O evangelho de Marcos apresenta Jesus como Servo, não um servo qualquer, um Servo-Deus, que serve libertando, curando, perdoando e salvando. O evangelho de Marcos apresenta a seguinte estrutura:
1. A Apresentação do Servo (1.1-13);
2. O Ministério do Servo na Galiléia (1:14-9:50);
3. A Jornada do Servo a Jerusalém (cap. 10);
4. O Ministério do Servo em Jerusalém – última semana de Jesus (cap. 11-16).
Até aqui nós vimos:
è Marcos apresentando Jesus
como Servo (1.1);
è João Batista anuncia o Servo
(1.2-8);
è A preparação do Servo para o
ministério (batismo e autoridade) (1.9-13);
è As bases do ministério do
Servo (pregação, discipulado e poder) (1.14-31)
è As prioridades do Servo para
o ministério (oração, pregação e misericórdia) (1.32-45).
Passamos agora a dar ênfase àquilo que o “Servo nos oferece”: perdão, satisfação e liberdade (Mc 2.1-3.12).
O ministério que começou na região da Galiléia, concentra-se,
neste início em Cafarnaum. Lá Jesus chama os primeiros discípulos; liberta um
homem possesso na sinagoga; depois cura a sogra de Pedro e faz muitas outras
curas.
Passados
alguns dias, Jesus volta para Cafarnaum, e quando estava em casa (provavelmente
na casa de Pedro, que fora usada como base para seu ministério, já que Nazaré
ficava uns 32km distante), é lavado até ele um homem paralítico.
Aonde
quer que Jesus fosse, as multidões se juntavam. Desejavam vê-lo curar enfermos
e expulsar demônios. Jesus sabia que não tinha interesse na mensagem do
evangelho, mas só tinha ideias superficiais e se encontrava cega para as
próprias necessidades.
Era
chegada a hora de Jesus mostrar às multidões o verdadeiro
caráter de seu ministério. Afinal, viera à
Terra para fazer muito mais do que simplesmente aliviar as aflições dos
enfermos e endemoninhados.
Sem
dúvida, esses milagres eram maravilhosos, mas havia algo muito maior a experimentar: as pessoas
poderiam entrar no reino de Deus! Precisavam
entender as lições espirituais por trás dos
milagres que Jesus realizava.
1. JESUS OLHOU PARA O ALTO
Quando olhou para o alto, viu quatro homens com o amigo paralítico. As
casas daquela região tinham telhado plano, ao qual normalmente se podia ter
acesso por fora mediante uma escada. Não seria
difícil remover as telhas e ripas, a fim de abrir
uma passagem grande o suficiente para baixar a maca com o amigo paralítico.
Encontramos
nesses amigos uma série de características
admiráveis, qualidades que devem nos marcar como "pescadores
de homens".
1.
Estavam profundamente preocupados com o amigo e
desejavam vê-lo curado.
2. Criam que Jesus tinha poder e
estava disposto a suprir a necessidade deles.
3. Não
se ativeram a "orar sobre o assunto",
mas também agiram, sem
desanimar com as circunstâncias.
4. Trabalharam juntos,
ousaram fazer algo diferente, e
Jesus recompensou seus esforços. Teria sido muito fácil se dissessem: “É
impossível chegar perto de Cristo hoje... Quem sabe podemos voltar
amanhã!"
2. OLHOU PARA O PARALÍTICO
Quando
Jesus olhou para baixo, viu o homem paralítico em seu leito e tratou do cerne do problema: o pecado. Há
uma correlação entre “doenças e pecados”, mas
nem toda doença é causada pelo pecado (ver Jo 9:13).
Olhou
ao paralítico e lhe disse: "Filho, seus pecados lhe são perdoados."
Os judeus relacionavam intimamente o pecado
e o sofrimento. Sustentavam que se alguém sofria, devia ter
pecado. Para o judeu, o doente era um homem com quem Deus estava zangado.
Este,
como sabemos, é o raciocínio dos amigos que
visitaram o Jó: "Que inocente se perdeu?", é a pergunta do Elifaz o
temanita (Jó 4:7). Os rabinos tinham um dito
segundo o qual "Nenhum doente será curado de sua
enfermidade até que Deus não lhe tenha perdoado todos seus pecados."
Até nossos dias encontramos a mesma ideia entre os povos primitivos.
É
verdade que muitas enfermidades são
consequência direta do pecado; e mais certo
ainda é que, uma e outra vez, a enfermidade não se deve a um pecado do doente,
mas sim se trata de algo que herdou ou contraiu pelo pecado de outros.
Nós, em
geral, não estabelecemos a relação íntima
entre a enfermidade e o pecado. Mas os judeus o faziam. Portanto, qualquer judeu teria sustentado que o perdão dos
pecados era uma condição prévia a qualquer cura.
3. OLHOU AO REDOR - RELIGIOSOS
Em
seguida, Jesus olhou ao redor e viu os...
“religiosos criticando” o que ele fazia (ver Lc 5:17).
Tendo em vista que a vida religiosa de Israel estava
sob seus cuidados, esses líderes tinham todo o direito de investigar o
ministério desse novo Mestre (Dt 13).
No
entanto, deveriam ter vindo com a mente e
o coração abertos, buscando a verdade, em vez de chegar com
críticas, à procura de heresias. Algumas das
atitudes negativas presentes na Judéia (Jo 4:1-4) chegaram, assim, à Galiléia,
dando início à oposição oficial que culminou com a prisão e morte de Jesus.
A essa
altura, a popularidade de Jesus era tanta
que os líderes judeus não ousavam ignorá-lo.
Aliás, é possível que tenham chegado mais cedo do que os
outros, pois estavam num lugar privilegiado! Ou, quem sabe, num gesto de
bondade, Jesus deixou que se assentassem na primeira fila.
Jesus, como vimos, já tinha atraído a multidão e também tinha
atraído a atenção dos dirigentes judeus - o Sinédrio era a Corte Suprema dos judeus. Uma
de suas funções era ser guardião estrito da ortodoxia e um
dos deveres era encarregar-se dos falsos profetas. O Sinédrio tinha enviado uma
comissão investigadora para ver quem era esse Jesus.
Uma das
ideias essenciais da fé judaica era que somente Deus
podia perdoar os pecados. O homem que
pretendesse ter esse poder estava insultando a Deus; era uma
blasfêmia, e o castigo da blasfêmia era a morte por lapidação (Levítico 24:16).
Eles
acreditavam firmemente que o pecado e a enfermidade estavam
unidos inseparavelmente. Qualquer enganador
podia dizer: "Seus pecados estão perdoados." Não havia forma de demonstrar se suas palavras eram verdadeiras ou
não. Mas dizer: "Levanta-te..." era algo que os fatos,
imediatamente, confirmariam ou refutariam.
Segundo
suas próprias crenças um homem não teria podido ser curado
a menos que fossem perdoados os seus pecados.
Entretanto, Jesus o curou, e
portanto, foi perdoado queria
dizer que a pretensão de Jesus de ser capaz de perdoar os pecados devia ser
autêntica
4. JESUS OLHOU PARA O CORAÇÃO
Quando Jesus olhou para o interior deles, viu o espírito crítico em seu
coração e soube que o estavam acusando de blasfêmia.
Afinal, somente Deus é capaz de perdoar pecados, e
Jesus havia acabado de dizer que os pecados do paralítico estavam perdoados. Ou
seja, Jesus estava dizendo que era Deus!
Logo em
seguida, porém, Jesus provou que era Deus ao ver o que havia no coração desses
homens e lhes dizer o que estavam pensando. Jesus
curou o homem
naquele mesmo instante e o mandou para casa. A cura do corpo do homem foi uma
ilustração e demonstração da cura de sua alma (Sl 103:3).
Jesus afirmou sua divindade não
apenas ao perdoar os pecados do
homem e curar seu corpo, mas
também ao aplicar a si mesmo o título de "Filho do
Homem". Trata-se de uma designação usada catorze vezes em Marcos.
O que os líderes religiosos teriam aprendido se
houvessem aberto o coração para a verdade naquele dia?
1.
Em primeiro lugar, teriam aprendido que o pecado é como uma doença e que o
perdão é como ter a saúde restaurada. Não se tratava de uma verdade nova, pois o Antigo
Testamento já dizia isso (51 103:3; Is 1:5, 6, 16-20). A diferença era que essa
verdade havia sido demonstrada diante dos olhos deles.
2.
Também, poderiam ter aprendido que Jesus Cristo de Nazaré é, de fato, o
Salvador com autoridade para perdoar pecados - e os pecados dos líderes teriam
sido perdoados também! Que oportunidade perderam quando foram até aquela reunião
com um espírito crítico, não com um coração arrependido!
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