28 de jun. de 2016

A Essência da Palavra


Texto: 1 Pedro 1.22-25 - Mateus 22.23-30
Tema: Transpondo a Palavra – Entender e Aplicar hoje a Essência dos ensinos da Palavra.

Introdução:
·         Ler a Bíblia é voltar no tempo, para um contexto que não conhecemos (entre o primeiro livro – Gênesis – e último – Crônicas - do Velho Testamento há uma lacuna de 1040 anos. Somando os 400 anos de silêncio, e os dois mil anos depois de Jesus, estamos diante de um texto de três mil e quinhentos anos).
·         Estas diferenças culturais se tornam barreiras para a compreensão da Palavra quando há o choque entre a cultura do mundo bíblico e do moderno. Mas este choque tira a autoridade das Escrituras?

·         Precisamos considerar o papel da Hermenêutica - interpretação da Bíblia. Nosso dilema ao ler a Bíblia é como entender ela corretamente. Assim devemos estudar com base no contexto cultural e linguístico que foi escrito, mas também trazê-lo para nossa vida hoje.
·         A transposição das verdades da Bíblia do seu contexto histórico e cultural para nossa época, pode ser comparada a transposição do Rio São Francisco, que é, levar a água para lugares secos. Ao ler a Bíblia, trazemos os ensinos da Bíblia para gerar vida ao nosso coração hoje.

1. TEMOS A NOSSA PRÓPRIA CULTURA. Rom 12.1-2
·         Cultura é tudo o que recebemos – crenças, valores, costumes, tradições - e transmitimos – jeito de pensar, falar, agir, julgar, vestir, comer, etc. As vezes esta cultura escraviza. Por isso a leitura da Bíblia tem os óculos da nossa cultura.
·         Isso influencia nossa leitura da Bíblia, pois lemos com as expectativas pré-estabelecidas daquilo que queremos que Deus nos diga, e na maioria das vezes queremos ser confortados e não confrontados por Deus.
·         Isso gera uma igreja infiel, conformada pelos padrões do mundo, do secularismo, seguindo um estilo de vida mundano, vazio e miserável. A igreja não está sendo influenciada pela Palavra, moldada pelos valores do Reino.
·         Essa cegueira no passado produziu as cruzadas, torturas, ausência missionária. No presente produz falta de sensibilidade e compaixão pelos pobres, aceitação do uso de armas. Devemos reconhecer que nossa cultura é cega e surda, mas Deus pode abrir nossos olhos e ouvidos para sua Palavra.

2. A BÍBLICA TEM A SUA CULTURA. Oséias 3
·         Cada palavra de Deus se expressou em um contexto cultural (antigo Oriente Médio, judaísmo da palestina e Império Romano helenizado), será que isso a torna desatualizada? NÃO. Uma mesma pessoa pode usar vários tipos de roupas dependendo da ocasião, mas a pessoa é a mesma.
·         Assim é com a Bíblia, devemos diferenciar a essência da revelação que não muda – ensino que tem validade eterna e universal - da atmosfera cultural em que foi dada – essa pode mudar.
·         Como reagir a uma passagem revestida pela cultura:
o   Rejeição total. Se a cultura está desatualizada, o ensino é irrelevante, nada tem a ver comigo. Exemplos: a questão da virgindade; da prática do dízimo; ter um mestre que nos discípulo. Ilustração: como jogar fora o bebê junto com a água do banho. Não reaja assim.
o   Levar ao pé da letra. Se é a Palavra deve ser seguido exatamente como está escrito. Exemplos: casamento da filha mais velha primeiro; pisar em um locar que você quer conquistar; ter mais de uma mulher. Ilustração: ficar com o bebê e a água do banho juntos. Não reaja assim.
o   Aplicar a essência. Identificar a revelação essencial do texto, separar da cultura original e aplicar ao nosso contexto. Ex. Ficar com o bebê e trocar a água do banho. Assim devem reagir diante de passagem revestidas da cultura antiga.

3. EXEMPLOS DE INTERPRETAÇÃO
·         É importante ressaltar que a Bíblia leva em conta a doutrina, a ética, a fé e o comportamento. Precisamos distinguir entre a verdade que está sendo afirmada e os termos culturais em que ela é apresentada. Devemos proclamar as verdades bíblicas em termos que as pessoas entendam.
·         João 13.14 – O Lava Pés
o   Lavar os pés era uma prática cultural comum. Quando o convidado chegava na casa, um escravo lavava seus pés. Hoje isso mudou, no máximo pedimos se quer lavar as mãos ou a senha do wifi.
o   Não vamos rejeitar o costume, tão pouco seguir literalmente, mas entender que Jesus estava ensinando que devemos servir uns aos outros, assim, nenhum serviço é humilhante demais que não possamos fazer.
·         1 Cor 8.1ss – Comer carne sacrificada
o   A questão era se os novos discípulos recém saídos da idolatria pagã podiam ou não comer carnes que foram oferecidas a ídolos antes de ser colocadas no mercado.
o   O que estava em jogo era a consciência. Para Paulo, que tinha uma consciência madura, isso não tinha problema, mas por respeito aos novos, ele decidiu se abster de comer.
o   Pra nós há dois princípios relevantes:
§  A consciência é sagrada. Ela precisa ser educada, mas sendo fraca, não deve ser violada.
§  O amor limita a liberdade. Paulo tinha liberdade para comer, mas privou-se por amor e consideração aos que ficariam ofendidos.
·         1 Tim 2.12 – Posição e Papel da Mulher
o   As proibições de Paulo sobre a mulher ensinar e exercer autoridade sobre o marido, assim como as recomendações para usar o véu e ficar em silêncio na igreja (1Cor 11.4-10; 14.34-35).
o   Duas afirmações:
§  Precisamos entender que os sexos são iguais (Gen 1.26-28) em valor e dignidade perante Deus por criação e redenção, pois ambos têm a imagem e semelhança divina e foram resgatados por Jesus.
§  Os sexos se completam (Gen 2.18-24), mas não mudam seus papeis. Paulo afirmou o princípio da liderança masculina, a partir de Genesis 2, onde a mulher foi feita depois do homem e a partir dele e para ele.
o   Duas Perguntas:
§  O que é “ser cabeça”? Segundo Efésios 5.21-32, é ter responsabilidade e não autoridade, implica sacrifício, serviço e cuidado, não o controle. O propósito de ser cabeça não é inibir ou esmagar, mas sim, facilitar, criar condições de amor e segurança.
§  Como se aplica o “ser cabeça”? Não é proibindo o exercício ministerial feminino, mas fazendo distinção entre:
·         Autoridade e Submissão. Este princípio é permanente, por ser criacional.
·         Ensino e Silêncio. No primeiro século é silêncio e o véu eram símbolos de submissão à liderança masculina. Hoje as mulheres recebem a mesma educação que os homens, e num contexto menos autoritário.
·         Enfim, as mulheres podem ensinar a homens estando elas debaixo da autoridade da Escritura, em espírito de humildade e mansidão e como membro de uma equipe encabeçada por um homem.

CONCLUSÃO:
·         Só podemos fazer uma transposição cultural quando o texto conter o ensino doutrinário ou ético (o serviço aos outros) exposto por uma expressão social ou cultural (lavar os pés). Fora disso, não pode ser usada para justificar mais nada.
·         Transposição cultural não é uma concessão ao liberalismo, não é justificativa para escapar de textos difíceis, nem de rejeitar a autoridade da Bíblia.

·         É uma maneira saudável de obedecer de forma significativa a totalidade das escrituras.

STOTT, John. Ouça o Espírito, Ouça o Mundo

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