13 de mar. de 2022

Definindo as Prioridades no Ministério

Marcos 1.35-45

 Definindo as Prioridades no Ministério

Basta ler o relato das coisas que aconteceram em Cafarnaum para ver que Jesus nunca podia ficar sozinho. Ele sabia, entretanto, que não podia viver sem Deus; que ia estar todo o tempo dando; de vez em quando, pelo menos, tinha que receber; que se ia gastar sua vida no serviço de outros; devia uma e outra vez chamar em sua ajuda todos os reforços espirituais de que pudesse dispor. Isto equivale a dizer que Jesus sabia que não podia viver sem a oração.

Em um pequeno livro titulado A prática da oração, o doutor A. D. Belden tem algumas magníficas definições da oração: "A oração pode definir-se como a apelação da alma a Deus." Não orar é ser culpado da incrível insensatez de ignorar "a possibilidade de somar a Deus a nossos recursos". "Na oração damos uma oportunidade à perfeita mente de Deus para que alimente nossos próprios poderes espirituais."

Jesus sabia tudo isto. Sabia que se fosse sair ao encontro dos homens precisava antes encontrar-se com Deus. E se a oração era necessária para Jesus, quanto mais não o será para nós? Mas até em sua hora de paz e comunhão com Deus vieram a buscá-lo. Não havia maneira de que Jesus pudesse lhes fechar a porta.

Jesus partiu em uma excursão de pregação pelas sinagogas de toda Galiléia. Em Marcos esta excursão está resumida em um versículo, mas deve ter durado semanas e até meses. Em sua excursão Jesus por volta de duas coisas: pregava e curava.

1. BUSCANDO A PRESENÇA DE DEUS – vv.35-37

Marcos registra ao todo doze ocasiões onde Jesus se retira para buscar a presença de Deus:

1. Retirou-se a um lugar solitário, depois das primeiras curas (1.35);

2. A lugares desertos, depois da purificação do leproso (1.45);

3. Ao lago, depois de ter curado o homem que tinha a mão ressicada (3.7);

4. Às aldeias, depois da sua rejeição em Nazaré (6.6);

5. A um lugar deserto, depois do assassínio de João Batista (6.30-32);

6. Aos arredores de Tiro e Sidom, depois da oposição dos fariseus (7.24);

7. À vizinhança de Cesareia de Filipos, depois da cura de um cego (8.27);

8. Ao monte Hermom, após a primeira declaração aberta da sua paixão (9.2);

9. A Betânia, depois da entrada triunfal (11.11);

10. E outra fez depois da purificação do templo (11.19);

11. E ainda mais uma vez após o discurso sobre as coisas do fim (14.3);

12. O parágrafo sobre a ascensão é como que a história da sua última retirada (16.19).

O que tem em comum nestas “retiradas” de Jesus é que elas são logo após uma grande demanda espiritual: uma cura; uma rejeição ou oposição, um risco de vida ou revelação do seu ministério vicário. Jesus precisava voltar à presença do Pai todas as vezes que ele agia.

Jesus nos ensina que para termos sucesso no ministério devemos estar na presença de Deus para renovar nossas forças espirituais. A intimidade com Deus gera em nós o “poder” para o exercício do ministério. Isso aponta para o hábito, para a constância, para a regularidade. Intimidade é regularidade.

Quem muito serve, precisa estar muito com Deus, e os períodos para retiro e descanso espiritual serão necessários e frequentes. Somente à medida que permanecemos no esconderijo do Altíssimo poderemos ter um coração tranquilo, preparado para o serviço.

Não podemos ser místicos em ralação a estar na presença de Deus. O fato de Jesus ir “alta madrugada” para um “lugar deserto”, não significa que Deus só está nestes lugares e nestes horários. A oração no monte na madrugada tem seu valor, mas a oração em casa de manhã ou à tarde tem o mesmo valor. Pensar que Deus opera mais e melhor em dias, horários ou lugares especiais é diminuir a onipresença, a onisciência e a onipotências do Senhor.

Jesus nos ensina que há momentos de estar servindo às pessoas e momentos de estar adorando a Deus. A cura da sogra de Pedro gerou uma alta demanda de serviço, mas Jesus sabia que aquela demanda não podia desviá-lo da intimidade e nem ocupar todo seu tempo. Devemos saber balancear entre o serviço e a intimidade.

2. NÃO PERDER O FOCO DA PREGAÇÃO – v.38,39

A demanda aumentou muito após a cura da sogra de Pedro, Jesus curou muitas pessoas até alta hora da noite. Na manhã seguinte, antes de que começassem a chegar as pessoas, Jesus se retirou para estar na presença de Deus. Depois de muito procurar, Pedro encontrou Jesus, o repreendeu e quis que ele voltasse para fazer mais curas.

Mas Jesus rejeita o chamado de Pedro afirmando que deveria ir “a outros lugares, às povoações vizinhas” a fim de pregar também ali porque fora para isso que ele veio. Fica claro que a pregação era uma prioridade no ministério de Jesus, até mais importante que realizar curas onde ele já havia curado.

Entre os versos 39 e 40 vem o Sermão o Monte (Mt 5 a 7), uma amostra da pregação a qual Jesus se refere a Pedro no verso 38 e 39). Jesus afirma seu programa de pregação evangelística com firme clareza. Em Lucas 19.10, ele diz: “porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido”. E assim ele se move, percorrendo a Galiléia várias vezes (v.39, 6.6; Lc 8.1).

Muitos ministérios se perdem e mudam suas prioridades por desprezar a pregação em lugar de procurar manifestar curas, milagres, libertações, etc. Estes eventos podem por algum tempo atrair pessoas para os templos, mas quando surgir outro ministério “mais poderoso”, essas pessoas migrarão para lá, e na maioria das vezes, sem salvação.

Não devemos nos enganar, a prioridade de Jesus é pregar, não curar. As curas vieram em decorrência de sua pregação. Se queremos ser usados para operar curas, primeiro devemos nos dispor a sair e pregar. Se ficarmos só dentro da Igreja e das nossas casas, se negligenciarmos a pregação, nunca vamos operar curas, libertação ou qualquer outra realização.

Além do mais, a Palavra registra que “há alegria no céu quando um pecador se arrepende” (Lc 15.7), mas não encontramos o registro desta alegria por um doente que é curado. Se queremos alegras os céus e o coração de Deus, devemos pregar a mensagem de arrependimento para salvação dos perdidos.

3. DEMONSTRANDO MISERICÓRDIA – vv.40-45

No Novo Testamento não há enfermidade que seja enfrentada com maior terror e lástima que a lepra. "Nenhuma outra enfermidade reduz ao ser humano durante tantos anos a uma ruína tão repugnante."

Sobre este pano de fundo, contemplamos uma das imagens mais reveladoras de Jesus:

3.1. Não expulsou de sua presença a um homem que tinha violado a Lei. O leproso não tinha direito de dirigir-lhe a palavra. Jesus sai ao encontro da desesperadora necessidade humana com um espírito de pormenorizada compaixão.

Tocar e curar uma mulher com febre é uma coisa, mas se encontrar com um leproso e tocá-lo é algo que vai além de nossa compreensão. Os leprosos mantinham-se afastados e avisavam a todos que estavam chegando, a fim de evitar que outros se contaminassem (Lv 13:45, 46).

O homem sabia que Jesus era capaz de curá-lo, mas não tinha certeza de que o Mestre estivesse disposto a fazê-lo. Hoje, muitos pecadores perdidos também sofrem com essa mesma preocupação desnecessária, pois Deus já deixou bem claro que não deseja que nenhum pecador pereça (2 Pe 3:9) e que seu grande anseio é que todos sejam salvos (1 Tm 2:4).

3.2. Jesus estendeu sua mão e o tocou. Jesus toca um homem impuro. Para ele não era um homem impuro, era só um ser humano que necessitava desesperadamente sua ajuda.

Quando lemos a respeito dos "testes" para detectar a lepra, em Levítico 13, vemos como essa doença ilustra bem o pecado. Como o pecado, a lepra não se atém à superfície (Lv 13:3); ela espalha-se (Lv 13:5-8), contamina e isola (Lv 13:44-46), tornando as coisas a seu redor inúteis, próprias apenas para ser queimadas (Lv 13:47-59).

Os que ainda não creram no Salvador estão espiritualmente em estado mais lastimável do que a condição física desse homem.

Jesus teve compaixão do homem (observe Mc 6:34; 8:2; 9:22) e o curou com seu toque e  sua palavra. Sem dúvida, foi o primeiro toque de carinho que o leproso sentiu em muito tempo. Como a febre da sogra de Pedro, a lepra também desapareceu imediatamente.

3.3. Depois de curá-lo, Jesus o envia a cumprir com o ritual que prescrevia a Lei. Cumpriu a Lei e a justiça humanas. Não desafiava as convenções, mas quando era necessário, submetia-se a elas.

Jesus ordenou ao homem que não contasse a ninguém o que havia acontecido. Deveria procurar o sacerdote e seguir as instruções de Levítico 14, para que pudesse ser declarado puro e ser recebido de volta no convívio social e religioso da comunidade.

Mas o homem não obedeceu à ordem de Jesus e contou para todo mundo que havia sido curado. Nós, por outro lado, permanecemos calados quando Jesus ordenou que contemos a todos o que ele fez! As multidões que foram buscar a ajuda de Jesus criaram um problema sério para ele e, provavelmente, o impediram de ensinar a Palavra da forma como desejava (Mc 1:38).

A cerimônia descrita em Levítico 14 é uma imagem belíssima da obra da redenção. Os dois pássaros representam dois aspectos diferentes do ministério de nosso Senhor: sua encarnação e morte (o pássaro colocado no vaso de barro e depois sacrificado) e sua ressurreição e ascensão (o pássaro manchado com o sangue e depois solto).

O sangue era colocado na orelha direita da pessoa (a Palavra de Deus), no polegar direito (a obra de Deus) e no artelho direito (a jornada com Deus). Então, se colocava óleo sobre o sangue, simbolizando o Espírito Santo de Deus. O Espírito Santo só pode habitar no ser humano depois que o sangue de Cristo tiver realizado sua obra.

CONCLUSÃO

Se o Filho de Deus veio como Servo, servir é uma vocação suprema. Quando servimos os outros, tornamo-nos mais semelhantes a Cristo.

Deus compartilha sua autoridade com seus servos. Somente os que estão sob alguma autoridade têm o direito de exercer autoridade.

Se desejarmos ser servos, precisaremos, sem dúvida alguma, ter grande compaixão, pois as pessoas virão até nós em busca de ajuda, e raramente perguntarão se o momento é conveniente!

É um privilégio enorme seguir os passos de Jesus Cristo e se tornar um servo compassivo de Deus, suprindo as necessidades dos outros.


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