Alguém definiu um segredo como "algo que contamos a uma pessoa de cada vez". Veremos nestas próximas mensagem três exemplos de "segredos" especiais que Jesus compartilhava com os discípulos de tempos em tempos: 1. O sofrimento conduz à glória (8.27-9.13); 2. O poder vem da fé (9.14-29); 3. O serviço conduz à honra (9.30-50)
Os
cristãos de hoje precisam entender e aplicar esses segredos espirituais, a fim
de se tornarem as pessoas que Deus quer que sejam.
Jesus havia preparado os discípulos para esta reunião em particular, na qual pretendia revelar o que aconteceria com ele em Jerusalém. Já dera algumas pistas ao longo do caminho, mas em breve explicaria tudo com mais clareza.
Como local, escolheu Cesaréia de
Filipe, uma cidade cerca de 40 quilômetros ao norte de Betsaida, construída aos
pés do monte Hermom. O nome da cidade vem de César Augusto e de Herodes Filipe,
e nela havia um templo de mármore consagrado a Augusto. Era um lugar dedicado à
glória de Roma, glória essa que não existe mais; mas a glória de Jesus Cristo
permanece e se estenderá por toda eternidade.
1. A CONFISSÃO DE PEDRO: GRANDE
DESCOBERTA (vv. 27-30).
Se perguntássemos a nossos
amigos: "Quem as pessoas pensam que eu sou?", certamente daríamos a impressão
de que somos orgulhosos. Que diferença faz, de fato, o que as pessoas pensam ou
dizem a nosso respeito? Não somos importantes! Mas o que as pessoas pensam e
dizem sobre Jesus Cristo é importante, pois ele é o Filho de Deus e o único
Salvador dos pecadores.
Aquilo que professamos sobre
Jesus Cristo revela o que Ele representa para nós. Os cidadãos de Cesaréia de
Filipe diriam: "César é o senhor!" Uma confissão como essa poderia identificá-los
como leais cidadãos romanos, mas jamais os salvaria do pecado e da perdição eterna.
A única confissão que salva é "Jesus é o Senhor!" (1 Co 12:1-3),
quando essas palavras vêm de um coração que crê verdadeiramente em Cristo (Rm
10:9,10).
As pessoas daquela época
apresentavam um número espantoso de opiniões diferentes sobre Jesus, e é
possível que a situação não seja muito diferente hoje. Havia quem pensasse que
ele era João Batista, mesmo João e Jesus tendo sido vistos juntos em público e
serem muito diferentes em personalidade e ministério. Como era possível fazer
tamanha confusão?
Alguns diziam que Jesus era um
dos profetas, talvez Jeremias, "o profeta chorão" (Mt 16:14), Jesus
era um homem de sofrimento. Como Jesus, Jeremias chamou o povo ao
arrependimento sincero. Ambos foram incompreendidos e rejeitados por seu próprio
povo, ambos condenaram os falsos líderes religiosos e a adoração hipócrita no templo,
e ambos foram perseguidos pelas autoridades.
Em suas palavras e ações, Jesus
ofereceu a seu povo inúmeras evidências de que era o Filho de Deus, o Messias, e ainda assim sua
mensagem não foi entendida. Em vez de
buscar a verdade com toda diligência, as pessoas ouviam e seguiam as opiniões populares,
como acontece em muitos casos em nossos dias. Tinham opiniões em vez de convicções,
por isso se desviavam.
A confissão de Pedro foi ousada e
inflexível, como deve ser também nossa profissão de fé: "Tu és o Cristo, o
Filho do Deus vivo!" (Mt 16.16). A designação Cristo significa
"o Ungido de Deus, o Messias prometido". Profetas, sacerdotes e reis
eram ungidos ao serem escolhidos para os cargos, e Jesus exerceu esses três
ofícios.
Por que Jesus pediu que
guardassem segredo a seu respeito?
a. Em primeiro lugar, os próprios discípulos ainda tinham
muito o que aprender sobre ele e sobre o que significa seguir ao Senhor.
b. Os líderes religiosos de Israel já haviam formado seus
conceitos sobre Jesus, e declará-lo publicamente como Messias nesse momento não
fazia parte do plano de Deus.
c. O povo em geral queria ver Jesus realizar milagres,
mas não se mostrava tão interessado em suas mensagens. Anunciá-lo como Messias
poderia muito bem resultar numa revolta política prejudicial a todos.
2. A CONFUSÃO COM PEDRO: GRANDE
IGNORÂNCIA (vv. 31-33).
Uma vez que haviam confessado sua
fé em Cristo (Jo 6:66-71), os discípulos encontravam-se preparados para o
"segredo" que Jesus desejava-lhes revelar: estavam a caminho de
Jerusalém, onde morreria numa cruz. Desse ponto em diante, Marcos concentrasse na
jornada para Jerusalém e enfatiza a iminência da morte e ressurreição de Jesus (Mc
9:30-32; 10:32-34).
Essa declaração assustou os
discípulos. Se, de fato, ele era o Cristo de Deus, como haviam confessado,
então por que seria rejeitado pelos líderes religiosos? As Escrituras do Antigo
Testamento não haviam prometido que derrotaria todos os inimigos e
estabeleceria um reino glorioso para Israel? Havia algo errado nisso, e os
discípulos ficaram confusos.
Como sempre, Pedro expressou a
preocupação de todos. Num instante, Pedro fora guiado por Deus a confessar sua
fé em Jesus Cristo (Mt 16:17), e, logo em seguida, já pensava como um
incrédulo, expressando os pensamentos de Satanás!
O protesto de Pedro nasceu de sua
ignorância quanto à vontade de Deus e de seu profundo amor pelo Senhor. Num
minuto, Pedro mostrou-se uma "rocha, logo em seguida, uma pedra de
tropeço. Pedro ainda não havia entendido a relação entre sofrimento e glória.
No devido tempo, aprenderia essa lição e lhe daria grande ênfase em sua
primeira epístola (observe 1 Pe 1:6-8; 4:13 - 5:10).
Por que Jesus repreendeu tão
severamente ao Pedro? Porque Pedro estava expressando em palavras as mesmas
tentações que nesse momento acossavam a Ele. Jesus não queria morrer. Sabia que
possuía poderes que podia empregar para vencer. Nesse momento estava sendo
repetida a batalha das tentações do deserto. Era o diabo que voltava a tentá-lo
a prostrar-se e adorá-lo, a tomar seu caminho em lugar do caminho de Deus.
Convém observar, porém, que, ao
repreender Pedro, Jesus também "fitou" seus discípulos, pois
concordavam com as palavras de Pedro! Imbuídos da tradição judaica de interpretação,
foram incapazes de entender como seu Messias iria sofrer e morrer. Não é de se
admirar que os discípulos estivessem confusos.
No entanto, o problema ia além do
aspecto teológico: tratava-se de questões práticas. Jesus chamara aqueles
homens para segui-lo, e sabiam que tudo o que acontecesse ao Mestre também aconteceria
ao grupo. Se havia uma cruz no futuro de Jesus, também haveria sofrimento para
eles, e só isso já era motivo suficiente para discordar do Mestre!
Apesar de sua devoção a Jesus, os
discípulos continuavam ignorando a verdadeira relação entre a cruz e a coroa. Seguiam
a filosofia de Satanás (glória sem sofrimento) em vez da filosofia de Deus
(sofrimento transformado em glória). A filosofia que se escolhe determina a
forma de viver e de servir.
3. O DESAFIO DA CRUZ: CAMINHO DO
DISCIPULADO (vv.34-37)
Quando chegamos a esta parte do
Evangelho de Marcos estamos tão perto do coração e centro da fé cristã, que
devemos estudá-lo quase frase por frase. Se a gente pudesse sair cada dia com
uma só destas orações presa no coração e dominando a vida, seria muito mais que
suficiente para guiá-lo.
Marcos indica que, apesar de
Jesus ter se encontrado com os discípulos em particular, as multidões não
estavam muito longe. Jesus chamou o povo e lhes falou sobre o que havia
ensinado aos discípulos: o verdadeiro discipulado exige um preço.
Jesus sabia que as multidões o seguiam apenas por causa dos milagres e que
a maioria não estava disposta a pagar o preço do verdadeiro discipulado.
Jesus impôs três condições para o
verdadeiro discipulado:
a. Entregar-se inteiramente a ele;
b. Identificar-se com seu sofrimento e morte;
c. Segui-lo em total obediência, para onde quer que
conduza.
Quem vive para si, perde-se; mas
quem se entrega por amor a Cristo e ao evangelho, é salvo.
Negar-se a si mesmo não é o mesmo que abnegação, que
é a prática de, por um bom motivo, abrir mão de coisas e de atividades. Negar-se
a si mesmo é render-se a Cristo e tomar o firme propósito de obedecer à sua
vontade. Essa consagração definitiva é seguida de um "negar-se a si
mesmo" diário ao tomarmos nossa cruz e segui-lo. Do ponto de vista humano,
nos perdemos, mas do ponto de vista divino, nos encontramos. Quem vive para
Cristo torna-se cada vez mais semelhante a ele e, com isso, encontra singular
individualidade.
É importante observar, porém, a
motivação para o verdadeiro discipulado: "por causa de mim e do
evangelho" (Mc 8:35). Negar-se a si mesmo não é um ato de desespero, mas
sim de devoção. No entanto, é preciso ir ainda mais longe: a devoção pessoal
deve conduzir a responsabilidades práticas, a compartilhar o evangelho com o mundo
perdido. A declaração: "por causa de mim" poderia levar a um
isolamento religioso egoísta, de modo que é contrabalançada com: "e do
evangelho". Por viver para Cristo, vive-se para os outros.
O discipulado é uma questão de
ganhos e de perdas, de desperdiçar ou de investir
a vida. Deve-se atentar para a advertência de Jesus aqui: ao gastar a vida,
não há como comprá-Ia de volta! Não é possível esquecer que ele estava
instruindo seus discípulos, homens que já o haviam confessado como Filho de
Deus.
"Perder a sua alma" é o
equivalente a desperdiçar a vida, deixando passar as grandes oportunidades que
Deus nos dá para fazer a vida valer a pena. Podemos "ganhar o mundo
inteiro" e ser um grande sucesso aos olhos dos homens e, ainda assim, não
ter coisa alguma para mostrar quando estivermos diante de Deus. Se isso
acontecer, mesmo tendo conquistado o mundo inteiro, não teremos o suficiente
para pagar a Deus por uma nova chance!
4. A RECOMPENSA: HONRA E GLÓRIA
(vv.38-9.1)
Uma coisa nos sai ao encontro
nesta passagem: a confiança de Jesus. Acaba de falar sobre sua morte; não tem
dúvida alguma de que lhe espera a cruz; mas, não obstante, está absolutamente
seguro de que no final o triunfo será dele.
Quando o Rei vier em seu Reino,
será fiel a aqueles os que foram fiéis. Ninguém pode esperar evitar todas as
dificuldades e moléstias de alguma grande empresa e logo recolher os benefícios
dela. Ninguém pode recusar-se a participar de uma campanha e esperar participar
da partilha de condecorações quando a campanha termina com êxito.
O verdadeiro discípulo recebe
alguma recompensa? Sim. Torna-se cada vez mais semelhante a Jesus Cristo e, um
dia, compartilhará de sua glória.
Satanás promete glória, mas no
final o que se recebe é apenas sofrimento. Deus promete sofrimento, mas por fim
esse sofrimento será transformado em glória. Quem reconhece a Cristo e vive para
ele, um dia será por ele reconhecido e compartilhará sua glória.
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