Diferente
dos animais, que parecem bem satisfeitos em ser apenas eles mesmos, nós,
humanos, estamos sempre procurando meios de ser mais do que somos ou mesmo ser
outra pessoa. Exploramos o país por instigação, examinamos nossa alma em busca
de sentido, compramos o mundo pensando no prazer. Tentamos de tudo. As áreas
comuns de esforço são: dinheiro, sexo, poder, aventura e conhecimento.
Nossas incursões sempre aparentam ser promissoras no
início, mas nada parece nos satisfazer. Por isso, intensificamos nossos
esforços e, quanto mais nos dedicamos a algo, menos extraímos dele. Algumas
pessoas acordam cedo e empreendem uma jornada tediosa e repetitiva. Outros
parecem nunca aprender e se debatem por aí a vida inteira, tornando-se cada vez
menos humanos com o passar dos anos, até que, ao morrer, não resta humanidade o
bastante para compor um cadáver.
Eclesiastes é uma testemunha famosa – talvez a mais famosa
do mundo – dessa experiencia de futilidade. O juízo cruel prende nossa atenção.
A honestidade inflexível incita a observação. E eles realmente percebem – ah,
como percebem! Religiosos e não religiosos, igualmente, percebem. Crentes e não
crentes percebem. Muitos ficam surpresos de encontrar esse tipo de texto na
Bíblia.
No entanto, é o mais enfático e necessário na
Bíblia no que diz respeito a cessar nossas fúteis tentativas de fazer algo da
nossa vida, de modo que possamos prestar toda a atenção em Deus e, assim,
descobrir quem Ele é e o que empreende para fazer algo de nós. Eclesiastes, na
verdade, não diz muito acerca de deus. O autor deixa o tópico para os outros 65
livros da Bíblia. Sua tarefa é expor a total incapacidade humana de encontrar o
sentido e a completude da vida por nós mesmos.
É nossa propensão
desistir de nós mesmos, tentando ser humanos por meio de projetos e desejos
próprios, o que faz de Eclesiastes uma leitura indispensável. Eclesiastes faz
uma limpeza geral na nossa alma, removendo a espiritualidade “habitual” – aí,
sim, estamos prontos para a visitação de Deus, revelada em Jesus Cristo.
Eclesiastes é um livro que lembra João Batista. Funciona não como uma refeição,
mas como um banho. Não é alimento; é limpeza. É arrependimento. É expiação.
Lemos Eclesiastes para nos lavar e ficar limpos da ilusão, das opiniões das
ideias idólatras e dos sentimentos que causam revolta. Consiste na exposição e
rejeição da expectativa arrogante e equivocada de que podemos viver nossa vida
por nós mesmos, de acordo com as nossas regras.
Eclesiastes desafia o
otimismo ingênuo que estabelece um objeto que nos atrai e vai atrás dele com
vontade, esperando que o resultado seja uma vida plena. O ceticismo apático do
autor – uma negação veemente das propostas suntuosas e sedutoras que giram ao
nosso redor, prometendo tudo, mas não dando nada – purifica o ar. E, uma vez
que o ar está puro, estaremos prontos para a realidade – Deus.
1. SALOMÃO
NÃO ENCONTROU SATISFAÇÃO
Sem dizer abertamente,
o narrador dá a entender que é o rei Salomão o autor de Eclesiastes. Um homem
fabulosamente rico, internacionalmente famoso, com centenas de mulheres em seu
harém, ele agora é um senhor de idade que percebe como foi pequeno seu “sucesso”,
quando vê a morte se aproximar.
Após o imenso trabalho
que teve para construir seu império, teria de deixa-lo para seu filho Roboão,
um homem moralmente fraco. As dez tribos do norte de Israel não escondiam o
fato de que não confiavam em Roboão. Não precisava da inteligência de Salomão
para ver que o país logo entraria em colapso (e isso de fato ocorreu).
Independente do que
Salomão tenha concluído sobre sua vida, os ambiciosos jovens de Jerusalém não
viram nada além do atraente: dinheiro, inteligência, sexo, poder – tudo que
admiravam e desejavam.
Eles acreditavam que a
sabedoria era uma ferramenta para alcançar o sucesso. Nada estava mais distante
da mente deles que a ideia de que a verdadeira sabedoria acabaria por desfazer
o mito do sucesso.
2. SALOMAO
TEVE UM FINAL INFELIZ – 1Rs 10.23; 11.4,5
Salomão
foi o grande homem de sua época. Era o mais rico de todos os reis da terra.
Gente de todos os cantos da terra vinham conhecer Salomão e ouvir de sua
sabedoria. Todos os anos os visitantes chegavam em grandes caravanas, e todos
traziam presentes: ouro, prata, pedras preciosas.
Mas à
medida que ele envelhecia, por influência de suas mulheres, sua fidelidade ao
Eterno foi esmorecendo, se tornou devoto dos deuses que eram abomináveis ao
Senhor. Salomão desprezou abertamente seu Deus, não seguindo os passos de Davi.
Ele começou bem, mas terminou mal.
Salomão
ilustra o que chamamos de “final infeliz”, ele tinha tudo para terminar sua
vida bem, mas por suas escolhas erradas, não só acabou mal, como deixou uma
herança conflitos, idolatria e mortes. Chegar ao topo não é difícil, o difícil
é se manter lá, e Salomão caiu, e caiu feio. A causa da queda foi ele
afastar-se do Senhor. Essa continua sendo ainda hoje a ruína de muitas pessoas.
O
relato de Eclesiastes é justamente para alertar os jovens de que aquilo que ele
julgava trazer satisfação e alegria, na verdade, foi em vão, pois ele não
encontrou nestas coisas sua satisfação (Ec 2.1-11):
·
Não
encontrou satisfação na diversão, que hoje é sinônimo de baladas, bebidas,
sexo, drogas, noites em claro com amigos sem se preocupar com nada.
·
Tampouco
encontrou satisfação em ser um empreendedor: construir casas, jardins e fazer
grandes plantações de pomares.
·
Não
se satisfez com a prosperidade material: teve inúmeros escravos, grandes
rebanhos, acumulou ouro, prata e mulheres.
·
Nem
uma vida “loca” o satisfez. No final concluiu que tudo era um vazio só, nada
valeu a pena ou foi capaz de trazer satisfação.
3. A
RECEITRA DA FELICIDADE (Ec 5.18-20; 9.7-10)
Salomão
aprendeu da maneira mais dura o que podemos chamar de receita da felicidade:
“aproveite a vida, desfrute ao máximo o que Deus dá, antes que os anos mandem a
fatura de cobrança, mas cuidado, um dia você estará diante de Deus e terá que
prestar contas de tudo o que fez”.
Aproveite
a vida (9.7-10).
Coma bem, tenha alegria, se divirta, viaje, tire férias. Gaste seu dinheiro com
você, cuide-se, invista em você. Passe tempo com as pessoas que são importantes
pra você. Viva cada dia como um presente dado por Deus. Não deixe coisas para
trás, depois que morrer, não poderá realiza-las.
Aproveite
tudo ao máximo (5.18-20). Cuide do maior bem que Deus lhe deu: sua
vida. Não deixe de viver para acumular coisas, não se anule para satisfazer aos
outros. Use o que você ganha com o trabalho para se divertir, tirar férias,
viajar, etc. A vida é curta, não adie muitos seus sonhos e planos, pode não dar
tempo de realizar. Desfrute de seus bens, não deixe que eles te escravizem. Se
tem dinheiro, gaste, usufrua, se não tem o bastante que gostaria, viva feliz
com este padrão de vida. Só não deixe de viver.
Aproveite
a juventude (11.7-12.5). A força e o vigor da juventude é o maior bem que se pode
ter, aproveite e use com sabedoria. Não desperdice nenhum dia só porque terá muitos
outro pela frente. Não desperdice sua juventude, ela não voltará mais e você
não será jovem para sempre. Você ficará velho, tudo será diferente, aquilo que
você fez na juventude, nunca mais poderá fazer.
Prestaremos
contas (11.9; 12.14). Aproveitar a vida não é sinônimo de “meter o pé na
jaca”, Salomão que o diga. É preciso saber conciliar a liberdade de desfrutar
das coisas boas da vida e no final ser aprovado diante de Deus. Estas duas
coisas podem ser conciliadas e andar juntoas. Você não precisa viver longe de
Deus para ter alegrias e prazeres na vida. Há muitas formas de viver satisfeito
e em santidade.
CONLCUSÃO:
O velho
Salomão busca reparar os erros e remover o escândalo (ter se afastado de Deus)
por ele dado a todo o povo e perante todo o mundo (1 Rs 11).
Salomão
está advertindo, especialmente a juventude, contra as loucuras e pecados como
os por ele cometidos (7.27-29).
Ele
adverte que riquezas, honras, poder e sensualidade nada valem e só trazem as
preocupações, fadigas e aborrecimentos: “vaidade de vaidade” ou “vazio, tudo é
um grande vazio”.
Mas
mostra que o homem pode desfrutar das dádivas concedidas por Deus, sem,
entretanto, apegar-se aos bens passageiros.
Podemos
viver no temor de Deus, em obediência e amor à palavra divina sempre lembrando
do futuro juízo e prestação de contras no dia final.
Salomão
escreve o livro de Eclesiastes para nos alertar o que “não devemos” fazer, e
escreve o livro de Provérbios para nos ensinar o que “devemos” fazer.

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