Tema: Transpondo a Palavra – Entender e Aplicar hoje a Essência dos ensinos
da Palavra.
Introdução:
·
Ler a Bíblia é voltar no tempo, para um contexto que não conhecemos (entre
o primeiro livro – Gênesis – e último – Crônicas - do Velho Testamento há uma
lacuna de 1040 anos. Somando os 400 anos de silêncio, e os dois mil anos depois
de Jesus, estamos diante de um texto de três mil e quinhentos anos).
·
Estas diferenças culturais se tornam barreiras para a compreensão da
Palavra quando há o choque entre a cultura do mundo bíblico e do moderno. Mas
este choque tira a autoridade das Escrituras?
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Precisamos considerar o papel da Hermenêutica - interpretação da
Bíblia. Nosso dilema ao ler a Bíblia é como entender ela corretamente. Assim
devemos estudar com base no contexto cultural e linguístico que foi escrito,
mas também trazê-lo para nossa vida hoje.
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A transposição das verdades da Bíblia do seu contexto histórico e
cultural para nossa época, pode ser comparada a transposição do Rio São
Francisco, que é, levar a água para lugares secos. Ao ler a Bíblia, trazemos os
ensinos da Bíblia para gerar vida ao nosso coração hoje.
1. TEMOS A
NOSSA PRÓPRIA CULTURA. Rom 12.1-2
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Cultura é tudo o que recebemos – crenças, valores, costumes, tradições
- e transmitimos – jeito de pensar, falar, agir, julgar, vestir, comer, etc. As
vezes esta cultura escraviza. Por isso a leitura da Bíblia tem os óculos da
nossa cultura.
·
Isso influencia nossa leitura da Bíblia, pois lemos com as expectativas
pré-estabelecidas daquilo que queremos que Deus nos diga, e na maioria das
vezes queremos ser confortados e não confrontados por Deus.
·
Isso gera uma igreja infiel, conformada pelos padrões do mundo, do
secularismo, seguindo um estilo de vida mundano, vazio e miserável. A igreja
não está sendo influenciada pela Palavra, moldada pelos valores do Reino.
·
Essa cegueira no passado produziu as cruzadas, torturas, ausência
missionária. No presente produz falta de sensibilidade e compaixão pelos
pobres, aceitação do uso de armas. Devemos reconhecer que nossa cultura é cega
e surda, mas Deus pode abrir nossos olhos e ouvidos para sua Palavra.
2. A BÍBLICA TEM
A SUA CULTURA. Oséias 3
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Cada palavra de Deus se expressou em um contexto cultural (antigo
Oriente Médio, judaísmo da palestina e Império Romano helenizado), será que
isso a torna desatualizada? NÃO. Uma mesma pessoa pode usar vários tipos de
roupas dependendo da ocasião, mas a pessoa é a mesma.
·
Assim é com a Bíblia, devemos diferenciar a essência da revelação que
não muda – ensino que tem validade eterna e universal - da atmosfera cultural
em que foi dada – essa pode mudar.
·
Como reagir a uma passagem revestida pela cultura:
o
Rejeição total. Se a cultura está
desatualizada, o ensino é irrelevante, nada tem a ver comigo. Exemplos: a
questão da virgindade; da prática do dízimo; ter um mestre que nos discípulo. Ilustração:
como jogar fora o bebê junto com a água do banho. Não reaja assim.
o
Levar ao pé da letra. Se é a
Palavra deve ser seguido exatamente como está escrito. Exemplos: casamento da
filha mais velha primeiro; pisar em um locar que você quer conquistar; ter mais
de uma mulher. Ilustração: ficar com o bebê e a água do banho juntos. Não reaja
assim.
o Aplicar a essência. Identificar a revelação essencial do texto, separar da cultura
original e aplicar ao nosso contexto. Ex. Ficar com o bebê e trocar a água do
banho. Assim devem reagir diante de passagem revestidas da cultura antiga.
3. EXEMPLOS DE
INTERPRETAÇÃO
·
É importante ressaltar que a Bíblia leva em conta a doutrina, a ética,
a fé e o comportamento. Precisamos distinguir entre a verdade que está sendo
afirmada e os termos culturais em que ela é apresentada. Devemos proclamar as
verdades bíblicas em termos que as pessoas entendam.
·
João 13.14 – O Lava Pés
o
Lavar os pés era uma prática cultural comum. Quando o convidado chegava
na casa, um escravo lavava seus pés. Hoje isso mudou, no máximo pedimos se quer
lavar as mãos ou a senha do wifi.
o
Não vamos rejeitar o costume, tão pouco seguir literalmente, mas
entender que Jesus estava ensinando que devemos servir uns aos outros, assim,
nenhum serviço é humilhante demais que não possamos fazer.
·
1 Cor 8.1ss – Comer carne sacrificada
o
A questão era se os novos discípulos recém saídos da idolatria pagã
podiam ou não comer carnes que foram oferecidas a ídolos antes de ser colocadas
no mercado.
o
O que estava em jogo era a consciência. Para Paulo, que tinha uma
consciência madura, isso não tinha problema, mas por respeito aos novos, ele
decidiu se abster de comer.
o
Pra nós há dois princípios relevantes:
§
A consciência é sagrada. Ela precisa ser educada, mas sendo fraca, não
deve ser violada.
§
O amor limita a liberdade. Paulo tinha liberdade para comer, mas
privou-se por amor e consideração aos que ficariam ofendidos.
·
1 Tim 2.12 – Posição e Papel da Mulher
o
As proibições de Paulo sobre a mulher ensinar e exercer autoridade
sobre o marido, assim como as recomendações para usar o véu e ficar em silêncio
na igreja (1Cor 11.4-10; 14.34-35).
o
Duas afirmações:
§
Precisamos entender que os sexos são iguais (Gen 1.26-28) em valor e dignidade
perante Deus por criação e redenção, pois ambos têm a imagem e semelhança
divina e foram resgatados por Jesus.
§
Os sexos se completam (Gen 2.18-24), mas não mudam seus papeis. Paulo
afirmou o princípio da liderança masculina, a partir de Genesis 2, onde a
mulher foi feita depois do homem e a partir dele e para ele.
o
Duas Perguntas:
§
O que é “ser cabeça”? Segundo Efésios 5.21-32, é ter responsabilidade e
não autoridade, implica sacrifício, serviço e cuidado, não o controle. O
propósito de ser cabeça não é inibir ou esmagar, mas sim, facilitar, criar
condições de amor e segurança.
§
Como se aplica o “ser cabeça”? Não é proibindo o exercício ministerial
feminino, mas fazendo distinção entre:
·
Autoridade e Submissão. Este princípio é permanente, por ser criacional.
·
Ensino e Silêncio. No primeiro século é silêncio e o véu eram símbolos
de submissão à liderança masculina. Hoje as mulheres recebem a mesma educação
que os homens, e num contexto menos autoritário.
·
Enfim, as mulheres podem ensinar a homens estando elas debaixo da
autoridade da Escritura, em espírito de humildade e mansidão e como membro de
uma equipe encabeçada por um homem.
CONCLUSÃO:
·
Só podemos fazer uma transposição cultural quando o texto conter o
ensino doutrinário ou ético (o serviço aos outros) exposto por uma expressão
social ou cultural (lavar os pés). Fora disso, não pode ser usada para
justificar mais nada.
·
Transposição cultural não é uma concessão ao liberalismo, não é
justificativa para escapar de textos difíceis, nem de rejeitar a autoridade da
Bíblia.
·
É uma maneira saudável de obedecer de forma significativa a totalidade
das escrituras.
STOTT, John. Ouça o Espírito, Ouça o Mundo

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