FILADÉLFIA – IGREJA DIGNA DE ELOGIOS POR PERSEVERAR NA FÉ
INTRODUÇÃO
Filadélfia era a mais jovem das sete cidades. Tinha
sido fundada por colonos provenientes de Pérgamo (entre os anos 159 e 138 a.C).
Philadelphos, significa "aquele
que ama a seu irmão".
Filadélfia foi edificada com um propósito especial, era
uma cidade de fronteira. A ideia era convertê-la em missionária da cultura e do
idioma grego entre os habitantes da Frígia e Lídia, em "centro da difusão
da língua e das letras gregas numa região pacífica, mediante modos pacíficos de
penetração". É a isto que se refere o Cristo ressuscitado quando menciona
a porta aberta que está diante de Filadélfia. A igreja tinha a oportunidade de
cumprir outra grande missão: a de levar a seres humanos que ainda não a
conheciam a grande mensagem do amor de Jesus Cristo.
Localizada à beira de um planalto era uma terra muito
fértil e Filadélfia era o centro de uma região que se dedicava ao cultivo da
videira. Era famosa por seus vinhos. Mas tais vantagens tinham seus perigos.
Em Filadélfia os terremotos eram frequentes e cada novo
movimento sísmico produzia pânico na população. E isto é o que sucedia em
Filadélfia. Grandes gretas se abriam nas paredes das casas. Uma boa parte da cidade
estava totalmente em ruínas. A maioria da população vivia fora da cidade. Seus
habitantes em todo o tempo se mantinham alertas ao menor movimento da terra,
preparados para sair correndo. Os habitantes de Filadélfia sabiam bem quão bela
podia ser a promessa de que "nunca
mais terão que sair dali...".
Ao longo dos séculos a cidade mudou de nome várias
vezes, de tal maneira que os habitantes de Filadélfia sabiam muito bem o que
significava receber um "novo nome".
A história de Filadélfia aparece escrita entre as linhas desta carta.
Entre todas as cidades da Ásia, Filadélfia é a que
recebe maiores louvores do Cristo ressuscitado. Quando todas as outras cidades
tinham caído tomadas pelos árabes, Filadélfia ainda seguia em pé. Durante
muitos séculos seguiu sendo uma cidade cristã rodeada por muçulmanos, um verdadeiro
baluarte do cristianismo.
Até nossos dias Filadélfia tem seu bispo e uma
população cristã de quase mil almas. Com exceção de Esmirna, todas as outras
Igrejas cristãs da Ásia, fora a de Filadélfia, estão hoje em ruínas. Até hoje
Filadélfia segue mantendo em alto a bandeira da fé cristã.
1. TÍTULOS E
DECLARAÇÕES
Na introdução a esta carta o Cristo ressuscitado é
nomeado com três grandes títulos, cada um dos quais implica uma tremenda
declaração de fé.
(1) É chamado "o Santo". O significado tremendo deste título é que "Santo"
é o nome, título e descrição de Deus (Isaías 6:3; 40:25; 43:15). Em todo o
Antigo Testamento Deus é o Santo, e agora este título é atribuído ao Ressuscitado.
"Santo" significa em hebraico e em grego, aquele que está separado,
aquele que é diferente. Dizer que Jesus Cristo é Santo equivale nada menos que
a dizer que Jesus Cristo compartilha a vida e o ser de Deus.
(2) É chamado "o Verdadeiro". Em grego é alethinós,
que significa real ou autêntico, como oposto ao que está vazio, o que não é
mais que uma semelhança da realidade, o que é um substituto do real. Jesus é
autêntico, real. Ao nos encontrarmos com Jesus Cristo chega ao fim nossa busca
da verdade; os vagos perfis de Deus se convertem em algo do passado; nEle temos
a verdade, a realidade, o próprio Deus.
(3) Ele é “aquele que tem a chave de Davi”. A chave é um símbolo de autoridade, Jesus Cristo é
aquele que possui a autoridade final, a que nada nem ninguém pode questionar.
No Antigo Testamento Ezequias tinha um servo fiel que
se chamava Eliaquim que tinha as chaves da casa do rei, e era o único que podia
abrir a porta para os que desejavam ver o rei (Isaías 22:22). Esta é a imagem
que João tem em mente. Jesus, e somente Ele, tem plena autoridade para permitir
o ingresso à nova Jerusalém, a nova cidade de Davi. Somente Ele pode nos permitir
entrar na presença de Deus.
2. A PORTA
ABERTA
A grande promessa do Cristo ressuscitado aos cristãos
de Filadélfia é que colocou diante deles uma porta aberta que ninguém poderá
jamais fechar. O que significa esta porta aberta?
(1) Pode ser a porta da oportunidade missionária. Paulo, escrevendo suas cartas e falando da tarefa
que o esperava no futuro, diz: “porque uma porta grande e oportuna para o trabalho
se me abriu” (1 Coríntios 16:9 – e ainda 2 Coríntios 2:12; Colossenses 4:3; Atos
14:27). Este significado é particularmente apropriado no caso de Filadélfia,
por estar no caminho que, saindo do porto de Esmirna, atravessava Frígia e alcançava
as zonas mais longínquas da Ásia. Era o caminho que seguia o correio imperial,
via Pérgamo, Trôade, Tiatira e Sardes.
Há duas coisas que surgem desta circunstância.
(a) Há uma
porta aberta de oportunidade missionária diante de cada cristão. Não há necessidade de viajar a lugares longínquos
para cumprir o mandamento de pregar o evangelho. Na própria família, no círculo
das amizades mais íntimas, na própria comunidade há aqueles que necessitam de Cristo
e a quem pode ser anunciado o evangelho salvador. Usar essa porta é ao mesmo
tempo nosso privilégio e nossa oportunidade muito especiais.
(b) No
caminho de Cristo a recompensa pelo trabalho bem feito é mais trabalho a fazer. Filadélfia tinha demonstrado sua fidelidade e a recompensa
por esta era ter maiores oportunidades para continuar servindo a Cristo. Não é
a comodidade do descanso bem merecido, mas sim mais fatiga e trabalhos o que
Cristo nos dá como prêmio.
(2) Sugeriu-se que a porta aberta que está
diante dos cristãos em Filadélfia é o próprio Jesus Cristo. Jesus
disse "Eu sou a porta" (João 10:7, 9). A porta que se abre diante dos
cristãos de Filadélfia pode ser o próprio Cristo, como porta que se abre à
presença de Deus.
(3) Sugeriu-se que a porta é a porta da comunidade
messiânica. Com Jesus Cristo chegou a nova era; foi inaugurado o novo
reino de Davi. Assim como no antigo reino Eliaquim tinha a chave para abrir a
porta que conduzia à presença do rei, assim Jesus Cristo tem as chaves e é Ele
mesmo a porta para todos aqueles que desejem entrar na presença de Deus.
(4) Ainda podemos pensar que a porta da oração é uma entrada a
Deus que está aberta em todo o tempo a todos os homens. Qualquer pessoa
pode entrar pela oração e encontrar-se na presença viva de Deus. E esta é, por
certo, uma porta que ninguém jamais poderá fechar e que Jesus Cristo abriu ao
dar seguranças aos homens com relação ao amor de Deus o Pai.
3. OS
HERDEIROS DA PROMESSA
No versículo 9 a promessa e profecia do Cristo ressuscitado
é que algum dia os judeus, que naquela época caluniavam e perseguiam aos
cristãos, virão e dobrarão seu joelho diante de Cristo. Esta é uma expectativa
muito que encontramos já no Antigo Testamento.
A promessa aparece em repetidas oportunidades no livro
de Isaías. “Também virão a ti, inclinando-se, os filhos dos que te oprimiram; prostrar-se-ão
até às plantas dos teus pés todos os que te desdenharam” (Isaías 60:14 – e
também Isaías 49:23; Zacarias 8:22-23).
A Igreja é o Israel de Deus (Gálatas 6:16). As
promessas que Deus tinha feito a Israel foram herdadas pela Igreja. Agora é à
Igreja que todos os homens, algum dia, oferecerão submissa obediência; e entre eles
estará também os judeus.
Por essa razão a Igreja em Filadélfia devia cuidar
para que todos os seus membros fossem fiéis, pelo menos no princípio. Até o
momento tinham sido fiéis. Os cristãos de Filadélfia deveriam ter atravessado
por alguma prova, da qual emergiram vitoriosos. A fidelidade do cristão deve
alimentar-se da visão de um mundo para Cristo, porque esse mundo depende da
fidelidade com que cada cristão viva sua fé.
4. OS QUE
GUARDAM SÃO GUARDADOS
A promessa de Cristo é que aqueles que saibam guardar
serão guardados (v.10). Jesus Cristo não ficará em dívida com ninguém, pois a
lealdade merece uma recompensa.
No versículo 10, a frase que diz "a palavra de
minha paciência" significa que somos chamados a demonstrar paciência com
base na paciência de Cristo. Cristo oferece-nos um exemplo. Cristo é uma fonte
de inspiração. Devemos andar posto nosso olhar nEle, quem, pela alegria que lhe
tinha sido prometido suportou a cruz, desprezando toda vergonha (Hebreus 12:1-2).
A paciência de Cristo é a garantia de sua identificação conosco quando somos chamados
a suportar com paciência algum sofrimento.
Até no momento em que o mundo tal como os homens estão
acostumados a conhecê-lo desaba em pedaços, os que forem fiéis a Cristo
atravessarão ilesas a destruição para alcançar a glória final. A promessa do
Cristo ressuscitado é que não há nada que possa separar o crente de seu amor.
5. PROMESSA
E ADVERTÊNCIA
No versículo 11 há uma promessa e uma advertência
combinadas. O Cristo ressuscitado diz aqui “que vem logo”. A vinda de Cristo
tem dois significados.
(1) Significa uma advertência para os despreocupados. Jesus mesmo nos contou a parábola do servo ímpio,
que pensou que seu senhor nunca viria e se aproveitou de sua ausência para agir
de maneira incorreta e perversa. Quando o senhor voltou, de maneira repentina e
sem advertência prévia, castigou sua maldade, julgando-o e condenando-o (Mateus
24:48-51 – veja também 2 Tessalonicenses 1:7-9; 1 Pedro 4:5). A vinda do Senhor
serve para advertir aos que pensam que podem fazer o que desejam despreocupadamente.
(2) Significa uma tranquilidade para os oprimidos. Tiago recomenda aos destinatários de sua carta que
tenham paciência, porque o dia da vinda do Senhor se aproxima (Tiago 5:8 – veja
Hebreus 10:37). A ideia é que se os cristãos podem suportar pacientemente um
pouco mais, o dia de seu resgate virá, e logo.
Ninguém sabe quando a eternidade invadirá sua vida e
quando Deus o chamará a comparecer perante sua presença; e isto também deve ser
uma advertência para os que vivem desatentamente, a se prepararem para
encontrar-se com Deus, e um alento para os que sofrem, pois o dia da recompensa
aos que forem fiéis está "perto".
Mas aqui há outra advertência. O Cristo ressuscitado
recomenda aos cristãos em Filadélfia que se apeguem ao que têm, para que outros
não lhes tomem sua coroa (versículo 11). Não se trata de que alguém possa lhes
roubar a coroa que eles têm, mas sim Deus pode tirar-lhes assim como as deu, e
entregá-la a outro, mais digno de levá-la.
Há vários personagens bíblicos que perderam o direito
de ocupar o lugar que Deus lhes tinha atribuído, pois outro demonstrou ser mais
digno desse (Gênesis 25:34; 27:36; Gênesis 49:4, 8; 1 Samuel 16:1, 13; 1 Reis
2:25; Atos 1:25, 26; Romanos 11:11).
Há uma grande tragédia em tudo isto. Deus tem algo
para que cada um de nós fazermos; mas é possível que alguns demonstrem ser
incapazes de desempenhar-se em sua responsabilidade; então a tarefa passa à
mãos de outro; o primeiro perdeu sua coroa. Somente quando andamos bem perto de
Cristo podemos cumprir as tarefas que Deus nos encomendou; e se em nossa tolice
fracassamos, somente a graça perdoadora poderá converter esse tropeço em
princípio de uma nova glória.
6. MUITAS
PROMESSAS
No versículo 12 encontramos as promessas do Cristo
ressuscitado aos que permanecem fiéis a Ele; neste caso são muitas promessas, a
maioria das quais representam imagens vividas que devem ter sido extremamente
significativas para os cristãos em Filadélfia.
(1) O cristão fiel será uma coluna no Templo
de Deus. Uma coluna da Igreja é alguém que recebe a honra e o
reconhecimento de ser um dos elementos humanos em que a Igreja se apoia. Pedro,
Tiago e João eram as colunas da Igreja em Jerusalém, nos tempos primitivos
(Gálatas 2:9).
(2) O cristão fiel "nunca mais sairá dali". É possível que esta expressão mescle partes de pelo
menos dois significados.
(a) Pode ser
uma promessa de segurança. Já vimos
como, durante muitos anos, os habitantes de Filadélfia viveram aterrorizados
por constantes terremotos e para eles a vida era um constante sair e entrar,
num clima de insegurança. A promessa é que com Cristo já não haverá mais
saídas. Para o cristão fiel, existe a promessa de uma serenidade sedentária na paz
que Jesus Cristo pode dar.
(b) Pode
referir-se à firmeza do caráter moral.
Nesta vida até os melhores às vezes agem bem, às vezes mal. Há momentos dos quais
estamos envergonhados. Mas aquele que for fiel terá conquistado o mal e
derrotado o tentador, convertendo a bondade e a justiça na atmosfera normal de
sua vida.
(3) Jesus Cristo escreverá sobre o cristão fiel o nome
de seu Deus. Há várias imagens
que podem estar presentes aqui:
(a) Quando um sacerdote tinha completado suas
obrigações profissionais de maneira fiel durante toda sua vida, os fiéis
honravam sua memória, quando morria, erigindo uma nova coluna no templo onde oficiou,
escrevendo nela seu nome e o nome de seu pai.
(b) Pode ser, também, que se faça referência ao
costume de marcar ao escravo com o nome de seu dono Deus porá sua marca sobre
os que lhe forem fieis. Os fiéis, de uma maneira ou outra, levarão o distintivo
inconfundível de que pertencem a Deus.
(c) Também é possível que tenhamos aqui uma imagem do
Antigo Testamento. Israel levava a marca de Deus, para que todos os homens
soubessem que pertencia a Ele.
(4) Sobre os cristãos fiéis também se inscreverá o nome
da nova Jerusalém, a cidade de
Deus. Este é o direito à cidadania na cidade de Deus que receberão os cristãos
fiéis. Os cristãos fiéis serão cidadãos da cidade e do reino onde sempre se há
de desfrutar da presença direta e pessoal de Deus.
(5) Cristo escreverá um novo nome sobre os cristãos
fiéis. Os habitantes de
Filadélfia sabiam muito bem o que era isso de tomar um novo nome, pois ao logo
da história a própria cidade havia mudado várias vezes de nome. Do mesmo modo,
Jesus Cristo marcará os que forem fiéis a Ele, com um nome novo. Mas no tempo
futuro quando Cristo tiver vencido todos os seus inimigos definitivamente, seus
seguidores fiéis levarão a marca distintiva dos que a Ele pertencem e, portanto
compartilham sua vitória e sua honra.
(Adaptado William Barclay)

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