· “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”
PRINCÍPIO.
Diferente de Mateus e Lucas, Marcos não contém uma narrativa do nascimento de
Jesus. O “princípio” é resumido nos fatos
pertinentes à vida e morte de Cristo; assim, a pregação apostólica foi a
continuação. Marcos associa o princípio com a identificado com o ministério de João
Batista e com as profecias do A.T. anunciando a vinda de João Batista (vv.2-8).
EVANGELHO. Um
termo de comunidade e correspondência política ou pessoal, que
significa “boas novas”. Os gregos usavam esta palavra para anunciar eventos tais
como o nascimento de um imperador, ou uma grande vitória militar.
DE JESUS CRISTO. Ou “a respeito de Jesus Cristo”, ou
como “da parte de Jesus Cristo”. O
evangelho é “a respeito” de Jesus, mas é também “da parte” dele. Este evangelho
reivindica autoridade divina e se oferece como a palavra de Cristo através de
seus apóstolos, à igreja.
FILHO DE DEUS.
Marcos apresenta Jesus, no começo do seu Evangelho, como o divino e eterno
Filho.
·
A urgência do texto.
O texto
de Marcos é simples, rápido e objetivo. É aquele
tipo de texto que tira o fôlego do leitor. Aliás,
alguns estudiosos do texto original afirmam que Marcos parece estar apressado
para concluir, porque ele usa a palavra euthys (gr. logo, imediatamente,
rapidamente) mais de 40 vezes.
Marcos não apresenta a genealogia de Jesus, já no
primeiro versículo ele afirma que vai tratar de "Jesus Cristo, o Filho
de Deus" e ao final do primeiro capítulo (v.45), Jesus já está famoso em
toda a Galiléia, já arrebanha multidões em busca de cura e
esperança e já lemos indícios dos primeiros conflitos com a
elite religiosa.
·
Destinatário e Contexto do Livro.
Ao ler
Marcos, precisamos lembrar que seu autor escrevia em
um contexto de plena perseguição aos
cristãos por parte do Império Romano.
Estamos entre os anos 67 e 70 do
primeiro século (alguns atribuem ao escrito a data
anterior: 57 a 63 d.C.). O imperador
Nero, recentemente, incendiou a cidade de Roma e pôs a culpa nos cristãos,
que passaram a ser perseguidos com muito mais ferocidade. Paulo foi decapitado, Pedro também foi morto.
O
texto, ao que parece, foi dirigido à igreja de Roma, uma
igreja formada por gentios
convertidos, pessoas sem a tradição e costumes judaicos. Essa tese é apoiada:
-> Pela associação de Marcos com Pedro, que
em 1Pe 5.13 dirige-se aos cristãos na
“Babilônia” (uma possível referência a Roma);
-> Pela
influência do latim no texto grego;
-> Pela
provável referência aos membros da igreja
de Roma (15.21->Rm 16.13);
->
Tradução de termos semíticos (3.17; 5.41; 15.22);
->
Cuidadosa explicação dos costumes judeus (7.2-4; 15.42).
·
Quem é Marcos?
Segundo
comentaristas, é o “moço” descrito no cap. 14.51,52. Marcos era também
conhecido por João Marcos, primo/sobrinho (anepsios>nepos=ninhada)
de Barnabé (Cl 4.10). É tido por filho de uma das Marias que
seguiam a Jesus (At 12.12). Tido como ajudante de Pedro, de
quem ouvir os relatos e os escreveu.
Companheiro de Paulo e Barnabé na primeira
viagem missionária (At 12.25; 13.5,13;
15.27-39). Provavelmente, um dos líderes da igreja que
restou em Roma e nas redondezas. A maioria dos demais apóstolos e da geração de pessoas
que conviveu com Jesus já haviam morrido.
·
Ambiente de perseguição
Neste
momento, a igreja que está sendo perseguida precisa
manter viva a verdade de que Jesus é o Filho de Deus, Senhor de todos os impérios e reinos e que
mesmo assim, sofreu tudo aquilo que de pior poderia acometer um ser humano (o
Filho do Homem) e conclamou, em
vida, seus discípulos a seguirem pelo mesmo caminho,
aquele que leva até a cruz.
Era urgente para
os cristãos gentios (a maioria romanos) que o relato
da vida, ministério, milagres, ensino, morte e ressurreição de Cristo fossem
recontados e registrados de modo a manter
viva a esperança de que Jesus, soberano filho de Deus, está no controle de
tudo, inclusive dos sofrimentos desse mundo.
·
A Mensagem de Marcos
Marcos
descreve Jesus como o poderoso obreiro – o
conquistador, mais do que como ensinador. Inclui
só um discurso de Jesus (do monte das Oliveiras – cap. 13), fornece mais as
obras do que as palavras de cristo. Marcos registra 18 milagres, mas
só 4 de suas parábolas (cap. 4).
É o
evangelho do Servo do Senhor, qualidade que sempre está em evidência. O texto chave é cap.
10.45: “Pois, o próprio Filho do Homem não
veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.
O caráter distintivo de Cristo em Marcos é aquele que Paulo apresenta em Filipenses 2.5-8.
A
mensagem de Marcos é cristalina: o humilde servo que abandonou a
forma de Deus e foi achado na forma de homem, era, contudo, o Deus poderoso. Jesus
Cristo, o filho de Deus, viveu neste mundo, chamou muitos discípulos,
ensinou-lhes a obedecer à Deus, mostrou-lhes seu poder sobre a
natureza, sobre os demônios, sobre as doenças, sobre o pecado e sobre a morte.
O Filho
de Deus declarou, com a sua vida, a
chegada do Reino de Deus, e deixou claro a
cada discípulo que a vida neste Reino se resume a
tomar cada um a sua cruz e segui-lo, se necessário,
até a morte. Mas mostrou também que a vida neste Reino também é cheia
de compaixão, graça e poder.
·
Mensagens práticas para nós.
1. Jesus como verdadeiro
Israelita. Jesus
mostra em sua vida a necessidade de submissão à Palavra escrita de Deus
(1.13; 12.35-37). Jesus é apresentado e
apresenta a si próprio como o modelo para os seus discípulos no serviço e
no sofrimento.
2. Jesus como Filho de Deus. Jesus se revela como Filho de
Deus e Filho do Homem (1.11; 2.10; 3.11; 5.7; 9.7;
14.62; 15.39), brilhando através do estado de humilhação para seu
chamado messiânico terreno. É o Servo humilde fazendo a vontade do Pai.
As qualidades de servo e filho são inseparáveis. Não é mediante o serviço
que nos tornamos filhos, mas pela adoção de filhos que chegamos a ser servos.
3. O Evangelho como “Poder de
Deus”. Marcos
enfatiza a importância da pregação e do ensino da mensagem do Evangelho
não apenas como uma verdade teológica, mas como o “poder de Deus” (12.24; Rm 1.16) sobre o mal e a doença (1.27; 16.15-18).
4. A Missão aos Gentios. Marcos mostra o interesse
de Jesus para com os gentios e a validade da missão da Igreja para com eles.
Vemos o Servo andando entre os homens, passando de um lugar a outro,
descansando, mas incansável. Isso se
evidencia do esboço do livro, na explicação de termos e costumes judaicos, e na
menção do Templo ser uma “casa de oração para todas as nações” (11.17) e na
confissão final de Cristo pela boca de um gentio (15.39).
5. A importância dos Retiros. Quem muito serve, precisa
estar muito com Deus, e os períodos para retiro e descanso espiritual (11
vezes em Marcos) serão mais frequentes e mais necessários à medida que nosso
serviço se torne mais verdadeiramente sacrificial: somente à medida que
permanecemos no esconderijo do Altíssimo poderemos ter um coração tranquilo,
preparado para o serviço.
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