-> verso 20 - “Então, ele foi para casa”. Jesus havia se retirado
para “os lados do mar” (v.7), estava em
campo aberto, longe de casa, agora ele volta para a cidade, não Nazaré, mas
Cafarnaum, provavelmente a casa de Pedro. Diferente da falta de espaço (2.2)
(aqui todos estavam sentados - v.34), o que lhe faltava era tempo: “nem podiam comer”, pois foi exigido totalmente, e
ele serviu sem poupar-se.
-> verso 21 – “os parentes... saíram para o prender”. Vemos o
contraste entre dois grupos: Aqueles que
“estão com ele” (v.14), e aqueles do grupo dos “parentes – os seus”, descritos
no v.31 como sendo “sua mãe e seus irmãos”. Aqui vemos a família nova e a
antiga. A família nova veio a ele em virtude do seu chamado, a antiga vem sem
ser chamada, por iniciativa própria.
-> verso 21 - Seus familiares vieram para o “prender”, para levar ele de volta para casa, achando que ele “está fora de si” (exhistamai), termo que se refere a “mudança de local; alguém que é tirado de si mesmo”, com sentido de alguém que está fora de si, que perde o controle, dentro do contexto no sentido de um “fanático religioso”.
A família de Jesus não tinha dúvidas de que
ele estava confuso, possivelmente louco! Quando viram as
multidões que o seguiam e ouviram as notícias extraordinárias a respeito dele,
tiveram certeza de que Jesus precisava urgentemente de
ajuda, pois não levava uma vida normal.
Assim,
foram a Cafarnaum para "tomar conta dele". Em seguida, sua mãe e seus "irmãos" (Mc 6:3)
saíram de Nazaré e viajaram quase 50 quilômetros para
implorar que Jesus voltasse com eles e descansasse, mas não
conseguiram chegar perto dele.
A história
mostra que, muitas vezes, os servos de Deus não são
compreendidos por seus contemporâneos e familiares. D. L.
Moody era conhecido em Chicago como "Moody Maluco", e até mesmo o
grande apóstolo Paulo foi chamado de louco (At 26:24,25).
-> verso 31 – “chegaram sua mãe e seus irmãos”. Em todos os
versos é mencionada esta expressão que domina o trecho. Um contraste com At 1.14 é que
lá os parentes estavam “dentro”, aqui
ainda estavam “lá fora”. Em Atos, o fazer parte da Igreja baseava-se
em princípios espirituais, não em laços de sangue.
-> verso 31 – “tendo ficado do lado de fora”. Forma-se um paralelo entre os parentes físicos de Jesus e
seus inimigos, que o empurraram para a morte (Mc 3.6). Os fariseus se afastaram, os
parentes não se aproximaram. A separação física indica uma
separação espiritual.
Ao
permanecer dentro da casa e não se esforçar para ver seus familiares, Jesus não estava sendo indelicado com eles. Sabia
que a motivação deles era correta, mas seus propósitos eram, sem dúvida alguma,
equivocados.
Se Jesus tivesse se sujeitado a sua família,
teria feito exatamente o que seus inimigos queriam, pois
os líderes religiosos diriam: "Estão vendo? Ele mesmo concordou com a
família: precisa de ajuda! Não levem Jesus de Nazaré tão a
sério".
-> verso 33,34 – “quem é minha mãe e meus irmãos?... eis minha mãe e meus
irmãos”. Jesus começa a estabelecer a base para
identificar sua nova família espiritual: o novo nascimento. Jesus
adota o ideal da família de sangue para caracterizar sua família espiritual. Sua família são aqueles que estavam “dentro” sentados
aos seus pés.
Em vez
de ceder, Jesus usou essa crise para ensinar uma lição
espiritual: sua "família" é constituída de todos os que fazem a
vontade de Deus. Jesus sentia-se mais próximo de
publicanos e de pecadores que creram nele do que
de Tiago, José, Judas e Simão, seus meios-irmãos ainda não
convertidos (Jo 7:1-5).
Jesus
não estava dizendo que os cristãos devem ignorar ou
abandonar a família a fim de servir a Deus, mas
apenas que devem colocar a vontade de Deus
acima de tudo. Nosso amor por Deus deveria ser tão
grande que, em comparação, o amor por nossas famílias
pareceria ódio (Lc 14:26).
Por
certo, Deus deseja que cuidemos de nossa família
suprindo suas necessidades (1 Tm 5:8), mas não devemos permitir que
qualquer um, nem mesmo nossos entes mais queridos, nos afaste
da vontade de Deus. Ao considerar a importância da família
na sociedade judaica, imaginamos como as palavras de Cristo devem ter parecido
radicais para os que as ouviram.
-> verso 35 – “qualquer que fizer a vontade de Deus”. A verdadeira família de Jesus, sua casa, é a casa do Pai. Deus Pai
pessoalmente é seu criador e
governante. Sem esse pai não há irmãos, sem que se faça sua vontade não há comunhão
verdadeira. Por isso o Pai faz parte da definição de uma comunhão. Para ter este Pai entre nós, precisamos ter
Jesus como centro.
Como é possível fazer parte da família de
Deus? Por meio de um novo nascimento, um nascimento espiritual do alto (Jo
3:17; 1 Pe 1:22-25). Quando um pecador crê em Jesus Cristo
como Salvador, experimenta esse novo nascimento e passa a fazer parte da
família de Deus.
Compartilha da natureza divina de Deus (2 Pe
1:3, 4) e pode chamar Deus de "Pai" (Rm 8:15,16). Esse nascimento espiritual não se alcança por
conta própria nem é algo que outros possam fazer por nós (Jo 1:11-13).
Antes, é obra da graça de Deus, e
tudo o que precisamos fazer é crer e aceitar (Ef 2:8, 9).
Aplicações
- Jesus
aponta um parentesco mais sublime e espiritual, com “qualquer que fizer a
vontade de Deus”
- Jesus
não veio para destruir as relações terrenas, mas para resguardá-las. Veio
também para mostrar que as relações espirituais são soberanas.
- O
parentesco natural é passageiro, mas parentesco espiritual é eterno. Jesus não
despreza sua mãe, mas põe em primeiro lugar o seu Pai.
- Quando
o natural e o espiritual rivalizam-se no nosso coração e na nossa vida, é fatal
ceder ao natural.
- É
duro ser mal-entendido pelos parentes, mas a lealdade a Cristo pode tornar isso
inevitável.
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