Como excelente Mestre, Jesus usou várias abordagens ao compartilhar a Palavra de Deus: símbolos, milagres, tipos, parábolas, provérbios e paradoxos.
Paradoxo
é uma afirmação que dá a impressão de se contradizer, no entanto expressa uma
verdade ou princípio válido. "Porque, quando sou fraco, então, é que
sou forte" (2Co 12.10; 2Co 6.8-10) é um paradoxo.
Há ocasiões em que a melhor forma de declarar uma verdade é por meio de um paradoxo, e este capítulo mostra Jesus fazendo exatamente isso. Poderia ter pregado um longo sermão, mas, em vez disso, ensinou cinco lições importantes que podem ser expressas por meio de cinco afirmações paradoxais sucintas.
1. Dois
se tornarão um (Mc 10:1-12)
2. Adultos
serão como crianças (Mc 10:13-16)
3. O
primeiro será o último (Mc 10:17-31)
4. Os
servos serão governantes (Mc 10:32-45)
5. O
pobre se tornará rico (Mc 10:46-52)
1. O CONFLITO SOBRE O DIVÓRCIO – v.2
a) Jesus e os Fariseus.
Jesus
completou seu ministério na Galiléia, deixou Cafarnaum e passou para a região da
Transjordânia, ainda a caminho da cidade de Jerusalém (Mc 10:32). Ali os fariseus tentaram armar uma cilada
usando a questão do divórcio.
O divórcio era um assunto
extremamente controverso entre os rabinos. Qualquer que fosse a resposta que
Jesus desse, com certeza desagradaria alguém e, possivelmente, daria motivos
para ser preso. Os verbos indicam que os fariseus "continuavam perguntando",
como se esperassem provocá-lo a dizer algo incriminador.
b) Herodes e João Batista
Esse
distrito era governado por Herodes Antipas, o que pode explicar por que os
fariseus tentaram armar uma cilada usando a questão do divórcio. Afinal, João
Batista havia sido executado justamente por pregar contra o casamento adúltero de
Herodes (Mc 6:14-29).
c) Escolas Rabinas
Naquele tempo, havia dois pontos
de vista conflitantes sobre o divórcio que dependiam da forma como se
interpretava a expressão “coisa indecente” em Deuteronômio 24.1-4.
a) Os seguidores do rabino Hillel eram bastante
tolerantes em suas interpretações e permitiam que um homem se divorciasse de
sua mulher por qualquer motivo, até mesmo se ela queimasse a comida.
b) A escola do rabino Shammai, por outro lado, era bem
mais rígida e ensinava que as palavras “coisa indecente” referiam-se
somente a pecados anteriores ao casamento. Se um recém-casado descobrisse que a
esposa não era virgem, teria, então, permissão para se divorciar.
c) O rabino Akiba chegou a afirmar que podia significar
que o homem encontrasse uma mulher que lhe parecesse mais bela que a sua.
2. A POSIÇÃO DAS ESCRITURAS SOBRE
O DIVÓRCIO – v.3-5
Como era seu costume, Jesus
ignorou as discussões em andamento e voltou a atenção para a Palavra de Deus,
nesse caso, para a Lei de Moisés em Deuteronômio 24.1-4. Ao estudar esta
passagem, é importante observar dois fatos.
a) Em primeiro lugar, foi o homem quem se divorciou da
esposa, não o contrário, pois a mulher não tinha esse direito em Israel (as
mulheres romanas, porém, podiam pedir o divórcio).
b) Em segundo lugar, a "carta de divórcio"
oficial era dada à mulher para declarar sua condição e garantir a qualquer
outro homem interessado que ela estava livre para se casar novamente. Além da
entrega desse documento, o único requisito era que a mulher divorciada não
voltasse para o primeiro marido.
a) Preocupação dos Judeus
Entre os judeus, a questão não
era: "Uma mulher divorciada pode se casar novamente?", pois o
segundo casamento era permitido e até mesmo esperado. A grande questão era: "Quais
são as bases legais para um homem se divorciar de sua esposa?".
A Lei de Moisés não considerava o
adultério motivo para divórcio, pois em Israel o cônjuge adúltero era
apedrejado até a morte (Dt 22.22; Lv 20.10; Jo 8.1-11). Qualquer que fosse o
significado pretendido por Moisés com as palavras "coisa indecente",
em Deuteronômio 24.1, não se tratava de uma referência ao adultério.
b) Causa do divórcio: dureza de
coração - sklerokardia
Jesus explicou que Moisés deu a
lei do divórcio por causa do caráter pecaminoso do coração humano. A lei
protegia a esposa ao refrear o impulso do marido de se divorciar e de abusar
dela como objeto indesejado, em vez de tratá-la como ser humano.
Sem uma carta de divórcio, a
mulher poderia facilmente ser excluída socialmente e ser tratada como
prostituta. Nenhum homem desejaria casar-se com ela, que ficaria indefesa e
desamparada.
c) Carta de divórcio: um limite
para o homem
Ao dar esse mandamento a Israel,
Deus não estava concordando com o divórcio nem mesmo o incentivando. Pelo
contrário, procurava limitá-lo e tornar mais difícil ao marido repudiar a
esposa. Deus instituiu uma série de regras quanto ao divórcio para que a esposa
não se tornasse vítima dos caprichos do marido.
3. COMO DEUS PLANEJOU O CASAMENTO
– v.6-8
Jesus retrocedeu para o que havia
sido determinado antes de Moisés, falando do relato da criação (Gn 1.27; 2.21-25).
Afinal, no princípio de tudo, foi Deus quem instituiu o casamento e,
portanto, é ele quem pode estabelecer as regras.
a) União íntima entre homem e
mulher
De acordo com as Escrituras, o
casamento se dá entre homem e mulher - e não entre dois homens ou duas mulheres
- e é um relacionamento sagrado e perpétuo. É a forma de união mais íntima da
raça humana, pois duas pessoas tornam-se uma só carne. Não se pode dizer o
mesmo da relação entre pai e filho, ou entre mãe e filha, mas vale para o
marido e a esposa.
Apesar de o aspecto espiritual
ser vital para o casamento, a ênfase dessa discussão é sobre o casamento como
uma união física: os dois se tornam uma só carne, não um espírito.
Uma vez que a união é física, só pode ser rompida por uma causa física: a morte
(Rm 7.1-3), ou por relações sexuais ilícitas (Mt 5.32; 19.9). Marcos não inclui
a "cláusula de exceção" encontrada em Mateus, mas, até aí, também não
diz que a união matrimonial é rompida pela morte.
4. A POSIÇÃO DE JESUS SOBRE O
DIVÓRCIO – v.10-12
Posteriormente, Jesus explicou
esse assunto em particular e mais detalhadamente para os discípulos, que a essa
altura estavam convencidos de que era arriscado se casar. Um segundo casamento
depois de um divórcio, exceto quando esse havia sido concedido por causa de
relações sexuais ilícitas, era proibido e extremamente sério.
a) Advertência às mulheres também
Convém observar que Jesus incluiu
as mulheres em sua advertência, o que certamente elevou sua posição na
sociedade, dando-lhes as mesmas responsabilidades. Os rabinos não teriam ido
tão longe.
b) Só Deus pode separar
Marcos 10:9 adverte que o homem
não pode separar os que foram unidos em casamento, mas Deus pode. Uma
vez que foi ele quem instituiu o casamento, também tem o direito de ditar as
regras.
Um divórcio pode ser legal de
acordo com nossas leis (1977) e, ainda assim, não ser legítimo diante de Deus.
Ele espera que as pessoas casadas tenham um compromisso mútuo (Mc 10.7) e que
sejam fiéis a seu cônjuge.
5. AS CRIANÇAS SÃO UM SINAL AOS
CONJUGES – v.13-16
1. Temos a humildade do
menino. Ainda não aprendeu a pensar em termos de posição, orgulho e prestígio.
Ainda não tem descoberto sua própria importância.
2. Temos a obediência do
menino. Ainda não aprendeu o orgulho e a falsa independência que separam o
homem de seu próximo e de Deus.
3. Temos a confiança do
menino.
a) Na aceitação da autoridade. Percebe
sua própria ignorância e desamparo e confia naquele que, segundo sua opinião,
sabe mais que ele.
b) Na confiança que deposita nas
pessoas. Jamais pensa que alguém pode ser uma má pessoa. Pode fazer-se amigo de
um desconhecido.
4) O menino tem uma memória de
curto alcance. Ainda não aprendeu a experimentar sentimentos de vingança e
rancor, se tratado com injustiça, esquece e nem sequer precisa perdoar.
Aplicações.
1. Muitas pessoas veem o divórcio
como "uma saída fácil" e não levam a sério os votos de compromisso um
para com o outro e para com o Senhor.
2. Jamais devemos considerar o
divórcio como uma solução para o casamento que não vai bem, a solução é o
evangelho de Cristo que muda o coração pecador do homem.
3. Quem procura o casamento só
pelo prazer deve se lembrar que casamento também implica uma responsabilidade.
4. Quem vê o casamento só como um meio para
satisfazer suas paixões sexuais é preciso lembrar que também era uma união
espiritual.

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