eles apenas devolviam
a César o que este antes dera a eles.
Os impostos não são presentes para o governo, mas o valor que pagamos em
troca dos serviços prestados (política e proteção contra incêndio, agências
sociais, defesa, etc.).
E como a imagem de Deus também está estampada em cada ser humano, temos
de devolver a Deus as coisas que são dele. Já que Deus instituiu o governo
humano para o nosso bem, estamos obrigados a respeitar os governantes e a obedecer
às leis (Rm 13; 1 Tm 2:1-6; 1 Pe 2:13-17). Daniel Webster disse: "Tudo que
torna os homens bons cristãos torna-os bons cidadãos".
2. A Ignorância quanto a Ressurreição
(12:18-27)
Essa é a única
passagem em que Marcos cita os saduceus em seu
evangelho. Esse
grupo aceitava apenas a Lei de Moisés como autoridade religiosa; assim,
se uma doutrina não pudesse ser defendida pelos cinco primeiros livros do
Antigo Testamento, eles a rejeitavam.
Não acreditavam na existência da alma, da vida depois da morte, da
ressurreição, do julgamento final, de anjos nem de demônios (ver At 23:8).
Quase todos os saduceus eram sacerdotes e eram abastados. Consideravam-se
a "aristocracia religiosa" do judaísmo e tinham a tendência de
desprezar as outras pessoas.
A pergunta hipotética deles, fundamentada em Deuteronômio 25:7-10, tinha
o propósito único de tentar pegar Jesus por sua fala. No entanto, a pergunta,
em vez de revelar a ignorância de Jesus, revelava o desconhecimento deles da Palavra
e do poder de Deus.
A ressurreição não é a restauração à vida como a conhecemos; é o ingresso
numa vida diferente. O mesmo Deus que criou os anjos e que lhes deu sua
natureza é capaz de criar o novo corpo de que precisaremos para a nova vida no
céu (1 Co 15:38ss).
Jesus não diz que nos tornaremos anjos nem que seremos como os anjos em todas
as coisas, pois os filhos de Deus são superiores aos anjos (Jo 17:22-24; 1 lo
3:1, 2). Antes, diz que nosso corpo ressurreto, como o corpo dos anjos, não
será do sexo masculino nem feminino.
Na eternidade, nosso corpo será perfeito, e não haverá morte, de modo que
o casamento, a procriação e a continuidade da raça humana não serão mais
necessários.
Os saduceus também ignoravam as Escrituras. Para Jesus, a resposta a
todas as perguntas estava nas Escrituras, não no pensamento do próprio homem (Is
8:20; veja Mc 10:19; 12:10). Ele reporta-os a Êxodo 3:1-12 e apresenta a
conclusão lógica de que, uma vez que Jeová é o Deus da vida, Abraão, Isaque e
Jacó estão vivos. Há vida após a morte e, portanto, esperança de ressurreição futura.
Todavia, a
ressurreição não é a reconstrução e a continuação da vida como ela é neste
mundo. Os filhos de Deus não se tornarão anjos, pois devemos ser iguais a
Cristo (1 Jo 3:1-3), no entanto seremos como anjos no que se refere a não casar
ou ter família. Será um tipo de vida totalmente novo.
Aplicações.
1. Para Jesus, os impostos eram uma dívida que os
cidadãos tinham para com o governo por serviços prestados. Hoje, esses serviços
incluiriam, entre outras coisas, o corpo de bombeiros e a polícia, a defesa
nacional, os salários dos governantes que administram o Estado, programas
especiais para os pobres e carentes etc.
2. O cidadão cristão como indivíduo pode não concordar
com a maneira como o dinheiro de seus impostos é gasto e tem o direito de se
expressar nesse sentido por meio de sua voz e de seu voto.
3. Devemos reconhecer o fato de que é Deus quem estabelece
o governo humano, e que esse deveria agir para nosso bem (Rm 13; 1 Tm 2:1-6; 1
Pe 2:13-17).
4. Temos deveres cívicos e religiosos, e não nos devemos
esquivar daqueles sob pretexto destes, a não ser que sejam evidentemente
incompatíveis (Rm 13).
5. Não podemos cometer o engano de criar um céu à
semelhança da Terra. Pensar em termos das coisas desta Terra. Conceber o céu
como um lugar em que viveremos uma vida repleta de todos os prazeres que não
podemos desfrutar hoje. A vida nos lugares celestiais será maior que todo
conceito que esta vida possa nos proporcionar.
6. No final Jesus baseava sua convicção da ressurreição
no fato de que a relação entre Deus e um homem bom é uma relação que nada pode
romper. Uma vez que alguém entrou em uma relação pessoal com o Deus eterno,
essa relação é eterna.

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